BORDO DO PEDRO II
22º DIA
Hotel del Plata.
Hospedo-me.
Visitas aos correspondentes de Castro C., que me receberam
carinhosamente, facilitando-me tudo nesta grande metrópole.
Banco do Brasil. Carta de crédito. Peso, aqui já não vale o
mil réis, é preciso cambiá-lo.
Sou brasileiro-estrangeiro.
Embaixador do Brasil.
Facilidades, gentilezas, camaradagens.
Resolvo demorar-me aqui até o dia trinta
Em oito dias
observarei alguma coisa.
Vejo, analiso, estudo, comparo, deduzo.
E pelo que observei,
até agora nada que se compare ao meu país.
Felicito-me em ser brasileiro.
Parabéns a mim mesmo.
......
Gente estranha, língua estranha, comidas exóticas.
Cardápio em francês...
Pensava que era somente costume brasileiro.
Gente antipática, carregadores, garçons exploradores...
Passeio com o secretário da Delegação do Brasil, o Dr. Albuquerque.
- Avenida de Maio, Avenida Alvear,
Faculdade de Ciências Médicas. Calle – Flóridas.
À noite teatro Colon, representação do Fausto por uma
Companhia lírica italiana.
Luxo oriental.
Senhoras elegantíssimas.
Cavalheiros irrepreensíveis.
Cassino.
Tangos dolentes e orquestras típicas.
Luzes, champagne, muito jogo, muita perdição.
Danças lascivas.
Mulheres “muchachas” semi-nuas...
Impudentes, velhacas, matreiras.
Vendem tudo:
Alma, corpo, sentimentos.
Tudo podre, tudo vil, tudo material.
É a vida com todas as suas nuances e com todos os seus
contrastes.
Cegos a conduzirem cegos.
Hipócritas a se fazerem de santos.
Pobres a se fazerem de ricos.
Ridículos sem o saberem nem perceber.
E a morte os espreitando, como se fora imensa furna a espera-los
na passagem, para atirá-los aos seus
abismos...
E a vida continua...
E a morte ceifa...
Os dias sucedem as
noites.
Sempre os mesmos panoramas,
as mesmas ilusões
os mesmos sonhos
e a dura realidade afinal...
(AQUARELAS E RECORDAÇÕES Capítulo XXII)
Francisco Benício dos Santos
* * *
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