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quinta-feira, 29 de junho de 2017

TACÃO DE FERRO - Nelson Gallo

Tacão de ferro


            O título eu o tomei emprestado duma novela de Jack London, mas serve perfeitamente para ilustrar o caso que passamos a narrar.

            Ao sul de Ilhéus, vasta região era governada por mão de ferro. O senhor das terras, da liberdade e até da vida – é o que dizem - de muitos habitantes do lugar, era quem decretava as leis. Certa vez, a fim de se certificar se existiam ladrões na localidade, ordenou que ninguém fechasse portas nem janelas das suas residências e casas comerciais, pelo período de oito dias. Respeitado como era, todos obedeceram. E, felizmente, ninguém foi roubado.

            Um dia, o todo poderoso fazendeiro seguia pela estrada,  montado num bonito cavalo, quando encontrou um trabalhador ocupado em consertar a cerca.

            - Belarmino, você fuma? – gritou o fazendeiro.

            - Patrão, eu fumava – respondeu o interpelado, jogando fora o cigarro – Mais se o patrão não qué, se o patrão não gosta, eu dêxo o viço...

            - Me dê lume – ordenou o fazendeiro.

            Com mãos trêmulas, o trabalhador entregou-lhe a caixa de fósforos, o coronel acendeu o seu próprio cigarro e guardou a caixa no bolso. Em seguida levou a mão ao bolso trazeiro das calças e o pobre e atemorizado trabalhador, julgando que o homem fosse retirar dali um revólver e atirá-lo, ajoelhou-se implorando clemência. Todavia, o temido coronel apenas retirou a carteira recheada de dinheiro, escolheu uma cédula de cinco cruzeiros e atirou aos pés do trabalhador:

            - Toma, idiota, para comprar outra caixa de fósforos.


(O SORRISO DO CACAU)

Nelson Gallo

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