19 de setembro de 2017
Caetano Veloso e Deltan Dallagnol
– Leo Aversa/Pablo Jacob /
Divulgação/Agência O Globo
Leio no GLOBO sobre o dia em que Caetano Veloso recebeu em
casa o procurador do powerpoint. Quer dizer que Paulinha faz canapés na Vieira
Souto e não me convida? Eu, que sou o biógrafo oficial da esquerda caviar? Os
radicais chiques de Nova York ao menos convidavam Tom Wolfe. Mas ingratidão à
parte, acho que ficou ruim foi para quem foi convidado, e aceitou. O
caso do convidado de honra, claro, procurador Dartagnol, quer dizer, Dallagnol.
Seguem alguns trechos:
Empratados de comida nordestina, canapés, vinho, água e
coca-cola embalaram um improvável encontro há quatro semanas no apartamento
de Caetano Veloso de frente para o mar na Avenida Vieira Souto, em
Ipanema, no Rio. O compositor recebeu para uma conversa sobre política um dos
mais comedidos integrantes da força-tarefa Lava-Jato em Curitiba,
o procurador Deltan Dallagnol.
O encontro, que parece saído de uma canção tropicalista, foi
“quase clandestino”, na definição do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP),
responsável por levar o procurador à casa de Caetano e Paula Lavigne. Desde o
primeiro semestre ela tem promovido bate-papos reunindo artistas e políticos
para discutir a conjuntura brasileira. São convidados desde gente mais
identificada com a esquerda a grupos mais à direita, com o intuito de vencer
diferenças e fortalecer uma pauta comum.
Na conversa, falou-se sobre a percepção de que a Lava-Jato tinha
como alvo apenas o PT. Deltan lembrou de que a mesma força-tarefa prendeu
Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e inevitavelmente tem atuação limitada em relação a
políticos com foro privilegiado.
— O MPF tá ocupando um papel que tem de cumprir, atacando à
esquerda e à direita. Ser crítico hoje ao MPF é estar aliado ao que há de mais
atrasado na política brasileira – diz Randolfe, que nos encontros tenta,
segundo ele, “traduzir um pouco das loucuras que se passam em Brasília, o
significado das coisas”.
O GLOBO perguntou a Caetano se suas percepções iniciais
sobre a Lava-Jato se mantiveram depois do encontro, e o que o unia e o
afastava, hoje, do “procurador do powerpoint”.
Caetano respondeu com um artigo, no qual menciona os acordos de
leniência como “modificadores do capitalismo brasileiro” e alerta para a
necessidade de evitar que “movimentações importantes não venham a servir à
manutenção das nossas desigualdades”.
Deltan não quis dar
entrevista.
No fim do seu texto, o compositor cita a desigualdade e a
corrupção como ideias em campos diferentes. De fato, os malfeitos com dinheiro
público parecem ter ocupado todos os espaços da agenda pública dos últimos
anos. E a preocupação com a desigualdade perdido a vez. Mas que Deltan não lhe
ouça. Para o procurador, a corrupção está para a desigualdade como dois e dois
são quatro.
Ou seja, o procurador das redes sociais ainda levou uma
espécie de pito do anfitrião, por pegar demais no pé do PT. E claro, é preciso
deixar bem claro que não há tal viés, que outros também foram presos ou
acusados (porque preso o condenado Lula ainda nem está, não se sabe bem o
motivo).
É a turma que não é “nem de esquerda nem de direita”, e só
quer combater a corrupção, em abstrato, mas nunca punir os corruptos de carne e
osso, especialmente se forem de esquerda. As máscaras dessa turma vão caindo uma
a uma. As pretensões políticas vão ficando mais claras. Assim como os
companheiros políticos, o pessoal que joga a rede para pescar “isentões” que
até ontem defendiam o PT.
Eu gostaria de fazer uma só pergunta ao procurador com viés
jacobino: o que ele acha disso aqui?
Será que a função de procurador combina com a de artista
engajado que banca o revolucionário contra o “sistema”, posando inclusive de
black bloc em apoio aos vândalos baderneiros que colocam máscaras e saem por aí
depredando patrimônio público, quando não matando inocentes?
Sobre isso tudo, sobre os ícones da esquerda caviar, sobre
os “igualitários” do Projaquistão, só tenho uma coisa a dizer:
E ainda tem quem caia nessa?
Rodrigo Constantino
Economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC,
trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros,
entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré
vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com,
jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto
Liberal.
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