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sábado, 21 de janeiro de 2017

A VOLTA - Marília Benício dos Santos

A Volta

          Voltei. É tão bom voltar. Rever os amigos, chegar em casa. Tão bom seria meu Deus, se todos tivessem para onde voltar. Mas um dia, depois dessa carreira louca nesse mundo, todos têm para onde voltar.
          Você, meu Deus, está com as portas abertas para receber aqueles que quiserem e que o reconhecer como senhor de todos.
          É bom recomeçar. E foi com alegria que recomecei meus passeios matinais.
          Fui ver o mar. Quarenta e cinco dias sem o ver. Como você estaria meu querido mar? Azul, esverdeado, tranquilo ou as ondas muito fortes? E lá me fui ansiosa para vê-lo. É tão bom estar perto de você novamente. Senti uma alegria imensa ao vê-lo. Suas ondas mais bonitas pareciam convidar-me. Você hoje estava mais bonito. O seu azul confundiu-se com o azul do céu.
          Mas de repente – olhei a bandeira branca, bandeira branca, amor – te peço paz.
          Meu Deus! Será que você, meu querido mar, estava pensando que eu estava brigada, que estava de mal com você?           Não me viu mais aparecer e pensou que eu o havia abandonado. Não, meu querido, estava viajando e por onde andei levei você no coração. Em paris não o vi, mas você estava presente em minha fantasia.
          Fico triste só em pensar que você sentiu minha falta. Não, não estou triste, estou alegre. É bom a gente ser lembrada e, sobretudo, ser amada. O meu mar querido pode por a bandeira vermelha, gosto de vê-lo com as ondas furiosas, batendo com força na areia e nas pedras. Só assim o terei só para mim, apesar de não possuí-lo, mas, ninguém também o possui. Em minhas fantasias, eu o tenho. Você abre os braços para mim e como na estória da carochinha, eu consigo chegar perto e, como nos sonhos de fadas, um caminho se faz para eu passar.


(CARROSSEL)
Marília Benício dos Santos

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            Marília escreve  como quem canta. Naturalmente. Em sua prosa fluente e agradável sentimos a vida palpitando, mesmo nos acontecimentos mais triviais. Fragmentos do tempo, suas próprias vivências constituem seu tema predileto, o qual sob uma aparência singela representa, em última análise, um diálogo ininterrupto com Deus e com o mundo. Não se pense, porém, que se trata de um livro religioso no sentido estrito da palavra. Em momento algum, a autora tenta provar o que quer que seja. No desdobrar de suas reflexões despontam os sentimentos mais intensos do seu coração e Marília possui aquela qualidade tão rara em nosso tempo e tão marcante dos autores místicos: a capacidade de transformar o seu dia-a-dia em uma busca constante de encontro entre a criatura e o Criador.
          Lendo este livro, ou melhor, saboreando suas páginas, aos poucos nos apercebemos de que o trivial é, para Marília, o lugar próprio do encontro e do diálogo. Assim, ela nos prende e nos encanta desde o primeiro momento, precisamente pelo fato de que canta a vida, em suas alegrias e em suas tristezas, mas. Sempre, na perspectiva feliz da esperança.

Ligia Costa Moog (Prefácio do livro Carrossel de Marília Benício dos Santos)

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