"Depois de uma certa idade, a mulher se torna
invisível".
A revelação, feita mais em tom de chacota do que de
desabafo, é de uma amiga querida, para quem, a partir dos 40 ou dos 50, ou
quando deixa de exibir certo atributos "indispensáveis" pelos padrões
convencionais de beleza, a mulher torna-se invisível.
"Alguns homens, mesmo maduros, e certas jovens parecem
esquizofrênicos, olham através da gente como se não existíssemos".
É feia esta amiga? Não acho.
Mas minha opinião não importa, diz ela: pelos padrões
"oficiais", e assim como milhares de outras pessoas normais, ela
deixou de fazer parte da paisagem para determinado tipo de olhar, garante.
Talvez minha amiga exagere um pouco, mas faz muito sentido o
que ela diz. Porque também são invisíveis para quem não quer ver os idosos, as
crianças remelentas abandonadas nas esquinas, os moradores de rua, os pedintes
em geral, os desvalidos que abundam nesta e em tantas outras cidades.
Seres inconstatáveis que talvez só se convertam em realidade
para os funcionários da limpeza pública que vez ou outra passam recolhendo seus
andrajos e jogando água e desinfetante com um caminhão pipa para expulsar as
suas inconveniências.
Pensando bem, há outras categorias de invisíveis, entre as
quais os deficientes físicos, as crianças com problemas de desenvolvimento
mental, os pobres, os pardos e os diferentes em geral, aqueles que, diante da
parvoíce que assola nossos tempos modernos, teimam em existir.
Apesar de todas as evidências...
Luiz Caversan é jornalista e consultor
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