Louquinha por Capetinha
Continho de Cyro de
Mattos
Quem quiser que prove
Do danado do amor,
Ora é riso, ora é mel,
Ora arde com dor.
I
Noivo de outra
ele, prestes a casar.
Ela nova,
amava o namorado mais que nunca.
Louquinha para se entregar a ele mais uma vez. Queria demonstrar que era
perfeita, insubstituível. Tentar, quem sabe, fazer com que ele desistisse do
casamento.
II
Após alguns minutos de louca paixão, ele sai do quarto só de cueca.
Grita aterrorizado por socorro. Segura o capetinha, que sangra bastante. A dor
é tanta que esquece ter vindo no seu carro. Pede ajuda a um casal jovem que
acaba de chegar.
III
- Por favor, estanque esse sangue, enfermeira,
será que arrancou algum pedaço? – chora, grita. Os policiais de plantão na sala
da enfermaria do pronto-socorro incrédulos. A enfermeira, nervosa, sem saber o
que fazer para acalmá-lo.
IV
Atendido pelo
médico plantonista. Menos agitado, ao
saber que o seu insubstituível capetinha
não tinha sido mutilado.
V
A
radiopatrulha trouxe a namorada aflita. Aguardava o namorado na sala de
recepção, chorando e alegando que não fizera aquilo por maldade.
VI
- Senhor
policial, não coloque o incidente no livro de ocorrência, a imprensa vai
divulgar; também não quero nada de queixa, nem delegacia, foi minha namorada
que começou a beijá-lo, e daí pedi a ela que desse só uma mordidinha, pedi só
de brincadeira, só que ela mordeu com tanta força, que veja o que fez,
quase arranca.
VII
Nomes não foram divulgados, nem
endereços.
VIII
No bairro onde ele mora, já ocorreram várias
brigas, bate-bocas, discussões entre os
noivos. As noivas teimam em ver o
ardente capetinho ali embaixo das
pernas do noivo, cujo melhor desempenho é quando se transforma em fereza, verificando todas elas se está ou não ferido, como resultado de
namoro assanhado com mulher inconsequente, para adotarem as medidas cabíveis,
que o caso prontamente exige.
IX
Bom anotar
que no hospital os dois se abraçaram e confirmaram a verdade do ocorrido.
Alegaram que foi tudo por causa do amor.
X
Não deixaram de voltar ao motel, agora
casados.
XI
Cada vez mais
felizes.
*PS - Qualquer
coincidência do fato com pessoas vivas ou mortas não é mera coincidência . (CM)
Cyro de Mattos - Escritor
e poeta. Premiado no Brasil, Portugal, Itália e México. Publicado nos Estados
Unidos, Dinamarca, Rússia, Portugal, Espanha, Itália, França e Alemanha. Membro
efetivo da Academia de Letras da Bahia. Doutor Honoris
Causa pela Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC
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