(Frankfurt, 1970 – gabo)
Nos portos
do mundo encontro Gabriel Garcia Márquez. Em Barcelona ele nos espera em
companhia de Carmen Balcells, a agente literária, terror dos editores, o editor
Alfredo Machado a estimava: ela briga para defender os autores. Fomos tomar o
café da manhã em botequim das proximidades. Em Cartagena, do navio avistamos
Gabo e Mercedes, sua mulher, vamos saborear o café da Colômbia na residência
dos pais do Prêmio Nobel. Em Havana jantamos em sua casa na companhia de Fidel
Castro.
Leio
Garcia Márquez de há longo tempo, não sei se fui eu quem recomendou Cem anos de
Solidão a Glauber Rocha ou se foi Glauber quem chamou minha atenção para o
livro do colombiano. Gabo escreveu dois romances definitivos: o dos Cem Anos e
O Amor nos Tempos do Cólera.
Eu o
conheci pessoalmente há mais de vinte anos num encontro de escritores da
América Latina*, decorrido no quadro da
Feira de Livros de Frankfurt, no qual professores e estudiosos alemães
demonstraram conhecimento e interesse acerca das literatura de nossos países e
uma boa parte dos convidados hispano-americanos exibiu-se despudoradamente em
busca de editor. Ainda outro dia recordei com Eduardo Portella a indignação de
Adonias Filho, pouco afeito à disputa feroz por um lugar ao sol no mapa do
universo literário, ao assistir à competição de títulos alardeados pelos
candidatos a traduções e artigos, Adonias ficou sufocado: não vim aqui para
isso, nos disse, a Eduardo e a mim, éramos os três brasileiros presentes,
corpos estranhos na algazarra castelhana dos confrades. Chamou-me a atenção o
comedimento de Garcia Márquez, em silêncio numa ponta da mesa, sem participar
na feira das vaidades.
Vindo a
Moscou, Gabo telefona-me em Paris para
dar recado de Doc Comparato, pergunto em que hotel se hospeda, ouço-lhe o riso
- Jorge,
quando um escritor latino-americano chega a certa idade, se tem juízo, deve
fazer o que fizeste, comprar um apartamento em Paris – dá-me o endereço e o telefone.
*Frankfurt, 1970
(NAVEGAÇÃO
DE CABOTAGEM)
Jorge Amado
JORGE AMADO - Quinto ocupante da Cadeira 23 da ABL,
eleito em 6 de abril de 1961, na sucessão de Otávio Mangabeira e recebido pelo
Acadêmico Raimundo Magalhães Júnior em 17 de julho de 1961. Recebeu os
Acadêmicos Adonias Filho e Dias Gomes.
* * *
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