4.1. A Era dos
Colportores
O primeiro
adventista do sétimo dia a pisar em Itabuna foi um colportor! A palavra
colportor tem origem no idioma francês colporteur, que significa vendedor
ambulante, aquele indivíduo que negocia de porta em porta, através de cidades
diversas. O colportor bíblico, portanto, é aquela pessoa que vende ou distribui
literatura de origem sagrada. No período da disseminação inicial do Adventismo,
o Brasil era uma nação quase totalmente rural ou composta de cidades diminutas
que não possuíam livrarias e com agências de correios precárias. Adquirir uma
literatura não católica ou mesmo uma Bíblia fora das capitais era tarefa
praticamente impossível. Estava criado, portanto, um campo de atuação perfeito
para os colportores. As primeiras igrejas protestantes deles se utilizaram
largamente para produzir a difusão da fé cristã.
Eram, em sua
maioria, pessoas sem preparo acadêmico e de origem humilde, porém destemidos e
com bom conhecimento bíblico. Não eram trabalhadores assalariados, sobreviviam
dos ganhos advindos das suas vendas. O lucro acabava sendo pequeno, pois
precisavam arcar com despesas de transporte e hospedagem e, o que sobejava,
desprendiam para o sustento da família, invariavelmente residentes em locais
distantes. O sucesso para eles estava mais diretamente ligado às conversões
resultantes da literatura vendida do que propriamente com a receita obtida.
Durante a
primeira fase da implantação do Adventismo no Brasil, os colportores foram
decisivos, pois eram os principais obreiros, tendo em vista a insuficiência de
pastores ordenados. O termômetro denominacional chamava-se colportagem. Quanto mais
literatura era vendida ou distribuída, a liderança de igreja sabia que estava
ocorrendo um interesse maior na mensagem e um consequente crescimento numérico
de membros. “Entre os líderes adventistas, era considerado praticamente um
axioma que a distribuição de literatura denominacional consistia numa
pré-condição para o crescimento da Igreja”.
Os colportores
vendiam livros, distribuíam folhetos, davam estudos bíblicos, estabeleciam
postos de pregação, faziam conferências bíblicas e formavam congregações. O pastor
Clarence Emerson Rentfro, que passou oito anos no Brasil, tendo sido inclusive
presidente da Missão Minas Gerais, período em que batizou mais de quatrocentas
pessoas, afirmou num Concílio nos Estados Unidos, em 1924, que “os colportores
eram os principais responsáveis pelas
conversões.” No mesmo evento, W. H. Williams (tesoureiro da Divisão Sul
Americana), corroborando a afirmativa, avaliou que, “dois de cada três membros
da União Este Brasileira haviam entrado para a igreja por causa da colportagem”.
O evangelismo por literatura foi um fenômeno importantíssimo para o crescimento
de igreja no Brasil.
Possuíam
um labutar muito difícil. Locomoviam-se das formas mais inusitadas para chegar
ao destino desejado, muitas vezes a pé ou em lombo de mulas ou burros. Às vezes
à noite, sob lama intensa ou por locais ermos. Os livros produziam carregamento de transporte complexo. Eram profundamente
pesados, mas ao mesmo tempo frágeis, os quais deviam chegar ao endereço final
em boas condições. Isso demandava muito esforço físico e responsabilidade
dobrada. Dormiam muitas vezes ao relento, ou em estalagens precárias, não
poucas vezes sujeitos às pulgas, percevejos e ácaros, próprio de lugares com
poeira e humidade. Sem falar na dificuldade em conseguir alimentação saudável e
condizente com os ensinos constantes da literatura que socializavam,
Outro grande
obstáculo, este diretamente ligado ao objeto comercializado, era o
analfabetismo. Como oferecer livros a uma população em que poucos sabiam ler?
F. W. Spies, um dos primeiros missionários a chegar ao Brasil (1896), retrata a
situação com a qual se deparou no final do século XIX: “O povo aqui é
pobremente educado, não mais do que 15 por cento da população é capaz de
compreender o que lê”.
A mensagem
bíblica adventista teve acesso ao Sul da Bahia, mais precisamente a Itabuna,
primeiramente por meio dos colportores evangelistas que passavam rotineiramente
por aqui. Há notícias esparsas disso já no ano de 1905. O crescimento rápido da
população local, o aumento da circulação de dinheiro advindo do plantio e
comercialização do cacau e a proximidade do porto de Ilhéus justificavam a
presença deles. Durante o Juízo Milenar, teremos a oportunidade de folhear o
Livro Memorial e constatarmos boquiabertos o que fizeram por esta região nomes
como Manoel Margarido, Francisco Fernando Lobo Queiroz, Pedro Baptista de
Mello, Camillo José Pereira, Joaquim de Souza Porto, Zacharias Martins
Rodrigues e Generoso de Oliveira.
(A GÊNESE DO ADVENTISMO GRAPIÚNA Cap. 4.1.)
Clóvis Silveira Góis Júnior
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Com linguagem simples e acessível, o autor, Clóvis Júnior
nos envolve num roteiro fascinante, fruto de um incansável trabalho de
pesquisa, que nos permite conhecer toda a trajetória de fé e determinação dos
pioneiros, desde o final do século XIX até o ano de 1960, data da inauguração
da atual sede central da igreja em Itabuna.
Graças à iniciativa do autor, a nossa comunidade adventista
dispõe agora deste livro-documento, com registros e fotos do início da história
do Adventismo na região. Ao término da leitura, certamente o leitor irá
compreender porque Itabuna é a cidade do interior com o maior número de
adventistas da região Nordeste do Brasil. (1ª orelha do Livro)
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