Minha musa
A Musa, que inspira meus tímidos cantos,
É doce e risonha, se amor lhe sorri;
É grave e saudosa, se brotam-lhe os prantos.
Saudades carpindo, que sinto por ti.
A Musa, que inspira-me os versos nascidos
De mágoas que sinto no peito a pungir,
Sufoca-me os tristes e longos gemidos,
Que as dores que oculto me fazem trair.
A Musa, que inspira-me os cantos de prece,
Que nascem-me d’alma, que envio ao Senhor.
Desperta-me a crença, que às vezes ‘dormece
Ao último arranco de esp’ranças de amor.
A Musa, que o ramo das glórias enlaça,
Da terra gigante — meu berço infantil,
De afetos um nome na ideia me traça,
Que o eco no peito repete: — Brasil!
A Musa, que inspira meus cantos é livre,
Detesta os preceitos da vil opressão,
O ardor, a coragem do herói lá do Tibre,
Na lira engrandece, dizendo: — Catão!
O aroma de esp’rança, que n’alma recende,
É ela que aspira, no cálix da flor;
É ela que o estro na fronte me acende,
A Musa que inspira meus versos de amor!
Machado de Assis
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O próprio professor Cláudio Murilo Leal não acredita na
equivalência entre o que escreveu o jovem Machado em forma de versos com a
ficção que viria mais tarde, sobretudo após os 40 anos.
É nessa época que parte para Nova Friburgo em três meses de
férias para se recuperar de uma rotina estafante de trabalho. Quando volta, dá
uma guinada em sua carreira, com a publicação em capítulos de "Memórias
Póstumas de Brás Cubas" (1880), e já não escreve mais poesias.
"Não acho que ele fosse tão bom poeta quanto contista
ou romancista", diz Leal. "Mas Machado é reconhecido
internacionalmente como um dos grandes autores do século 19, e este
levantamento da obra poética é importante.
Diziam que ele era um poeta sem emoção, e a reedição diminui um pouco esse preconceito", defende.
Diziam que ele era um poeta sem emoção, e a reedição diminui um pouco esse preconceito", defende.
ESPECIAL PARA
Folha de São Paulo
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