Tem sentido isso?
O primeiro poema que aprendi em minha vida, no início da
juventude, apareceu um poeta que foi fazer um recital no cinema (em S. Amaro da
Purificação esses eventos literários, eram comuns), e declamou sendo muito
aplaudido:
NÃO ENTENDO
Não entendo, não entendo,
Pelas ruas da cidade,
Havia um louco dizendo:
As casadas sempre puras,
As viúvas procedem bem,
As mocinhas coitadinhas,
De donzelas o nome tem!
No entanto os asilos
Vão enchendo de pequeninos,
Meu Deus me responda:
De quem são esses meninos?
Infelizmente, pelos sessenta anos passados, não lembro-me
quem ele falou que era o autor (uma pena), mas, curiosamente, peguei o programa
do espetáculo e terminei decorando esse histórico e sempre atual poema!
Temos a desditas de ver, atualmente e crescentemente, o
número absurdo de milhões de crianças abandonadas, a grande maioria sem a
felicidade de encontrar abrigos em instituições governamentais, vivendo
precariamente em suas favelas, embaixo das pontes, construções abandonadas,
bancos de jardins ou embaixo de marquises! Mais lamentável ainda é ter a
tristeza de vê-las remexendo latas de lixo e apanhando restos contaminados para
se alimentarem.
Repugna-me e sinto dor no coração, principalmente quando
vejo nos jornais, revistas e televisões, grupos enormes de dondocas, atores e
atrizes, fazendo campanhas fervorosas para salvar os cães e gatos abandonados,
mostrando seus animaizinhos de estimação com roupinhas, colares, laços de
fitas, maletas especiais para transportes, planos de saúde, etc.
Em nenhuma hipótese sou contra os animais domésticos, acho
claro e lógico que seus donos tenham cuidados especiais, porém, que suas
preocupações externas e públicas sejam com nossas crianças que, logicamente,
são humanas e vivem sofrendo num mundo desigual e desumano!
Reafirmo que não tem sentido isso, ou seja, as grandes
preocupações e movimentos, muito mais pelos gatos e cachorros que com as
crianças, pois, comprovadamente, com essa vida de desprezo, discriminação e
abandono, terminam como já presenciamos, se transformando em verdadeiros
marginais e bandidos!
Falei apenas citando os cães e gatos, mas, conheço um rato
branco que tem vida de príncipe: Casa, comidinha, cama e roupinhas lavadas!
Antonio Nunes de Souza, escritor – Membro da Academia Grapiúna
de Letras– AGRAL
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