O PMDB é autêntico teste de stress da democracia brasileira
16 de Dezembro de 2016
Por Mario Sabino*
Hoje o meu filho caçula completa onze anos. A data familiar me remete a uma data nacional: em maio de 2005, eclodiu o mensalão. Lá se vão mais de onze anos, portanto, que enfrentamos a organização criminosa que se instalou no poder. E não é verdade que ninguém podia imaginar que ela andava fazendo coisa ainda pior. Tudo estava na nossa frente — o petrolão, o eletrolão e outros esquemas coligados que o PT e os seus cúmplices engendraram para roubar o país do seu passado, presente e futuro.
Tudo estava na nossa frente, mas a esmagadora maioria de nós se recusava a ver. Seja porque a economia, dopada pelo crédito abundante, parecia ir bem, seja porque havia a crença de que um governo do PT, esquerdista, era necessariamente uma etapa a ser vencida para a consolidação da democracia brasileira.
Tal crença encontrou solo fértil na sociologia tucana. O raciocínio era de que Lula, em especial, significava o teste de stress ideológico que a democracia não havia conseguido superar em 1964, com João Goulart. Quando estourou o mensalão, não foram poucos os tucanos que viram "golpismo" na forma como a imprensa tratou o escândalo. Como se a roubalheira provada e mensurada fosse um exagero das mesmas forças que impediram que o país ultrapassasse o teste de 1964. Essa mentira apregoada pelo petismo (e repetida no petrolão) florescia como verdade ainda que relativa nas cabecinhas sociológicas tucanas. Sim, roubaram, fizeram, está certo, porém a direita é demasiado moralista e…
… Onze anos mais tarde, estamos aqui, não mais com o PT, ainda bem, mas ainda com o PMDB. Esse PMDB que, desde os anos 90, cresceu à sombra da sociologia tucana e floresceu sob o manto da ideologia petista.
O PMDB, eu já disse, é endógeno ao país. O espetáculo repugnante que ele nos proporciona é mais brasileiro do que os dos partidos que o alimentaram. O PMDB existe desde antes da sua fundação. Os seus efeitos deletérios foram descritos pelo escritor Lúcio Cardoso, em 1949: “Não sei que caos é este a que se referem nossos articulistas políticos, e que, segundo eles, já se aproxima. Engano: há muito estamos nele. O Brasil é um prodigioso produto do caos, uma rosa parda de insolvência e de confusão. A verdade é que já nos acostumamos com isso, não dói mais, como certas doenças malignas.”
O PMDB é um tumor maligno que precisa nos causar dor, para que possamos vencê-lo. O PMDB é o autêntico teste de stress da democracia brasileira.
*Mario Sabino acaba de lançar o livro "Cartas de um
antagonista — Jornalismo na selva selvagem brasileira", que reúne artigos
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