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sexta-feira, 5 de maio de 2017

TERRAS DE ITABUNA: O Trabalho dos Sergipanos


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O Trabalho dos Sergipanos

           
         A vantagem do cacaueiro é que serve ao homem sem se importar com o carinho do homem. Cresce, flora, carrega o ano todo, quase sem descanso. Trabalha, dia e noite, sem repouso. Mal acaba de ser colhido começa a florar, mal acaba de florar começa a produzir frutos, que valem ouro.

          É a melhor lavoura do País. Não exige que o seu cultivador seja alfabetizado, nem que possua conhecimentos agronômicos. Cumpre na terra as suas origens divinas, citadas na lenda do Quartzalcaut, “sementes trazidas do paraíso, que davam a sabedoria universal”.

            “Os seus palácios de Tula eram os mais belos do mundo: o ouro, as pedras preciosas e os metais mais raros foram os únicos materiais de que se serviram na sua edificação”.

            A cidade Itabunense é presentemente esse palácio de Tula, construída com a prosperidade da lavoura cacaueira, sustentada pelos braços sadios dos seus desbravadores.

           As lutas políticas, os choques das ambições entre os donos das terras, as disputas nas posses de propriedades, os crimes de morte, as injustiças praticadas, os insultos lançados, a maldade humana, ao atingiram os cacaueiros. Inferente, tranquilo, viçoso, florado, copado, o cacaueiro se desenvolvia como o dono legítimo que é das terras ricas do Sul da Bahia. Como um contribuinte, ele sustenta o homem, sustenta o comércio, o município, o Estado, sem nada exigir-lhe. As suas relações íntimas, cordiais, alegres e tristes se fazem com a natureza, com a terra boa, a chuva boa, a natureza enfim, na qual ele vive muitos anos.

            Admirável Itabuna, como cresceu, como se desenvolveu, como se multiplicou em população, em riqueza, em civilização!

            Nascida em Ilhéus, tirada de Ilhéus, andava com passos mais avançados, e ameaçava ultrapassar-lhe no progresso. Carlos Souza leu tudo isso num artigo de Mares de Sousa, que o Tourinho achou péssimo, como tudo o que provinha do próximo. Só ele e os seus remédios prestavam. E que raiva agora alimentavam contra Moura Teixeira que curava veneno de cobra com uma simples palavra, enquanto o seu remédio, anunciado como infalível, andava por aí sem ninguém querer.

          O outro farmacêutico, Artur Nilo de Santana, costumava dizer que o seu colega Tourinho, mirrado e enraivecido, podia ser comparado à ruindade dos solos sáfaros. Aos solos bons ele comparava as levas desses maravilhosos sergipanos, desde aquele velho Firmino Alves, aos seus patrícios , que chegavam e se internavam nos fundos das matas. Que gente trabalhadora, como se ambientava, como se acostumava com a mata selvagem! Como era que essa gente se metia  na selva com a família e derrubava as matas, fazia roçado de mandioca, plantava cacau e esperava tanto tempo, debaixo de um rancho de palha, comendo farinha com carne seca, comendo feijão com raiz de aipim, com abóbora e maxixe e tomando café com a farinha de mandioca?

            Verdadeiros heróis, esses sergipanos que ajudaram a construir o município, cobrindo-lhe as terras de culturas, de riquezas, de empreendimentos. Gente de boa índole, possuidora de qualidades de inteligência e visão, sobretudo, dotada de uma resistência invejável no desempenho das tarefas. E como era econômica, prudente, generosa e confiante! Havia sergipanos que não prestavam, que eram bandidos, elementos terríveis, mas eram exceção.

            Na terra Itabunense deram os sergipanos o exemplo magnifico de disciplinados, de pioneiros incansáveis e destemidos.


            Nesse particular, Firmino Alves concentrava a sua grande alegria de haver concorrido para construir a terra em que vivia com essa gente boa de Sergipe.

(TERRAS DE ITABUNA Capítulo XIX)
 Carlos Pereira Filho

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