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terça-feira, 5 de dezembro de 2017

OS CARDEAIS BURKE-BRANDMÜLLER-MÜLLER E “O PAPA DITADOR”

3 de dezembro de 2017
Roberto de Mattei (*)
Nas últimas semanas houve três entrevistas de alguns eminentes cardeais. A primeira foi concedida em 28 de outubro de 2017 pelo cardeal Walter Brandmüller a Christian Geyer e Hannes Hintermeier, do Frankfurter Allgemeine Zeitung; a segunda foi dada em 14 de novembro pelo cardeal Raymond Leo Burke a Edward Pentin, do National Catholic Register; e a terceira, do cardeal Gerhard Müller ao jornalista Massimo Franco, apareceu em 26 de novembro nas colunas do Corriere della Sera.

O cardeal Brandmüller [foto acima] manifestou sua preocupação com a possibilidade de se abrir uma divisão na Igreja. “O simples fato de uma petição com 870.000 assinaturas dirigidas ao Papa solicitando-lhe esclarecimentos permanecer sem resposta — como não obtiveram resposta 50 estudiosos internacionais — levanta questões. É verdadeiramente difícil de entender.” “Dirigir dúvidas ao Papa, dúvidas, perguntas, sempre foi uma forma absolutamente normal de dissipar as ambiguidades. Simplificando, a questão é a seguinte: o que ontem era pecado pode hoje sem bom? Pergunta-se também: existem realmente atos — é a doutrina constante da Igreja — que são sempre moralmente reprováveis em todas as circunstâncias? Como, por exemplo, o assassinato do inocente ou o adultério? Este é o ponto. Caso, de fato, se devesse responder à primeira pergunta com um ‘sim’ e com um ‘não’ à segunda, isso seria realmente uma heresia e, portanto, um cisma. Uma divisão na Igreja.”



O cardeal Burke, [foto ao lado] que declarou estar sempre em comunicação com o cardeal Brandmüller, formulou um novo alerta “sobre a gravidade de uma situação que nunca cessa de piorar” e reafirmou a necessidade de que todas as passagens heterodoxas da Amoris laetitia sejam esclarecidas. De fato, enfrentamos um processo que constitui “uma subversão das partes essenciais da Tradição”. “Além do debate sobre a moral, está cada vez mais erodido na Igreja o sentido da prática sacramental, especialmente no que diz respeito à penitência e à Eucaristia.
O cardeal se dirige novamente ao Papa Francisco e a toda a Igreja, frisando “quão urgente é que o Papa, exercendo o ministério que recebeu do Senhor, possa confirmar seus irmãos na fé, exprimindo claramente o ensinamento sobre a moral cristã e o significado da prática sacramental da Igreja”.

O cardeal Müller [foto ao lado], por sua vez, afirma existir o perigo de um cisma dentro da Igreja e que a responsabilidade da divisão não é dos cardeais dos dubia sobre a Amoris laetitia nem dos signatários da Correctio filialis ao Papa Francisco, mas do “círculo mágico” do Papa, que impede um debate aberto e equilibrado sobre os problemas doutrinários levantados por essas críticas:

 “Atenção: se se generalizar a percepção de que uma injustiça foi praticada pela Cúria Romana, quase por força da inércia poder-se-ia pôr em movimento uma dinâmica cismática difícil depois de reabsorver. Creio que os cardeais que expressaram suas dúvidas sobre a Amoris laetitia, ou os 62 signatários de uma carta com críticas até mesmo excessivas ao Papa devem ser ouvidos, e não liquidados como ‘fariseus’ ou pessoas revoltosas. A única maneira de sair desta situação é um diálogo claro e direto. Em vez disso, tenho a impressão de que no ‘círculo mágico’ do Papa existem aqueles que estão especialmente preocupados em espionar seus pretensos adversários, impedindo assim uma discussão aberta e equilibrada. O dano mais grave que eles causam à Igreja é de classificar todos os católicos de acordo com as categorias ‘amigo’ ou ‘inimigo’ do Papa. Fica-se perplexo que um conhecido jornalista ateu [Eugenio Scalfari, fundador do La Repubblica] se gabe de ser amigo do Papa; e, paralelamente, que um bispo católico e cardeal como eu seja difamado como adversário do Santo Padre. Não acho que essas pessoas possam dar-me lições de teologia sobre o primado do Romano Pontífice.”

Segundo o seu entrevistador, o cardeal Müller ainda não se recuperou da “ferida” causada pela exoneração de três de seus colaboradores pouco antes de sua não recondução à frente da Congregação pela Doutrina da Fé, em junho passado. “Eram bons e competentes sacerdotes que trabalhavam para a Igreja com dedicação exemplar”, é o seu julgamento. “As pessoas não podem ser mandadas embora ad libitum, sem provas nem processo, só porque alguém denunciou anonimamente vagas críticas de uma delas ao Papa…”.

“Qual é o regime sob o qual as pessoas são tratadas assim?”, pergunta Damian Thompson em The Spectator no dia 17 de julho passado. (https://blogs.spectator.co.uk/2017/07/pope-francis-is-behaving-like-a-latin-american-dictator-but-the-liberal-media-arent-interested/). E responde que a demissão dos colaboradores do cardeal Müller “traz à mente alguns de seus predecessores mais autoritários, ou até mesmo algum ditador latino-americano que abraça as multidões e dá uma demonstração de seu estilo de vida humilde enquanto seus lugar-tenentes vivem no temor de sua cólera”.

Este aspecto do pontificado do Papa Francisco é agora objeto de um livro que acaba de ser publicado com o significativo título O Papa ditador [foto ao lado] (https://www.amazon.it/Papa-Dittatore-Marcantonio-Colonna-ebook/dp/B077M5ZH4M ). O autor é um historiador formado em Oxford que se oculta sob o nome de “Marcantonio Colonna”. O estilo é sóbrio e documentado, mas as acusações dirigidas ao Papa Bergoglio são fortes e numerosas.

Muitos dos elementos sobre os quais o autor se baseia para formular suas acusações eram conhecidos, mas o que é novo é a acurada reconstrução de uma série de “quadros históricos”: o pano de fundo da eleição do Papa Bergoglio, guiada pela “máfia de São Galo”; as pendengas argentinas de Bergoglio antes de sua eleição; os obstáculos encontrados pelo cardeal Pell ao tentar fazer uma reforma financeira da Cúria; a revisão da Pontifícia Academia para a Vida; a perseguição aos Franciscanos da Imaculada e a decapitação da Soberana Ordem Militar de Malta.

A mídia, sempre pronta a fustigar alhures qualquer episódio de desgoverno e de corrupção, silencia-se diante desses escândalos. O principal mérito deste estudo histórico é de tê-los trazido à luz. “O medo é a nota dominante da Cúria sob a lei de Francisco, juntamente com a suspeita mútua. Não se trata apenas de informantes que procuram vantagens relatando uma conversa privada — como descobriram os três subordinados do cardeal Müller. Em uma organização onde as pessoas moralmente corruptas foram deixadas no lugar e até promovidas pelo Papa Francisco, uma chantagem sutil está na ordem do dia. Um sacerdote da Cúria ironizou assim: ‘Há um ditado segundo o qual [para encontrar emprego ou ser promovido] o que conta não é aquilo que sabes, mas quem conheces. No Vaticano, ele se aplica assim: o que conta é aquilo que sabes a respeito de quem conheces.”

Em suma, o livro de Marcantonio Colonna confirma aquilo que a entrevista do cardeal Müller deixa nebuloso: a existência de um clima de espionagem e delação que o antigo Prefeito da Doutrina da Fé atribui a um “círculo mágico” que condiciona as escolhas do Papa, enquanto o historiador de Oxford o imputa ao próprio modus gubernandi do Papa Francisco, que ele compara com os métodos autocráticos do ditador argentino Juan Perón, do qual o jovem Bergoglio era um seguidor.

Poder-se-ia responder nihil sub sole novum (Eclesiastes 1:10). A Igreja viu muitas outras deficiências de governo. Mas se este pontificado está realmente levando a uma divisão entre os fiéis, como sublinham os três cardeais, as causas não podem se limitar ao modo de governar de um Papa, mas devem ser procuradas em algo absolutamente inédito na História da Igreja: o afastamento do Romano Pontífice da doutrina do Evangelho, que ele tem, por mandato divino, o dever de transmitir e guardar. Este é o cerne do problema religioso do nosso tempo.
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(*) Fonte: “Corrispondenza romana”, 29-11-2017. Matéria traduzida do original italiano por Hélio Dias Viana. 

Comentário:

Celso da Costa Carvalho Vidigal
3 de dezembro de 2017

Os fatos narrados acima aumentam a perplexidade dos católicos atentos à Verdade revelada por Nosso Senhor Jesus Cristo, contida no Novo Testamento, que, por isso são atentos às palavras do Santo Padre. São Paulo disse que “quem ensinar um evangelho diferente daquele que eu ensino, seja anátema”, quer dizer, excomungado. O Papa festeja Lutero; portanto, festeja as obras deste. Lutero, ao traduzir para o vernáculo a Sagrada Escritura, adulterou milhares de trechos da mesma. As cartas de São Paulo e o Santo Evangelho fazem parte da Sagrada Escritura. Portanto, Lutero incorreu na excomunhão declarada por São Paulo. E quem aplaude Lutero e não reprova os seus erros também incorre na excomunhão. Diante desse raciocínio, como explicar a propaganda que o Papa Francisco faz de Lutero, até mesmo “entronizando” uma imagem do mesmo no Vaticano? Levando a sério as palavras de São Paulo, deve-se dizer que Francisco I esteja excomungado? Ou as palavras de São Paulo não devem mais ser levadas a sério?!



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