3 de agosto de 2017
O jornal americano “New York Times” informou ontem que o governo do presidente Donald
Trump prepara uma investigação sobre se a política de cotas para negros em
universidades americanas está discriminando candidatos brancos. O Departamento
de Justiça americano estaria iniciando a seleção de pessoal para investigar as
políticas de ação afirmativa — o que pode vir a ser a base para uma mudança das
políticas que visam reduzir a diferença de escolaridade e de renda entre
brancos e negros nos Estados Unidos.
De acordo com fontes sigilosas ao jornal, a proposta partiu
do procurador-geral Jeff Sessions, considerado um dos nomes mais conservadores
do governo Trump e que, no início de sua carreira, chegou a ser rejeitado como
juiz federal por ter sido acusado de ser adepto de teses racistas. O “New York
Times” informou que seriam redirecionados recursos da área de direitos civis do
Departamento de Justiça para esta investigação — e não da área de Oportunidades
Educacionais, que tradicionalmente cuida do tema —, e que ela poderia gerar
ações judiciais sobre “discriminação intencional baseada em raça” nos processos
de admissão de faculdades e universidades.
Muitos estudos indicam que as populações negra, latina e
indígena tiveram mais acesso à educação superior a partir das políticas de
cotas. Muitos países, inclusive o Brasil, se inspiraram nestas políticas para
criar diretrizes que facilitam o acesso de negros e pobres às universidades,
com reservas de vagas ou aumento de pontuação nos processos de seleção.
Claro que tanto o NYT como o GLOBO, ambos ícones do
“progressismo”, iriam pintar tal decisão como racista e equivocada. Ela teria
partido de alguém que já foi acusado de racismo, e “muitos estudos” indicam que
as “minorias” se beneficiaram das cotas raciais. São sempre os “especialistas”…
Que tal perguntar, então, a Thomas Sowell o que seus vários
estudos sobre a política apontam? Sowell, não custa lembrar, é negro. É também
um respeitado economista de Chicago, e escreveu um livro com profundas
pesquisas sobre cotas nos Estados Unidos e em outros países. Suas conclusões
não são nada favoráveis. Ao contrário: ele mostra como elas são perigosas.
Na melhor das hipóteses, as cotas raciais beneficiam as
elites negras, não os mais pobres, e à custa dos pobres brancos. O jornal
afirma que populações negra, latina e indígena tiveram mais acesso, mas
aumentaram as vagas totais ou eles entraram no lugar de pobres
brancos? Se é jogo de soma zero, por vagas finitas, então um precisa sair para
o outro entrar, um deve perder para o outro ganhar, não? Elementar.
O que Trump quer é investigar justamente isso: houve uma
política de discriminação contra brancos, por serem brancos,
para favorecer negros? Isso não seria racismo reverso, indo contra o que o
próprio Martin Luther King desejava, com uma nação que julgassem com base no
mérito, não na cor da pele?
As cotas raciais acabaram segregando ainda mais a população,
e nunca antes na história americana o clima esteve tão dividido, graças em
parte ao próprio ex-presidente Obama, que soube abusar da cartada racial e
incitar o racha, mesmo quando era para proteger marginais negros e
condenar policiais como racistas.
A quem as cotas efetivamente ajudaram? A educação pública
está em declínio evidente, e Sowell, assim como Walter Williams, outro
respeitado pensador negro, condenam as cotas e pregam, em seu lugar, o voucher
para que os pobres, todos os pobres, independentemente da cor, tenham
acesso a melhores escolas particulares. A “charter school” também é uma
alternativa melhor, pois delega a administração ao setor privado, reduzindo o
poder dos sindicatos e melhorando o mecanismo de incentivos.
Ou seja, quem quer realmente melhorar a situação não só dos
negros, mas de todos os americanos mais pobres não deveria enaltecer
a política de cotas raciais, e sim defender meios que efetivamente melhorem o
resultado final da educação. O modelo atual tem falhado visivelmente, em todos
os aspectos.
Todo liberal, defensor da isonomia, da igualdade perante as
leis e da meritocracia, deveria condenar as cotas raciais. Os racistas podem
gritar “Black Lives Matter” enquanto defendem bandidos que matam policiais,
brancos e negros. Mas os patriotas deveriam gritar “All Lives Matter”. Trump
acertou mais uma.
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal.
SOBRE / RODRIGO
CONSTANTINO
Economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC,
trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros,
entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré
vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do
Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal.
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