3 de dezembro de 2017
Roberto de Mattei (*)
Nas últimas semanas houve três entrevistas de alguns
eminentes cardeais. A primeira foi concedida em 28 de outubro de 2017 pelo
cardeal Walter Brandmüller a Christian Geyer e Hannes Hintermeier, do Frankfurter
Allgemeine Zeitung; a segunda foi dada em 14 de novembro pelo cardeal Raymond
Leo Burke a Edward Pentin, do National Catholic Register; e a terceira, do
cardeal Gerhard Müller ao jornalista Massimo Franco, apareceu em 26 de novembro
nas colunas do Corriere della Sera.
O cardeal Brandmüller [foto acima] manifestou sua
preocupação com a possibilidade de se abrir uma divisão na Igreja. “O
simples fato de uma petição com 870.000 assinaturas dirigidas ao Papa
solicitando-lhe esclarecimentos permanecer sem resposta — como não obtiveram
resposta 50 estudiosos internacionais — levanta questões. É verdadeiramente
difícil de entender.” “Dirigir dúvidas ao Papa, dúvidas, perguntas, sempre foi
uma forma absolutamente normal de dissipar as ambiguidades. Simplificando, a
questão é a seguinte: o que ontem era pecado pode hoje sem bom? Pergunta-se
também: existem realmente atos — é a doutrina constante da Igreja — que são
sempre moralmente reprováveis em todas as circunstâncias? Como, por exemplo, o
assassinato do inocente ou o adultério? Este é o ponto. Caso, de fato, se
devesse responder à primeira pergunta com um ‘sim’ e com um ‘não’ à segunda,
isso seria realmente uma heresia e, portanto, um cisma. Uma divisão na Igreja.”
O cardeal Burke, [foto ao lado] que declarou estar sempre em
comunicação com o cardeal Brandmüller, formulou um novo alerta “sobre a
gravidade de uma situação que nunca cessa de piorar” e reafirmou a
necessidade de que todas as passagens heterodoxas da Amoris laetitia sejam
esclarecidas. De fato, enfrentamos um processo que constitui “uma
subversão das partes essenciais da Tradição”. “Além do debate sobre a moral,
está cada vez mais erodido na Igreja o sentido da prática sacramental,
especialmente no que diz respeito à penitência e à Eucaristia.”
O cardeal se dirige novamente ao Papa Francisco e a toda a
Igreja, frisando “quão urgente é que o Papa, exercendo o ministério que
recebeu do Senhor, possa confirmar seus irmãos na fé, exprimindo claramente o
ensinamento sobre a moral cristã e o significado da prática sacramental da
Igreja”.
O cardeal Müller [foto ao lado], por sua vez, afirma existir
o perigo de um cisma dentro da Igreja e que a responsabilidade da divisão não é
dos cardeais dos dubia sobre a Amoris laetitia nem dos
signatários da Correctio filialis ao Papa Francisco, mas do “círculo
mágico” do Papa, que impede um debate aberto e equilibrado sobre os
problemas doutrinários levantados por essas críticas:
“Atenção: se se generalizar a percepção de que uma
injustiça foi praticada pela Cúria Romana, quase por força da inércia
poder-se-ia pôr em movimento uma dinâmica cismática difícil depois de
reabsorver. Creio que os cardeais que expressaram suas dúvidas sobre a Amoris
laetitia, ou os 62 signatários de uma carta com críticas até mesmo excessivas
ao Papa devem ser ouvidos, e não liquidados como ‘fariseus’ ou pessoas
revoltosas. A única maneira de sair desta situação é um diálogo claro e direto.
Em vez disso, tenho a impressão de que no ‘círculo mágico’ do Papa existem
aqueles que estão especialmente preocupados em espionar seus pretensos adversários,
impedindo assim uma discussão aberta e equilibrada. O dano mais grave que eles
causam à Igreja é de classificar todos os católicos de acordo com as categorias
‘amigo’ ou ‘inimigo’ do Papa. Fica-se perplexo que um conhecido jornalista
ateu [Eugenio Scalfari, fundador do La Repubblica] se gabe de
ser amigo do Papa; e, paralelamente, que um bispo católico e cardeal como eu
seja difamado como adversário do Santo Padre. Não acho que essas pessoas possam
dar-me lições de teologia sobre o primado do Romano Pontífice.”
Segundo o seu entrevistador, o cardeal Müller ainda não se
recuperou da “ferida” causada pela exoneração de três de seus colaboradores
pouco antes de sua não recondução à frente da Congregação pela Doutrina da Fé,
em junho passado. “Eram bons e competentes sacerdotes que trabalhavam para
a Igreja com dedicação exemplar”, é o seu julgamento. “As pessoas não
podem ser mandadas embora ad libitum, sem provas nem processo, só
porque alguém denunciou anonimamente vagas críticas de uma delas ao Papa…”.
“Qual é o regime sob o qual as pessoas são tratadas assim?”,
pergunta Damian Thompson em The Spectator no dia 17 de julho passado.
(https://blogs.spectator.co.uk/2017/07/pope-francis-is-behaving-like-a-latin-american-dictator-but-the-liberal-media-arent-interested/).
E responde que a demissão dos colaboradores do cardeal Müller “traz à
mente alguns de seus predecessores mais autoritários, ou até mesmo algum
ditador latino-americano que abraça as multidões e dá uma demonstração de seu
estilo de vida humilde enquanto seus lugar-tenentes vivem no temor de sua
cólera”.
Este aspecto do pontificado do Papa Francisco é agora objeto
de um livro que acaba de ser publicado com o significativo título O Papa
ditador [foto ao lado] (https://www.amazon.it/Papa-Dittatore-Marcantonio-Colonna-ebook/dp/B077M5ZH4M ).
O autor é um historiador formado em Oxford que se oculta sob o nome de
“Marcantonio Colonna”. O estilo é sóbrio e documentado, mas as acusações
dirigidas ao Papa Bergoglio são fortes e numerosas.
Muitos dos elementos sobre os quais o autor se baseia para
formular suas acusações eram conhecidos, mas o que é novo é a acurada
reconstrução de uma série de “quadros históricos”: o pano de fundo da eleição
do Papa Bergoglio, guiada pela “máfia de São Galo”; as pendengas argentinas de
Bergoglio antes de sua eleição; os obstáculos encontrados pelo cardeal Pell ao
tentar fazer uma reforma financeira da Cúria; a revisão da Pontifícia Academia
para a Vida; a perseguição aos Franciscanos da Imaculada e a decapitação da
Soberana Ordem Militar de Malta.
A mídia, sempre pronta a fustigar alhures qualquer episódio
de desgoverno e de corrupção, silencia-se diante desses escândalos. O principal
mérito deste estudo histórico é de tê-los trazido à luz. “O medo é a nota
dominante da Cúria sob a lei de Francisco, juntamente com a suspeita mútua. Não
se trata apenas de informantes que procuram vantagens relatando uma conversa
privada — como descobriram os três subordinados do cardeal Müller. Em uma
organização onde as pessoas moralmente corruptas foram deixadas no lugar e até
promovidas pelo Papa Francisco, uma chantagem sutil está na ordem do dia. Um
sacerdote da Cúria ironizou assim: ‘Há um ditado segundo o qual [para
encontrar emprego ou ser promovido] o que conta não é aquilo que sabes,
mas quem conheces. No Vaticano, ele se aplica assim: o que conta é aquilo que
sabes a respeito de quem conheces.”
Em suma, o livro de Marcantonio Colonna confirma aquilo que
a entrevista do cardeal Müller deixa nebuloso: a existência de um clima de
espionagem e delação que o antigo Prefeito da Doutrina da Fé atribui a um
“círculo mágico” que condiciona as escolhas do Papa, enquanto o historiador de
Oxford o imputa ao próprio modus gubernandi do Papa Francisco, que
ele compara com os métodos autocráticos do ditador argentino Juan Perón, do
qual o jovem Bergoglio era um seguidor.
Poder-se-ia responder nihil sub sole novum (Eclesiastes
1:10). A Igreja viu muitas outras deficiências de governo. Mas se este
pontificado está realmente levando a uma divisão entre os fiéis, como sublinham
os três cardeais, as causas não podem se limitar ao modo de governar de um
Papa, mas devem ser procuradas em algo absolutamente inédito na História da
Igreja: o afastamento do Romano Pontífice da doutrina do Evangelho, que ele
tem, por mandato divino, o dever de transmitir e guardar. Este é o cerne do
problema religioso do nosso tempo.
____________
(*) Fonte: “Corrispondenza romana”, 29-11-2017. Matéria
traduzida do original italiano por Hélio Dias Viana.
Comentário:
Celso da Costa Carvalho Vidigal
3 de dezembro de 2017
Os fatos narrados acima aumentam a perplexidade dos
católicos atentos à Verdade revelada por Nosso Senhor Jesus Cristo, contida no
Novo Testamento, que, por isso são atentos às palavras do Santo Padre. São
Paulo disse que “quem ensinar um evangelho diferente daquele que eu ensino,
seja anátema”, quer dizer, excomungado. O Papa festeja Lutero; portanto,
festeja as obras deste. Lutero, ao traduzir para o vernáculo a Sagrada
Escritura, adulterou milhares de trechos da mesma. As cartas de São Paulo e o
Santo Evangelho fazem parte da Sagrada Escritura. Portanto, Lutero incorreu na
excomunhão declarada por São Paulo. E quem aplaude Lutero e não reprova os seus
erros também incorre na excomunhão. Diante desse raciocínio, como explicar a
propaganda que o Papa Francisco faz de Lutero, até mesmo “entronizando” uma
imagem do mesmo no Vaticano? Levando a sério as palavras de São Paulo, deve-se
dizer que Francisco I esteja excomungado? Ou as palavras de São Paulo não devem
mais ser levadas a sério?!
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