Tacão de ferro
O título eu
o tomei emprestado duma novela de Jack London, mas serve perfeitamente para
ilustrar o caso que passamos a narrar.
Ao sul de
Ilhéus, vasta região era governada por mão de ferro. O senhor das terras, da
liberdade e até da vida – é o que dizem - de muitos habitantes do lugar, era quem decretava as leis. Certa vez, a
fim de se certificar se existiam ladrões na localidade, ordenou que ninguém
fechasse portas nem janelas das suas residências e casas comerciais, pelo
período de oito dias. Respeitado como era, todos obedeceram. E, felizmente,
ninguém foi roubado.
Um dia, o
todo poderoso fazendeiro seguia pela estrada,
montado num bonito cavalo, quando encontrou um trabalhador ocupado em
consertar a cerca.
-
Belarmino, você fuma? – gritou o fazendeiro.
- Patrão,
eu fumava – respondeu o interpelado, jogando fora o cigarro – Mais se o patrão
não qué, se o patrão não gosta, eu dêxo o viço...
- Me dê
lume – ordenou o fazendeiro.
Com mãos
trêmulas, o trabalhador entregou-lhe a caixa de fósforos, o coronel acendeu o
seu próprio cigarro e guardou a caixa no bolso. Em seguida levou a mão ao bolso
trazeiro das calças e o pobre e atemorizado trabalhador, julgando que o homem
fosse retirar dali um revólver e atirá-lo, ajoelhou-se implorando clemência. Todavia,
o temido coronel apenas retirou a carteira recheada de dinheiro, escolheu uma
cédula de cinco cruzeiros e atirou aos pés do trabalhador:
- Toma,
idiota, para comprar outra caixa de fósforos.
(O SORRISO DO CACAU)
Nelson Gallo
* * *
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