24 de Março de 2018
Pe. David Francisquini*
Pilatos, o governador romano que cometeu o crime mais
monstruoso de toda a História, não foi movido a praticá-lo por qualquer ódio
ideológico; tampouco visava à conquista de novas riquezas, nem a comprazer a
alguma Salomé. Neste particular difere de Herodes, que para salvaguardar seu
trono, seu bem-estar e suas riquezas, perpetrou covardemente a matança dos
Santos Inocentes.
Aliás, os grandes tiranos da História — Lenine, Stalin,
Hitler, entre outros — por ambição ideológica e ódio a Deus, à Igreja e à Fé, inundaram
a Terra com o sangue de mártires.
Pilatos, mesmo afirmando que não encontrou crime algum em
Nosso Senhor Jesus Cristo, entretanto O condenou. O que o teria movido?
Plinio Corrêa de Oliveira considera numa de suas meditações
sobre a Via Sacra que Pilatos foi levado a condenar o Justo pelo receio de
desagradar a César Augusto. Portanto, não queria complicação política que
pudesse indispor o povo judeu contra o jugo romano. Pilatos foi mole,
indolente, numa palavra, cúmplice daquela pérfida orquestração contra a vida de
Nosso Senhor.
Ao querer contemporizar com a mentalidade que grassava no
povo judeu, pareceu-lhe que condenando Nosso Senhor à flagelação e à coroação
de espinhos, contentaria com isso os judeus, livrando-O da sentença de morte.
Utilizou-se da política característica dos covardes, isto é,
de “ceder para não perder”, sempre condenada ao fracasso mais rotundo. Depois
de flagelado e “coroado”, Pilatos apresentou Jesus à populaça açulada, mas ela
não se contentou e exigiu do governador a morte do Justo.
Grande lição. Quanto mais se cede, mais o inimigo prevalece.
Em muitas ocasiões, é preciso saber dizer um “não” categórico, pois não se pode
fazer concessões, nem mesmo contemporizar com o mal, pois entre a verdade e o
erro, entre o bem e o mal há um ódio irreconciliável. Não há paz entre os que
são de Deus e os que são da serpente, entre a raça da Virgem e a do demônio.
Pilatos não quis seguir a via da verdade, da inocência, as
regras de um julgamento reto e justo, mas quis ajustar a verdade ao erro, a
justiça à mentira e à iniquidade. Com o gesto infame de “lavar as mãos”, quis
isentar-se da culpa pelo sangue inocente que seria derramado. E para estar bem
com todos, entregou Nosso Senhor ao populacho para ser crucificado.
Partindo de um governador romano que na condição de juiz
reprovasse o Inocente, caberia apenas uma condenação: a morte de cruz, pois não
podia haver um crime mais ignominioso e que causasse maiores sofrimentos do que
esse.
Santo Tomás afirma que o Homem-Deus quis morrer
ostensivamente pregado na cruz, pois entre todos os gêneros de morte, nenhum
era mais execrável. Ele o fez para ostentar como o pecado é ignominioso.
Esse gênero de morte foi conveniente por excelência para a
satisfação dos pecados de nossos primeiros pais, por terem comido do fruto da
árvore contra a vontade de Deus. Convinha que, para satisfazer esse pecado e
obedecer à vontade do Padre Eterno, Cristo consentisse em ser pregado no
madeiro para recuperar o que Adão perdeu por desobediência.
A sua divina presença santificou a Terra. Andou sobre ela
para difundir o Evangelho e operar estupendos milagres, purificando-a com o
preciosíssimo sangue vertido. Ao ser elevado na Cruz, santificou o ar que
envolvia a Terra e, assim, atraiu a Si todas as coisas.
A figura da cruz, diz Santo Tomás, ao se expandir de um
centro único em quatro extremos opostos, significa o poder e a providência de
Nosso Senhor esparsos por toda parte, que dela pendente com uma mão atrai o
povo fiel e com a outra o povo pagão.
Ao ser condenado à morte injusta na cruz, Jesus Cristo tinha
escolhido esse gênero de morte para que fosse o Mestre de todas as dimensões —
da largura, da altura, do comprimento e da profundidade —, como símbolo das
boas obras, da estabilidade e da perseverança, da esperança perfeita e da graça
gratuita.
Como Mestre da Verdade, prega em sua Cátedra, ou seja, a
Cruz: “Quem quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e
siga-me”.
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(*) Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria –
Cardoso Moreira (RJ).
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