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sábado, 1 de abril de 2017

POESIA É ESPERANÇA E TANTAS OUTRAS COISAS MAIS! – Cláudio Zumaeta


Poesia é esperança e tantas outras coisas mais!


            Nosso magistral poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) trouxe para a poesia brasileira uma esperança inteiramente singular, ou melhor, ensinou-nos que a esperança nada tem a ver com pieguice ou fantasia melosa de um futuro inatingível. Drummond clarificou o belo e a simplicidade cotidiana. Sem nenhuma pretensão, expôs seus sentimentos, liberto de paradigmas e deixou-nos uma poesia imperecível, tão sublime quanto uma música de Bach, um quadro de Goya, uma peça de Shakespeare, uma trova de Patativa do Assaré. “A Flor e a Náusea”, por exemplo, é uma revelação angustiante de Drummond, frente à sua impotência diante do mundo moderno, falido, caótico e estúpido. Mas, ao mesmo tempo, o poeta mantém firme sua esperança teimosa, pulsante e arrebatadora diante desse mesmo mundo: “Uma flor nasceu na rua! Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego. Uma flor ainda desbotada ilude a polícia, rompe o asfalto. Façam completo silêncio, paralisem os negócios, garanto que uma flor nasceu. Sua cor não se percebe. Suas pétalas não se abrem. Seu nome não está nos livros.

            É feia. Mas é realmente uma flor...” Esplêndida! Contundentemente bela! E se estou a falar de algo sempre novo, nada como ler Fernando Pessoa (1888-1935). Deste modo, encontramos Álvaro de Campos, heterônimo do grande poeta português, a nos dizer, nas entrelinhas, que a esperança move o mundo: “Dá-me lírios, lírios, e rosas também. Mas se não tens lírios, nem rosas a dar-me; tem vontade ao menos, de me dar os lírios, e também as rosas. Basta-me a vontade, que tens, se a tiveres, de me dar os lírios, e as rosas também. E terei os lírios – os melhores lírios – e as melhores rosas, sem receber nada. A não ser a prenda, da tua vontade, de me dares lírios, e rosas também.” Maravilhoso! Estupendo! Magnífico! Drummond e Pessoa representam a beleza que enfrenta a indiferença do mundo.

            E, se os trouxe aqui e agora, não o faço à toa. Sou motivado também por esse sentimento, inerente à poesia: a esperança! Porque o nascimento é uma expectativa, um arrebatamento, uma luz, uma promessa, uma poesia! E Ferreira Gullar (1930-2016)? Gullar disse poetizando sobre estar vivo ou estar morto (“Poema Sujo”) escreveu: “...Corpo meu corpo corpo que tem um nariz assim uma boca dois olhos e um certo jeito de sorrir de falar que minha mãe identifica como sendo de seu filho que meu filho identifica como sendo de seu pai... corpo que se pára de funcionar provoca um grave acontecimento na família: sem ele não há José Ribamar Ferreira não há Ferreira Gullar e muitas pequenas coisas acontecidas no planeta estarão esquecidas para sempre... [meu corpo] desde então segue pulsando como um relógio num tic tac que não se ouve (senão quando se cola o ouvido à altura do meu coração) tic tac tic tac enquanto vou entre automóveis e ônibus entre vitrinas de roupas nas livrarias nos bares tic tac tic tac pulsando há 45 anos esse coração oculto pulsando no meio da noite, da neve, da chuva debaixo da capa, do paletó, da camisa debaixo da pele, da carne...” E então perguntaram a Gullar porque ele escrevia poemas e ao que o poeta respondeu (“História humana”): “A história humana não se desenrola apenas nos campos de batalhas e nos gabinetes presidenciais. Ela se desenrola também nos quintais, entre plantas e galinhas, nas ruas de subúrbios, nas casas de jogos, nos prostíbulos, nos colégios, nas usinas, nos namoros de esquinas. Disso eu quis fazer a minha poesia. Dessa matéria humilde e humilhada, dessa vida obscura e injustiçada, porque o canto não pode ser uma traição à vida, e só é justo cantar se o nosso canto arrasta consigo as pessoas e as coisas que não tem voz.”

            É isso: nada e nem ninguém (especialmente os pretensiosos!) vencerá a poesia, posto que ela é a chama da esperança e tantas outras coisas mais!

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Claudio Zumaeta
Historiador graduado pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC, Ilhéus – BA) Administrador de Empresas graduado pela Universidade Católica de Salvador (UCSAL, Salvador-BA. Membro efetivo da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL




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