Máximas sobre o ato de escrever
No começo da carreira, quando tentava de todas as maneiras
absorver o máximo possível de tudo aquilo que julgava que um jornalista deveria
saber - senso de discernimento, curiosidade, teimosia, espírito crítico,
escrúpulo, respeito, humildade e sobretudo capacidade de respeitar a língua e
por intermédio dela transmitir ideias -, tive o privilégio de conviver com um
gênio do vernáculo.
Ele era copidesque --aquele que dá a forma final ao texto jornalístico-- dos então famosos editoriais do jornal "O Estado de S. Paulo", famosos principalmente por conta da linguagem erudita e da forma apuradíssima. Pois bem, Mário Leônidas Casanova era o responsável pela precisão e erudição daquele pedaço nobre do jornal. E, num tempo em que começava a germinar a transição da máquina de escrever para o computador, ele perpetrava seus textos com uma magnífica caneta Parker. Tinteiro, obviamente.
O homem era uma coisa. "Casanova, a palavra àquele leva crase", perguntava eu com a ignorância e impertinência típica dos focas (jornalistas em começo de carreira). "A crase é muito mais que uma manchinha sobre a letra a", dizia ele, antes de me mandar sentar e pespegar uma aula completa sobre esse acento que pouca gente sabe colocar no lugar certo (eu arrisco dizer que aprendi a usá-lo naquela época...).
Mas uma das máximas do Casanova era: "Meu filho, lauda em branco aceita tudo". Dizia isso para condenar a quantidade de sandices que se escreviam, e que certamente se escrevem até hoje, seja lá qual for a intenção.
Mas por que pensar agora no velho e generoso Casanova, que era, além de tudo, um conhecedor profundo do chorinho, esse gênero musical tão maravilhoso quanto relegado a um injusto esquecimento no cenário da música deste país?
Porque recebi de uma amiga uma lista de máximas sobre a escrita que o faria sorrir por trás daqueles vastos bigodões, como que a afirmar: "É o que sempre digo...".
Esta lista vai agora publicada de bate-pronto, por isso pode eventualmente conter imprecisões, mas corro o risco porque ela é sem dúvida muito interessante.
São descrições do ato de escrever:
Ele era copidesque --aquele que dá a forma final ao texto jornalístico-- dos então famosos editoriais do jornal "O Estado de S. Paulo", famosos principalmente por conta da linguagem erudita e da forma apuradíssima. Pois bem, Mário Leônidas Casanova era o responsável pela precisão e erudição daquele pedaço nobre do jornal. E, num tempo em que começava a germinar a transição da máquina de escrever para o computador, ele perpetrava seus textos com uma magnífica caneta Parker. Tinteiro, obviamente.
O homem era uma coisa. "Casanova, a palavra àquele leva crase", perguntava eu com a ignorância e impertinência típica dos focas (jornalistas em começo de carreira). "A crase é muito mais que uma manchinha sobre a letra a", dizia ele, antes de me mandar sentar e pespegar uma aula completa sobre esse acento que pouca gente sabe colocar no lugar certo (eu arrisco dizer que aprendi a usá-lo naquela época...).
Mas uma das máximas do Casanova era: "Meu filho, lauda em branco aceita tudo". Dizia isso para condenar a quantidade de sandices que se escreviam, e que certamente se escrevem até hoje, seja lá qual for a intenção.
Mas por que pensar agora no velho e generoso Casanova, que era, além de tudo, um conhecedor profundo do chorinho, esse gênero musical tão maravilhoso quanto relegado a um injusto esquecimento no cenário da música deste país?
Porque recebi de uma amiga uma lista de máximas sobre a escrita que o faria sorrir por trás daqueles vastos bigodões, como que a afirmar: "É o que sempre digo...".
Esta lista vai agora publicada de bate-pronto, por isso pode eventualmente conter imprecisões, mas corro o risco porque ela é sem dúvida muito interessante.
São descrições do ato de escrever:
"Escrever é fácil: você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca ideias." (Pablo Neruda)
"Escrever é, simplesmente, uma maneira de falar sem que nos interrompam." (Sofocleto)
"É preciso escrever o mais possível como se fala e não falar demais como se escreve." (Sainte-Beuve)
"O ato de escrever é a arte de sentar-se numa cadeira." (Sinclair Lewis)
"Somos todos escritores. Só que uns escrevem, outros não." (José Saramago)
"Escrever é ter coisas para dizer." (Darcy Ribeiro)
"Perdoe-me, senhora, se escrevi carta tão comprida. Não tive tempo de fazê-la curta." (Voltaire)
"Reescrevi 30 vezes o último parágrafo de `Adeus às Armas´ antes de me sentir satisfeito." (Ernest Hemingway)
"Uma história se conta, não se explica." (Jorge Amado)
"Escrevo para que meus amigos me amem ainda mais." (Gabriel García-Márquez)
"Quem não lê não escreve." (Wander Soares)
"Cada um escreve do jeito que respira. Cada um tem seu estilo. Devo minha literatura à asma." (Fabrício Carpinejar)
"Escrever é um ato de liberdade." (Martin Amis)
"Escrever é uma forma de a voz sobreviver à pessoa." (Margaret Atwood)
"De escrever para marmanjos já me enjoei. Bichos sem graça. Mas para crianças um livro é todo um mundo." (Monteiro Lobato)
"Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer é porque um dos dois é burro." (Mário Quintana)
"Existem três regras para escrever ficção. Infelizmente ninguém sabe quais são elas." (W. Somerset Maugham)
"O autor escreve apenas metade de um livro. A outra metade fica por conta do leitor." (Joseph Conrad)
"Corrigir uma página é fácil, mas escrevê-la, ah, amigo! Isso é difícil." (Jorge Luis Borges)
"Escrever não é fácil ou difícil, mas possível ou impossível." (Camilo José Cela)
"Escrever é deixar uma marca. É impor ao papel em branco um sinal permanente, é capturar um instante em forma de palavra." (Margaret Atwood)
"Eu escrevo como se fosse salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida." (Clarice Lispector)
"Para escrever bem é preciso uma facilidade natural e uma dificuldade adquirida." (Joseph Joubert)
"Escrever não é nada mais senão ter o tempo de dizer: estou morrendo." (Gaëtan Picon)
"Uns escrevem para salvar a humanidade ou incitar lutas de classes, outros para se perpetuar nos manuais de literatura ou conquistar posições e honrarias. Os melhores são os que escrevem pelo prazer de escrever." (Lêdo Ivo)
"Escrever é sacudir o sentido do mundo." (Roland Barthes)
*Reproduzido de http://www1.folha.uol.com.br/
ABAIXO, chamada e imagem publicadas na capa na edição que trouxe este Luiz Caversan ao Tyrannus
escrever sobre o ato de escrever. Eis o que temos hoje para servir aos
internautas visitantes do Tyrannus. De autoria do cara da foto abaixo,
experiente jornalista, é a crônica da hora, encorpada por uma lista de frases
de diversos escritores a respeito do ofício da escrita. Particularmente, gosto
de algo que ouvi no milênio passado, cuja autoria me esqueci: "quem lê
muito escreve bem". Claro que acredito nisso assumindo o grave pecado da
generalização...
Luiz Caversan é jornalista e sua produção pode ser conferida
no endereço http://blogdocaver.com.br/
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