A vantagem do cacaueiro é que serve ao homem sem se importar
com o carinho do homem. Cresce, flora, carrega o ano todo, quase sem descanso.
Trabalha, dia e noite, sem repouso. Mal acaba de ser colhido começa a florar,
mal acaba de florar começa a produzir frutos, que valem ouro.
É a melhor
lavoura do País. Não exige que o seu cultivador seja alfabetizado, nem que
possua conhecimentos agronômicos. Cumpre na terra as suas origens divinas,
citadas na lenda do Quartzalcaut, “sementes trazidas do paraíso, que davam a
sabedoria universal”.
“Os seus
palácios de Tula eram os mais belos do mundo: o ouro, as pedras preciosas e os
metais mais raros foram os únicos materiais de que se serviram na sua
edificação”.
A cidade
Itabunense é presentemente esse palácio de Tula, construída com a prosperidade
da lavoura cacaueira, sustentada pelos braços sadios dos seus desbravadores.
As lutas
políticas, os choques das ambições entre os donos das terras, as disputas nas
posses de propriedades, os crimes de morte, as injustiças praticadas, os
insultos lançados, a maldade humana, ao atingiram os cacaueiros. Inferente,
tranquilo, viçoso, florado, copado, o cacaueiro se desenvolvia como o dono
legítimo que é das terras ricas do Sul da Bahia. Como um contribuinte, ele
sustenta o homem, sustenta o comércio, o município, o Estado, sem nada
exigir-lhe. As suas relações íntimas, cordiais, alegres e tristes se fazem com
a natureza, com a terra boa, a chuva boa, a natureza enfim, na qual ele vive
muitos anos.
Admirável
Itabuna, como cresceu, como se desenvolveu, como se multiplicou em população,
em riqueza, em civilização!
Nascida em Ilhéus, tirada de Ilhéus,
andava com passos mais avançados, e ameaçava ultrapassar-lhe no progresso.
Carlos Souza leu tudo isso num artigo de Mares de Sousa, que o Tourinho achou
péssimo, como tudo o que provinha do próximo. Só ele e os seus remédios
prestavam. E que raiva agora alimentavam contra Moura Teixeira que curava
veneno de cobra com uma simples palavra, enquanto o seu remédio, anunciado como
infalível, andava por aí sem ninguém querer.
O outro
farmacêutico, Artur Nilo de Santana, costumava dizer que o seu colega Tourinho,
mirrado e enraivecido, podia ser comparado à ruindade dos solos sáfaros. Aos
solos bons ele comparava as levas desses maravilhosos sergipanos, desde aquele
velho Firmino Alves, aos seus patrícios , que chegavam e se internavam nos
fundos das matas. Que gente trabalhadora, como se ambientava, como se
acostumava com a mata selvagem! Como era que essa gente se metia na selva com a família e derrubava as matas,
fazia roçado de mandioca, plantava cacau e esperava tanto tempo, debaixo de um
rancho de palha, comendo farinha com carne seca, comendo feijão com raiz de
aipim, com abóbora e maxixe e tomando café com a farinha de mandioca?
Verdadeiros heróis, esses sergipanos que ajudaram a construir o
município, cobrindo-lhe as terras de culturas, de riquezas, de empreendimentos.
Gente de boa índole, possuidora de qualidades de inteligência e visão,
sobretudo, dotada de uma resistência invejável no desempenho das tarefas. E
como era econômica, prudente, generosa e confiante! Havia sergipanos que não
prestavam, que eram bandidos, elementos terríveis, mas eram exceção.
Na terra
Itabunense deram os sergipanos o exemplo magnifico de disciplinados, de
pioneiros incansáveis e destemidos.
Nesse particular, Firmino Alves
concentrava a sua grande alegria de haver concorrido para construir a terra em
que vivia com essa gente boa de Sergipe.
(TERRAS DE ITABUNA Capítulo XIX)
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