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No
aeroporto Zélia e eu aguardamos Neruda que, estando no Brasil, vem passar o fim
de semana conosco na Bahia, matar saudades. Esbaforido aparece Ariovaldo
Matos*, a quem eu dera a informação. Ariovaldo publica um semanário, tem
dificuldades de dinheiro e de censura, vive entre a redação e a cadeia.
Pablo
viajara ao Brasil para a cerimônia de inauguração em São Paulo do monumento em
memória de Garcia Lorca. Obra de Flávio de Carvalho. Menos de uma semana após a
solenidade o monumento foi destruído pelos esbirros da ditadura militar, as
forças armadas não estimam os poetas.
Acompanhado por Matilde, Pablo desce do avião, nos abraçamos peito
contra peito, face contra face, faz tempo que não nos vemos. Tendo vindo para o
júbilo do reencontro fraterno na cidade predileta – o casario, a música, a
capoeira, o vatapá, os camarões e as lagostas – e não para a masturbação dos
funerais, Pablo sussurra-me ao ouvido, a voz magoada:
- No me
perguntes por nadie, compadre, se murieron todos. Restamos solamente nosotros.
Sob a
batuta de Ariovaldo, as baianas cercam o poeta, atam-lhe no pulso a fita do
Bonfim, a branca, a de Oxalá, dão-lhe as boas-vindas.
*Ariovaldo Matos (1926/1988),escritor e jornalista.
Jorge Amado
* * *
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