Aprendendo com os lírios
Não pretendo aqui competir com o grandioso Érico Veríssimo
na sua obra Olhai os Lírios do Campo, a minha humilde intenção é como ele,
beber da fonte original o último discurso de Jesus que ficou conhecido como o
sermão do monte. Na condição de um Mestre por Excelência ministrou suas
preciosas lições. Ele não procedeu como um teólogo, dogmático ou filósofo, mas
como Mestre por Excelência.
Sua linguagem era acessível e atualizada, como se vê no
nosso texto: “Olhai para os lírios do campo como eles crescem.” Os olhos são as
janelas que nos põem em contato com o mundo. Estima-se que oitenta por cento de
tudo que nosso cérebro armazena é acumulado através da visão. Do alto da
montanha, onde se achava como observador da natureza, podia descortinar e
apreciar a planície com seus lírios formosos e para eles chamarem a atenção dos
seus ouvintes.
Olhai, observai atentamente, e numa reflexão demorada sobre
a vida dessa planta encontraremos o remédio, a cura, para nossas ansiedades
(ansiedade quer dizer estrangulamento) e preocupações que nos acabrunham na
luta de cada dia.
Se as próprias pedras do reino mineral chamam e despertam a
consciência humana, os lírios que são de um reino onde a vida se distingue com
sinais mais claros, oferecem para quem tem olhos para ver, lições objetivas
para as quais devemos atentar bem.
“Olhai como crescem” no seu crescimento, na sua forma bela e
atraente, na sua utilidade os lírios falam algumas verdades:
1. A sua naturalidade e simplicidade encantadoras,
trabalham, mas sem angústia. A atividade que desenvolvem e sem inquietação. Os
que andam inquietos e preocupados com a maneira de se apresentarem na
sociedade, com a solução rápida de seus problemas, olhem para a sua
simplicidade, para a sua vida sem artifícios, sem afetação, sem pressa. A
natureza não procede por saltos bruscos há na vida dessa planta uma
exemplificação dessa verdade. Os dias hodiernos na vida complicada do nosso
século neurótico em que muitos são dominados pela ambição de subir depressa,
afastando-se do caminho reto do dever; A mídia noticia escândalos na
administração pública, a cada momento, governantes que pregam inverdades,
mascaram dados estatísticos, propagandas irreais.
O governo deve aprender a olhar os lírios. Não adianta se
condoer com o passado, não adianta ansiedade, pois esta estrangula o amanhã que
a Deus pertence. São bases populares que de um certo modo vão reafirmando
verdades universais e irrevogáveis.
2. Crescem e tomam uma forma luxuriante e bela. “Nem Salomão
com toda sua glória e magnificência, se vestiu como eles.” Que esplendor! E
vivem no vale onde Jesus do alto os contemplou. Em qualquer esfera de atividade
ou posição social, mesmo no vale ou nos lugares mais obscuros o cidadão pode
ser um esteta, e exornar o seu caráter de qualidades finas e nobres virtudes.
Os lírios crescem, e, além de se tornarem belos, espalham um perfume suave
mesmo no charco e entre espinhos. Falam eles, por esse perfume que derramou ao
redor de si, de uma vida que não se isola, de uma vida útil, altruísta, de
bondade, que se distribui. Os lírios não vivem só para si, mas para perfumar o
ambiente. A vida deve ser comunicativa em função da comunidade e do grupo e não
do indivíduo apenas. O apóstolo Paulo preconiza este modo de viver quando diz:
“ninguém busque o proveito próprio, antes cada um o que é de outrem” ninguém
vive só para si. O interesse social deve estar acima do interesse próprio.
3. Os lírios crescem até chegar ao ápice. Ai está a
etmologia da palavra “auksano” chegar ao auge, atingir o fim supremo da vida. Não
é outra a finalidade da vida humana, a maturidade plena.
O Mestre por Excelência nos desafia a examinar os lírios do
campo e prontamente nos convida a olhar a vida do rei Salomão. A conclusão que
chega o mestre foi espetacular a de que a nossa opção deve ser a do modelo dos
lírios e não a maneira grandiosa do rei! Viver o estilo de Jesus. E recomeçar
na manjedoura, viajar em jumentinho, optar pelo jardim, assumir a cruz como
norma e conduta, um jeito de amar e construir a pacificação.
O mundo hodierno espera de nós três palavras expressivas:
receber, crescer e dar. Esta é a lição dos lírios.
Agenilda Palmeira
Professora e Membro da Academia Grapiúna de Letras (AGRAL).
Itabuna – Bahia.
E-Mail: nildinh@hotmail.com
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