Solenidade de Pentecostes - Domingo 04/06/2017
Anúncio do Evangelho (Jo 20.19-23)
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo
João.
— Glória a vós, Senhor.
Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando
fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se
encontravam, Jesus entrou e, pondo-se no meio deles, disse: “A paz esteja
convosco”. Depois dessas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os
discípulos se alegraram por verem o Senhor. Novamente, Jesus disse: “A paz
esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio”. E, depois de
ter dito isso, soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo. A
quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem não os
perdoardes, eles lhes serão retidos”.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Pe. André
Teles:
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Espírito: o sopro que nos une
“Soprou sobre eles e disse: Recebei o Espírito Santo” (Jo
20,22)
De Jesus e do Pai fazemos muitas representações; do
Espírito, muito mais que falar dele, invocamos a relação com Ele: “vem!”.
Invocamos para vir Aquele que já está presente, o Realizador das transformações,
o Possibilitador de toda relação, o Aumentador da vida.
O fogo, o vento, a água viva, são os símbolos mais potentes
com os quais a Bíblia tenta dizer algo dessa Presença Possibilitadora de tudo o
que vive, de sua força criadora e criativa, de sua imprevisibilidade, de sua
capacidade para gerar sabedoria, saúde e beleza. São símbolos do movimento
constante e do fluir silencioso dos processos que gestam a vida.
No relato da Criação, “a Ruah de Deus (em hebraico, Ruah é
feminino) pairava sobre as águas”: trata-se de uma bela imagem da matriz ou
útero originário fecundo de tudo quanto existe; tudo é amorosamente acolhido,
fecundado, gestado, carregado neste grande ventre cósmico que podemos chamar
divino: “Deus”. Alento, sopro, vento, respiração, força, fogo... com nome
feminino que fala de maternidade e de ternura, de vitalidade e carícia. Seu
calor gera harmonia no caos, realça a beleza e originalidade de cada criatura,
dando a cada uma seu lugar, o espaço que necessita para potencializar seu ser.
Nessa relação adequada, cada erva, cada montanha, cada ser que vive, tem
seu lugar e seu sentido.
“O Espírito pairava sobre as águas” (Gen. 1,1). “Pairava”
pode ser traduzido também por “vibrava”. Tudo vibra no universo: vibram as
partículas e vibram os átomos, vibram as estrelas e vibram as galáxias, vibram
os seres humanos, vibram o canto e a dança. Cada som é vibração e também o
silêncio é vibração. O coração de cada ser, pequeno ou grande, pedra, planta ou
animal está vibrando. A vida é vibração.
O Espírito que “pairava” sobre as águas é a imagem da
vibração divina que habita e se move no coração de tudo quanto existe. O
Espírito é a respiração universal. Tudo é energia, movimento, relação, e daí
brotam maravilhosamente todas as formas de todos os seres, como de uma
misteriosa matriz materna.
E o Espírito sempre está ali silenciosamente presente, como
Aquele que vincula e une, como Tecedora constante de redes que fazem crescer,
como Reparadora de todos os tecidos que um dia se rasgaram e se separaram do
pano único de onde confluem todos os fios da vida.
Hildegar von Bingen dizia que o Espírito é “vida da vida de
toda criatura”. Cada dia é o primeiro dia da Criação; cada instante é o
princípio. A Criação está acontecendo e renovando-se a cada instante e uma
Energia profunda e criativa nos acompanha, nos anima e nos move. Estamos sendo
criados; não estamos prontos e abandonados, não estamos condenados a um plano
predeterminado e frio. Em tempos de Pentecostes é bom recordar e dizer a nós
mesmos: “Somos criaturas, estamos sendo amorosamente criados(as) e impulsionados(as)
a criar. Há esperança”.
Contemplar deste modo a realidade, nos move a confiar,
esperar, respirar. Contemplemo-la assim: a realidade inteira alentada e
fecundada sem cessar pelo Espírito materno; a realidade inteira carregada de
infinitas e novas possibilidades, carregada de Infinito. Podemos esperar.
Hoje somos conscientes e podemos agradecer essa presença do
Espírito nos perfumes que a humanidade exala: no seu empenho pela paz e pela
justiça, na contribuição à integridade da criação, na sua cumplicidade com os
ciclos que favorecem a vida, no potencial de ternura, de cuidado e de
resistência frente a todas aquelas situações e forças que desintegram a vida,
na ação colaborativa, na interdependência, no diálogo e na abertura às
diferentes culturas e às diversas tradições espirituais, maneiras novas e
necessárias de situar-nos no mundo. Tudo isso é sinal do movimento do Espírito.
Desde o momento em que entramos no mundo, nascemos formando
parte de uma rede de relações. Este tecido relacional vai nos expandindo ao
longo do crescimento. “Ao final de minha vida abrirei meu coração cheio de
nomes” (Pedro Casaldáliga). O Espírito é o que escreve os nomes que vão
conformando nossa vida, nos quais fizemos experiência do que significa isso que
chamamos amor e que está gravado em nossa origem e em nosso destino, como nossa
fome maior e como nosso dom mais apreciado.
A imagem do “soprar sobre eles”, no evangelho de hoje,
contém uma riqueza elegante: significa compartilhar o que é mais “vital” de uma
pessoa, sua própria respiração, seu mesmo espírito, todo seu dinamismo. É uma
imagem que nos faz reconhecer o Espírito como o Alento último, o Dinamismo
vital que pulsa em todas as formas de vida que podemos ver e que nelas se
manifesta. Não há nada onde não possamos percebê-lo, nada que não nos fale
d’Ele. Por isso, a comunidade dos seguidores de Jesus, ao compartilhar com Ele
o mesmo Sopro, torna-se uma “comunidade conspiratória”, ou seja, “conspirar”,
“com-inspirar”, “respirar juntos”; ao soprar o Espírito Jesus e os discípulos
respiram o mesmo ar, o mesmo sonho, a mesma utopia do Reino...
Não é estranho que, com o Espírito, Jesus se refira à
missão: é o mesmo Espírito – seu sopro – Aquele que O conduziu e quer conduzir
a nós também. O Espírito e nós não somos dois. Somos “seres espirituais
vivendo uma aventura humana” (Teilhard de Chardin). Quando tomamos consciência
desta realidade profunda, realizam-se em nós as palavras de Jesus: a unidade de
tudo morando em nós, no Amor – outro nome do Espírito -, como única realidade
que tudo sustenta e constitui.
Mais ainda, o Espírito habita nosso ser profundo, sustenta
nossas energias sadias, aumenta nossas forças, compromete-nos a crescer de
forma autônoma. Ele age como um “princípio dinâmico” e como um “energético ativo”,
que reforça as atividades criativas do eu. Temos de viver a partir do Espírito,
transformando e vitalizando nossos gestos, pensamentos, compromissos,
encontros.
Por isso, Pentecostes não acontece até que, reconhecendo o
Espírito como nossa Identidade mais profunda, nos deixemos guiar por Ele, ou
melhor, viver a partir d’Ele, conscientemente conectados com a Fonte Primeira.
Falar do Espírito e celebrar Pentecostes é, portanto, celebrar a festa, a vida
e a Identidade última de tudo o que é e existe: é nossa festa.
Texto bíblico: Jo 20,19-23
Na oração: “O Espírito urge!” Para abrir-nos a este “Sopro”,
de modo que possamos experimentá-Lo no nosso “eu” mais profundo, precisamos
calar a mente, abrir-nos diretamente ao que é, e perceber, com prazer, que
podemos descansar sempre nisso. “Descanso” é outro nome do Espírito.
No silêncio da mente o Espírito se revela a nós, não como
uma presença separada, mas como presença interna de tudo o que é: Cuidado,
Descanso, Dinamismo... Vida em plenitude. E isso é o que somos todos.
Pe. Adroaldo Palaoro sj
http://centroloyola.org.br/revista/outras-palavras/espiritualidade/1104-espirito-o-sopro-que-nos-une
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