Anúncio do Evangelho (Mt 11,25-30)
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo
Mateus.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, Jesus pôs-se a dizer: “Eu te louvo, ó
Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e
entendidos e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do
teu agrado.
Tudo me foi entregue por meu Pai, e ninguém conhece o Filho,
senão o Pai, e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o
quiser revelar.
Vinde a mim, todos vós, que estais cansados e fatigados sob
o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu
jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós
encontrareis descanso. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Pe. Paulo
Ricardo:
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Divino coração humano
“...porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis
descanso para vós” (Mt 11,29)
Em toda visão antropológica, o coração ocupa o centro
profundo de nosso ser, o nosso cerne mais íntimo, o coração do coração, que não
consiste no mero sentimento, mas trata-se do centro existencial que nos permite
orientar-nos como um todo e plenamente em direção ao bem, à verdade, à
justiça...
O coração é uma dessas palavras sobre a qual toda a
multiplicidade se torna uno.
Ele simboliza, para a grande maioria das culturas, o centro
da pessoa, onde se unificam todas suas dimensões. Uma pessoa com coração não é
a dominada pelo sentimentalismo, senão aquela que alcançou uma unidade e
coerência, um equilíbrio de maturidade que lhe permite ser objetiva e cordial,
lúcida e apaixonada, intuitiva e racional; nunca fria, mas sempre acolhedora;
nunca cega, mas realista.
Ter coração equivale a ser uma personalidade integrada. O
coração é o símbolo da profundidade e da interioridade. Só quem chegou a uma
harmonia consciente com o profundo de seu ser consegue alcançar a unidade e a
maturidade pessoais.
O coração do ser humano é a própria fonte de sua
personalidade consciente, inteligente e livre. É o lugar de suas escolhas
decisivas, fonte das bem-aventuranças, santuário da ação misteriosa de Deus e
do encontro com Ele. Recordações, pensamentos, projetos e decisões são alguns
dos componentes essenciais do órgão vital por excelência. O que acontece nele
tem caráter decisivo. “O mistério interior do ser humano, tanto na línguagem
bíblica como na não bíblica, se expressa com a palavra coração” (Xavier
León-Dufour). Por isso é importante permanecer atento aos seus
movimentos. É a única forma de nos conhecer e de conhecer verdadeiramente uma
pessoa. O coração pode palpitar ao ritmo da soberba ou da humildade, do amor ou
do ódio, do egoísmo ou da generosidade. E está cheio de mesclas: de trigo e de
joio.
Vivemos imersos em uma multiplicidade de realidades,
imagens, ofertas, caminhos, ideias diferentes... No entanto, quando procuramos
reunir e estruturar nossa busca e orientá-la para a realidade última de nossa
existência, recorreremos a expressões, palavras, imagens que brotam do mais
profundo de nós mesmos, do nosso coração. Trata-se, pois, de chegar à
unificação de nossa pessoa, integrando a afetividade, a sensibilidade, a razão,
os desejos..., para além da bela expressão de Pascal: “O coração tem razões que
a razão não conhece”. O fato é que há “olhos no coração” que permitem
compreender o que nem os olhos do corpo, nem a razão são capazes de perceber: “Rogo
a Deus que ilumine os olhos dos vossos corações, para que conheçais qual é a
esperança à qual fostes chamados” (Ef. 1,18).
A antropologia bíblica considera o coração como o interior
do ser humano, num sentido muito mais amplo que o das línguas latinas; não o
coração entendido como o órgão da afetividade (uma zona muito inconsistente e
instável), mas uma dimensão mais interna e transparente, que se converte em
“sede” do espírito. Já no AT, o coração designava o complexo mundo interior do
ser humano.
Fechamento, insensibilidade, indiferença, impassibilidade,
surdez, falsidade, murmurações... eram razões mais que suficientes para exortar
a uma mudança de atitude. “Eu lhes darei um só coração e infundirei neles um
espírito novo: tirarei de seu peito o coração de pedra e lhes darei um coração
de carne” (Ez 11,19). A conversão devia empapar todo o ser, especialmente o
coração petrificado.
Segundo a tradição bíblica, o que mais nos desumaniza é
viver com um “coração fechado” e endurecido, um “coração de pedra”, incapaz de
amar e de crer. Quem vive “fechado em si mesmo”, não pode acolher o Espírito de
Deus, não pode deixar-se guiar pelo Espírito de Jesus.
Quando nosso coração está “fechado”, nossos olhos não vêem,
nossos ouvidos não ouvem, nossos braços e pés se atrofiam e não se movimentam
em direção ao outro; vivemos voltados sobre nós mesmos, insensíveis à admiração
e à ação de graças. Quando nosso coração está “fechado”, em nossa vida não há
mais compaixão e passamos a viver indiferentes à violência e injustiça que
destroem a felicidade de tantas pessoas. Vivemos separados da vida,
desconectados. Uma fronteira invisível nos separa do Espírito de Deus que tudo
dinamiza e inspira; é impossível sentir a vida como Jesus sentia.
Quando vivemos a partir do coração, escutamos com mais
paciência, olhamos com cumplicidade, tocamos com ternura, sofremos com
fortaleza, assumimos o risco com naturalidade, misturamos nossa vida com a dos
outros e avançamos em comunidade realizando projetos solidários.
Jesus dava decisiva importância ao coração: “a boca fala
daquilo que está cheio o coração” (Lc. 6,45); “Bem-aventurados os puros de
coração, porque verão a Deus” (Mt. 5,8). “Onde está teu tesouro, ali está teu
coração” (Mt. 6,21). Jesus vivia a partir de seu coração e contagiava com a
força poderosa de seu amor e de sua entrega. Nele se realizou definitivamente
sua promessa. Ele nasceu com um coração de carne, ou seja, humano,
absolutamente divino. Estava chamado a ser o coração de todos, o centro
nevrálgico da humanidade.
Jesus é o homem para os outros, que tem coração, um coração
não de pedra, mas de carne. Sua vida, um sinal do bem amar, do saber amar. Mas,
sobretudo, Jesus, em seu Coração, é a profundidade mesma do ser humano e de
Deus. Nele está a fonte do Espírito que brota como água fecunda até a vida
eterna. Graças à Encarnação, o Filho de Deus trabalhou com mãos humanas, pensou
com inteligência humana, sentiu com vontade humana, amou com coração humano.
O coração de Jesus nos fala de iniciativa, de liberdade, de
entrega absoluta e amor profundo. O coração de Jesus revela que sua vida
implica um movimento de saída, que provoca encontros pessoais, que transforma a
vida daqueles(as) que o seguem, abrindo-lhes novos horizontes, ampliando a
visão e descentrando-os de sua própria lógica.
O evangelho deste domingo mostra um dos mais vivos exemplos
de coração agradecido que podemos encontrar. Jesus, que acaba de passar por uma
profunda experiência de rejeição por parte das cidades da Galileia, explode no
canto que começa: “Eu te louvo, Pai, porque escondeste estas coisas aos sábios
e entendidos”.
O coração de Jesus é sustentado, alimentado, irrigado pelo
amor cuidadoso e providente do Pai. É no coração que também nós, seus(suas)
seguidores(as), poderemos estar em segurança, profundamente repousados. É no
coração, “última solidão do ser”, que decidimos por Deus e a Ele aderimos. Aqui
Deus marca “encontro” com cada um de nós. “Deus é mais íntimo a cada um de nós
do que nós mesmos” (S.Agostinho).
Texto bíblico: Mt 11,25-30
Na oração: Todos estamos no coração de Cristo. Todos estamos
no Amor de Deus. Todos fomos introduzidos na Sagrada Humanidade d’Aquele que,
sendo Deus, se fez semelhante a nós para que possamos todos nos sentir n’Ele.
O coração se revela como imagem de amor, de humanidade, de
entranhas compassivas. Identificamos as pessoas por seu bom coração, por terem
entranhas de misericórdia.
- Você deixa transparecer seu coração na relação com as
pessoas? As atividades que você realiza tem coração?
Pe. Adroaldo Palaoro sj
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