Folha de SP - 18/12/2017
Luiz Felipe Pondé
Sei que inteligentinhos dirão: pelo contrário, as populações
mais pobres voltarão a comprar TVs e carros. E eu direi: a bolsa fome é a
grande miséria que alimenta o PT e seus associados.
Nelson Rodrigues dizia que, no dia em que acabasse a pobreza
do Nordeste, dom Helder, o arcebispo vermelho, perderia sua razão de existir.
Por isso, ele e a miséria do Nordeste andavam de mãos dadas.
O truque do PT e associados é o mesmo: destruir a economia,
acuar o mercado, alimentar uma parceria com os bilionários oligopolistas a fim
de manter o país miserável e, assim, garantir seu curral eleitoral.
Como o velho coronelismo nordestino – conheço bem a região:
sou nascido no Recife e vivi muitos anos na Bahia–, o PT e associados têm na
miséria e na dependência da população seu capital.
Mas quero falar de outras dimensões da tragédia que nos
cerca caso o PT retomasse o poder.
Desta vez, o projeto "a Venezuela é aqui" se
organizará de forma mais concreta.
O Poder Judiciário, já em grande parte na mão da
"malta" do PT, serviria ao partido de forma sincera e submissa,
destruindo a autonomia da Justiça. Esse processo já está em curso, mas foi,
temporariamente, barrado pelo percalço do impeachment e de alguns poucos
setores não petistas do Poder Judiciário.
O Legislativo se acomodaria, como sempre, a quem manda.
O mercado também se acomodaria, servindo, de novo, ao
coronel Lula ou a algum genérico que o represente. Eliminariam qualquer elo na
sua cadeia produtiva que suje seu nome – da empresa, quero dizer– junto à Nomenclatura.
Quanto à inteligência pública, essa seria devastada.
Perda de empregos, contratos, espaços nos veículos, com a
bênção da quase totalidade das Redações e editorias. Se não apenas para eles
mesmos não perderem empregos, contratos e espaços, também, e principalmente,
porque a quase totalidade das Redações e editorias são petistas ou similares.
Nas universidades e nas escolas, a festa. Reforço absoluto
da patrulha ideológica de forma orgânica, com apoio da Capes e de sua
plataforma Sucupira.
As universidades, entidades quase absolutamente monolíticas
e autoritárias, celebrariam a queima total de seus adversários internos e
externos. Os alunos, coitados, ou adeririam à retomada vingativa do poder por
parte do PT, ou perderão bolsas, vagas e carreiras.
E chegaria a vez de as Forças Armadas também serem cooptadas
pela hegemonia petista. Uma vez cooptada, como na Venezuela, a regressão ao
paleolítico estaria plenamente realizada.
O controle da mídia, em nome da "democracia",
implicaria o silêncio imposto a todos que quiserem pagar suas contas.
A classe artística faria festivais para comemorar o retorno
ao poder dos "progressistas" que dão dinheiro para eles gastarem até
acabar.
E, quando o dinheiro acabar, como acabou no Dilma 2, os
"progressistas" sairiam do poder, darão um tempo para os
"conservadores" fazerem o trabalho sujo de reorganizar a economia e,
quando a casa estiver um pouco mais organizada, voltariam ao poder para gastar
tudo de novo.
Vivemos duas formas de hegemonia do PT e associados no
Brasil: a hegemonia da miséria e do discurso populista de cuidado com ela e a
hegemonia do pensamento público e de suas instituições.
A diferença entre o PT de antes do impeachment e o PT de
agora será que antes ele ainda fazia pose de defensor das liberdades.
Agora, ele perderia a pose e destruiria todo o tecido de
liberdade de expressão no país.
E mais: a vitória de Lula em 2018 seria a prova definitiva
de que os eleitores não estão nem aí para suspeita de corrupção pairando sobre
qualquer que seja o candidato.
Todo esse mimimi ao redor da Lava Jato ficaria claro como
mimimi.
Dane-se a corrupção. Ninguém está nem aí para isso. A
começar pelos intelectuais, professores, artistas e integrantes de grande parte
do Poder Judiciário.
O combate à corrupção é (quase) uma farsa.
Depressão, ressentimento, medo e vingança seriam os afetos
que definiriam 2019.
* * *
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