Revolucionárias feministas comemoram aprovação da matança de
inocentes nascituros na Argentina
“Ai daqueles que estabelecem leis perversas e continuamente
escrevem leis de injustiça” (Isaías 10: 1).
“Há algo mais iníquo do que a exaltação do orgulho; há algo
mais perverso do que a ignorância da Soberania de Deus; há uma coisa mais
perversa do que a universalidade da impiedade […]. Esta coisa mais perversa do
que todas as iniquidades é a introdução do mal nas leis”. (Padre Augustin
Lemann).
Fonte: Sociedad Ecuatoriana Tradición y Acción
Diante da aprovação do hediondo crime do aborto na
Argentina, quisemos destacar o texto citado acima, do Padre Augustin
Lemann [foto abaixo], a fim de expor a gravidade do pecado que acaba de ser
institucionalizado naquele país vizinho e os castigos aos quais se expõe uma
nação que pratica uma ofensa tão grande que, de acordo com a doutrina da Santa
Igreja Católica Romana Apostólica, clama ao Céu e a Deus por punição.
Uma análise séria da situação argentina nos leva a
considerar que os demais países da América Latina também se encontram em grave
perigo, pois uma onda radical, revolucionária e anticristã, apoiada por
diversos organismos internacionais, trabalha incansavelmente há vários anos
para destruir os princípios básicos da civilização cristã.
Múltiplas leis perversas vão sendo paulatinamente
implantadas, diante do olhar impassível de muitos que cruzam os braços e
continuam indiferentes suas vidas como se nada estivesse acontecendo. Porém,
até quando tardará a Justiça Divina em intervir?
Padre Augustin Lemann
É uma pergunta que no início de 2021 todos devemos fazer.
Basta um breve olhar sobre a atuação de Deus ao longo da História da
humanidade, consignada nas Sagradas Escrituras, para saber que o Supremo Juiz
não deixa impunes crimes tão hediondos como o assassinato de inocentes,
sobretudo quando tais crimes se tornam lei. Explica o Abade Lemann, ao
interpretar as palavras do profeta Isaías:
“A exaltação do orgulho, a ignorância da Soberania de Deus,
a própria universalidade da impiedade, coisas tão perversas em si mesmas, nada
mais são do que o mal nos fatos. É o mal, sem dúvida sempre crescente, mas
ainda limitado à região dos fatos; enquanto as leis ímpias e os decretos
perversos são o mal que vai além dos fatos e atinge os princípios, é o mal
transportado para a essência das coisas e acantonado no alto.
“Assim morrem as nações: não de maneira precipitada ou
repentina, mas gradualmente e como que por etapas, por causa das iniquidades
dos homens e os correspondentes golpes da justiça de Deus.”
“Com a introdução do mal nas leis, o cativeiro e a morte”
Ante o perigo iminente do castigo, o que fazer?
Nínive e os ninivitas são o exemplo perfeito dado pelas
Sagradas Escrituras de um povo que, percebendo a iniquidade de seus atos, fez
penitência e retornou ao caminho do bem:
“Jonas entrou na cidade e andou um dia proclamando: ‘Em
quarenta dias, Nínive será destruída’. Os ninivitas acreditaram na advertência
de Deus e ordenaram um jejum e se vestiram de saco, do mais velho ao mais novo.
A notícia chegou ao rei de Nínive, que se levantou de seu
trono, tirou a capa, vestiu um saco e sentou-se sobre cinzas. Depois publicou
esta ordem em Nínive: ‘Homens e animais nada comerão nem beberão. Deixe-os
vestir sacos e clamar a Deus com insistência. Que cada um corrija seu mau
comportamento e suas más ações. Quem sabe se Deus se arrependerá e cessará sua
ira, para que não nos faça morrer?’ Quando Deus viu o que eles estavam fazendo
e como se arrependeram de seu mau comportamento, Ele também se arrependeu e não
os puniu como os havia ameaçado” (Jonas 3, 6-10).
Imagem de Na. Sra. do Bom Sucesso
Penitência, oração e verdadeiras conversões é o caminho
traçado não apenas pelas Sagradas Escrituras, mas também por Aquela que é a
porta do Céu sempre aberta e Mãe de Misericórdia, Maria Santíssima, que em suas
múltiplas aparições nos últimos séculos tem avisado a humanidade sobre a
consequência dos pecados do mundo e a Grande Consolação para aqueles que,
permanecendo fiéis, lutam pela implantação de seu Reino na Terra.
“Quando eles parecerem triunfantes, e quando a autoridade abusar de seu poder,
cometendo injustiças e oprimindo os fracos, estará próxima a sua derrota. Cairão
por terra estatelados…!”
“Terá chegado minha hora em que Eu, de maneira assombrosa,
destronarei o orgulhoso Satanás, pondo-o debaixo de meus pés e acorrentando-o
no abismo infernal, deixando finalmente a Igreja e a Pátria livres dessa cruel
tirania”. (Revelação de Nossa Senhora do Bom Sucesso, Quito – Equador).
Meu pai
dizia que Pedro Longuinho era um carpinteiro ordinário. Acrescentando:
- Nunca
aprendeu a arte.
Pedro era
primo terceiro de minha mãe – esmirrado, ombros estreitos e cabelo escorrido
caindo sobre a testa. Sua fala era quase um resmungo. Ele não tinha filho e
residia com a mulher numa casa abarracada em uma rua que ia dar na beira do rio,
onde havia uma ponte de madeira.
Os
transportes para a cidade eram escassos e ruins e ele havia acertado fazer umas
cancelas numa fazenda distante três léguas. Como meu pai tinha bom conhecimento
com proprietários de caminhões, Pedro apadrinhou-se dele para conseguir um
lugar no primeiro carro que aparecesse.
- Graças a
Deus estarei na fazenda bem antes do meio-dia. – Ele falou para a mulher que
ajeitava uns bilros numa almofada feita de chitão.
- Homem, o
carro é seu? Então não fique aí fazendo planos à toa. – Advertiu-lhe ela.
Antes de
ter uma confirmação do meu pai, ele começou no domingo à tarde a arrumar as
coisas num bocapio enorme. Chovia e o rio vinha enchendo rápido. Os moradores
falavam que “já subiu mais de um metro”. Isso preocupava Pedro que tinha plano
de viajar no dia seguinte bem cedinho.
- É, a
ponte é muito alta. Para o rio chegar até o lastro dela precisa de um mundo de água,
e a chuva não está tão grossa assim – comentou para a mulher sentada ao lado da
almofada de chitão, enquanto arrumava coisas num bocapio – serrote, martelo,
enxó, esquadro, compasso; calça velha, uma camisa de brim, um pedaço de fumo de
corda e o que ia lembrando. Não queria deixar nada para a última hora.
Quando o dia amanheceu, ele pulou da
cama, coou café, cozinhou aipim e deu milho às galinhas no terreiro do quintal;
vestiu uma roupa limpa, calçou os borzeguins amarelos, fez algumas
recomendações à mulher e saiu rua a fora, com o bocapio, em direção à cabeceira
da ponte onde costumavam esperar transporte. Por algum tempo ficou de pé, teso,
bocapio ao lado, certo de que o caminhão arranjado por meu pai não iria
demorar. Mais de uma hora depois ele cansou e resolveu sentar-se numa pedra
grande que havia perto da cabeceira da ponte, onde ficou chupando roletes de
cana, olhando para o rio que parecia baixar.
- Inda bem
que a chuva passou e o rio está secando, resmungou para si mesmo. O caminhão só
apareceu próximo das dez horas, quando Pedro já se encontrava aporrinhado.
Junto a ele o carro parou. O motorista, sujeito sarará e barrigudo, de bigode
cheio, desceu da cabine e perguntou-lhe:
- Pedro
Longuinho é o senhor?
- Pois
não! – respondeu ele, saliente.
- ... É. Mestre Chico me falou para levá-lo
até uma fazenda. Mas olhe a situação. Houve um imprevisto... – disse o
motorista apontando para a carroceria do caminhão cheia de vacas leiteiras, e
para a cabine onde iam duas mulheres com uns meninos ao colo. Pedro,
sustentando o bocapio pesado como chumbo, ficou entalado e quando o carro sumiu
na curva depois da ponte, ele resmungou, com raiva. “Diabo os leve!” – jogando
para um lado o resto dos roletes espetados em taliscas de bambu.
(LINHAS INTERCALADAS)
Ariston Caldas
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Ariston Caldas nasceu em Inhambupe, norte da
Bahia, em 15 de dezembro de 1923. Ainda menino, veio para o Sul do estado,
primeiro Uruçuca, depois Itabuna. Em 1970 se mudou para Salvador onde residiu
por 12 anos. Jornalista de profissão, Ariston trabalhou nos jornais A
Tarde, Tribuna da Bahia e Jornal da Bahia e fundou o periódico ‘Terra
Nossa’, da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado da Bahia; em
Itabuna foi redator da Folha do Cacau, Tribuna do Cacau, Diário de
Itabuna, dentre outros. Foi também diretor da Rádio Jornal de Itabuna.
Clique sobre as fotos, para vê-las no tamanho original
Editora da UESC Lança Três Livros
Novos do Autor Cyro de Mattos
A Editus, editora da Universidade Estadual de Santa Cruz,
acaba de publicar três livros novos do ficcionista e poeta Cyro de Mattos. Os
livros formam a Coleção Infância Livre e são estes: Nada Era Melhor, romance da
infância, O Discurso do Rio, poesia, e Pequenos Corações, contos. O tema é a
infância, retratada nos sentimentos que o autor teve na sua cidade natal, naqueles
idos longe da diversão dos jogos eletrônicos de hoje.
A infância aqui circula como expressão do sonho e da
liberdade, nostalgia e inconformismo. Uma fusão de saudade e dor encontramos
nos trinta sonetos de O Discurso do Rio. Uma representação da infância com as
marcas da aventura generosa vemos nos episódios de Nada Era Melhor. Em Pequenos
Corações, contos de meninos, vivemos dentro de nós a vida que em cada episódio
ela suscita com os ritos de passagem, ora alegres, ora tristes.
Fachada ocidental da Abadia de Westminster (Londres)
Plinio Maria Solimeo
Cumpro minha promessa voltando ao tema da atração da
juventude pela verdadeira beleza das igrejas. O que tratei recentemente,
ancorado numa notícia do jornal The Telegraph e comentada pelo Prof.
Gabriel Ferreira, da Unisinos, vai na linha do que diz o Conselho Pontifício
para a Cultura, no documento Via Pulchritudinis:
“O
caminho da beleza responde ao íntimo desejo de felicidade que reside no coração
de cada pessoa. Abrindo horizontes infinitos, leva a pessoa humana a empurrar
para fora de si mesmo, desde a rotina do efêmero instante, até o Transcendente
e Mistério, e procura, como objetivo final da busca pelo bem-estar e nostalgia
total, essa beleza original que é o próprio Deus, criador de toda a beleza”.
A beleza é uma das mais cativantes perfeições divinas, pois ela nos remete ao
Criador e nos leva a amá-Lo. Ensina São Tomás que os seres criados à imagem e
semelhança de Deus participam e refletem de algum modo a beleza divina. Os
limites de um artigo não permitem uma análise desse transcendental em todos
seus aspectos, mas apenas no efeito que se manifesta na arquitetura cristã
sobre os jovens de hoje.
Temos de recorrer ao passado, pois com a abertura da Igreja
para o mundo depois do Concílio Vaticano II, praticamente todos os aspectos do
campo eclesiástico, como a liturgia, a “música” sacra, a arquitetura,
enfim tudo se sucumbiu à feiúra e ao mau gosto que passaram a dominar as
exterioridades da vida religiosa, perdendo todo e qualquer atrativo.
O que mais
surpreende é esse interesse da juventude pelo belo na arquitetura religiosa é
universal. A título de exemplo, citamos o que ocorre na Universidade de Santo
Tomás de Aquino, em Nebraska/Lincoln. Como grande parte dos seus 25 mil alunos
frequentava a missa na capela do Campus, esta se tornou pequena, sendo preciso
construir outra.
Além do bom
sinal de crescente religiosidade entre a juventude, algo de espetacular se
passou com o projeto da nova capela. Os alunos se interessaram tanto pela
construção do templo que procuraram modelos de igrejas tradicionais, sobretudo
das que lhes mais agradavam, a fim de dar sugestões sobre seu embelezamento.
Tanto o
bispo responsável pela Universidade quanto os arquitetos do projeto são também
partidários de um reviver da arquitetura religiosa clássica. Afirma o bispo Dom
John Conley: “Nós pensamos que o estilo e toda a estrutura da igreja de
Santo Tomás de Aquino comunicam beleza, e beleza atrai […]. Nós acreditamos que
os estudantes serão atraídos por isso. Aliás, eles já estão sendo. Sempre há
estudantes rezando lá”.
Para o arquiteto Kevin Clark, “é incrível ver alunos
católicos e não-católicos participarem da beleza física do edifício. Isso faz
parte da conversa entre eles, e é uma coisa que intriga. Há uma série de não-católicos
com quem me deparo quando estou dando voltas na igreja […]. Eles só querem
estar lá, só querem ver aquilo, e a igreja realmente se tornou um elemento
capital da cidade”.
Outro
exemplo da abertura dos jovens para a beleza dos edifícios religiosos, ocorreu
no Centro Católico da Universidade de St. Paul, em Madison, Wisconsin. Lá
também uma nova capela foi construída tendo como objetivo inspirar a beleza da
arquitetura católica tradicional. A razão foi a mesma: “os estudantes
estão sedentos de beleza”.
Outro
estudo recente mostrou que a beleza era uma das razões mais importantes pelas
quais as pessoas vêm e ficam no catolicismo. A construção precisa ser grande,
linda e visível o suficiente para que os estudantes percebam isso. Os alunos
comentam que seus amigos não entendem como o prédio de concreto cinzento ao
lado da livraria [a antiga capela em arte moderna] possa ser uma igreja.
Esperemos que esse movimento tão salutar do reviver do
interesse pelo belo religioso contagie também os jovens brasileiros, os quais,
apesar de tudo, representam maioria da população ainda católica.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo
Mateus.
— Glória a vós, Senhor!
Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judeia, no tempo
do rei Herodes, eis que alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém, perguntando:
“Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no
Oriente e viemos adorá-lo”.
Ao saber disso, o rei Herodes ficou perturbado, assim como
toda a cidade de Jerusalém. 4Reunindo todos os sumos sacerdotes e os
mestres da Lei, perguntava-lhes onde o Messias deveria nascer. Eles
responderam: “Em Belém, na Judeia, pois assim foi escrito pelo profeta: E
tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre as principais cidades
de Judá, porque de ti sairá um chefe que vai ser o pastor de Israel, o meu
povo”.
Então Herodes chamou em segredo os magos e procurou saber
deles cuidadosamente quando a estrela tinha aparecido. Depois os enviou a
Belém, dizendo: “Ide e procurai obter informações exatas sobre o menino. E,
quando o encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-lo”.
Depois que ouviram o rei, eles partiram. E a estrela, que
tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até parar sobre o lugar onde estava
o menino. Ao verem de novo a estrela, os magos sentiram uma alegria
muito grande. Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua
mãe. Ajoelharam-se diante dele e o adoraram. Depois abriram seus cofres e lhe
ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra. Avisados em sonho para não
voltarem a Herodes, retornaram para a sua terra, seguindo outro caminho.
"Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo” (Mt
2,2)
A festa da Epifania é a mais antiga que se
conhece. Era a única festa de Natal celebrada em toda a Igreja, até que no
Ocidente passou a ser celebrada no dia 25 de dezembro. A palavra “epifania”
significa, em grego, “manifestação”, referindo-se sobretudo à primeira claridade
da manhã, antes do nascer do sol. Depois passou a significar a “manifestação”
de Deus a todos os povos, pois Ele inunda com sua Luz todos os recantos escuros
de nossa existência.
Mais uma vez a Epifania grita para que nos levantemos e,
iluminados pela Luz do Nascimento de Jesus, sejamos espelhos que refletem essa
mesma Luz, iluminando toda a realidade envolta em trevas.
Tanto no nível pessoal como comunitário, sejamos luz do
mundo, e não nos cansemos de proclamar a todos que nosso Deus se manifesta nas
coisas simples e palpáveis, próximas: como um menino que nasce, ou como uma
expressão infantil de assombro e surpresa frente ao diferente, ou como cada um
dos gestos que podemos e devemos fazer para abrir espaço ao Deus da Vida e
àqueles que, como novos “magos”, vêm ao nosso encontro...
A celebração da Epifania nos lança para além dos
estreitos limites de qualquer instituição religiosa, de todo dogmatismo,
fanatismo e intolerância... Deus se manifesta sempre a todos os povos e em
todas as épocas. Todos os homens e mulheres estão sob a mesma mão providente de
Deus. No momento em que nos sentimos privilegiados por Deus, fazemos a mensagem
desta festa virar pó. Todos recebemos tudo de Deus e todos temos a obrigação de
aprender e ensinar uns aos outros; todos temos a nobre missão de acender uma
luz, em lugar de maldizer as trevas; todos temos uma estrela a nos guiar até à
fonte da verdadeira Luz.
Aqui não se trata de buscar, no relato da Epifania, um fundo
histórico, no sentido moderno da palavra. O importante não é o que está por
“detrás” da narração, mas o que nela se manifesta, a saber: os sábios do oriente representam
a humanidade em busca de paz, verdade e justiça; representam a aspiração
profunda do espírito humano, a marcha das religiões, da ciência e da razão humana
ao encontro de Cristo.
O caminho dos magos que buscam o Menino Jesus é o caminho de
todos os homens e mulheres, de todas as raças e religiões... O Jesus de Belém
está sempre disposto a receber o ouro da cultura dos povos, o incenso de
todas as expressões religiosas, a mirra de todas as dores.
Os Magos do Oriente são o símbolo de tantos homens
e mulheres que, em qualquer parte do mundo, a partir de outras sendas e
tradições espirituais, se perguntam, buscam e caminham.
Uma lenda os apresenta como um rei jovem, outro ancião e
outro negro, querendo significar que a humanidade toda é mobilizada a “fazer-se
caminho”.
Nesse percurso, os Magos escutam outras palavras e
sinais, aprendem a filtrar aquilo que “ajuda para o fim” e a não seguir
qualquer conselho. Herodes e os escribas estarão sempre presentes e ameaçam
reaparecer antes, durante e depois do encontro com o Menino.
E toda viagem que culmina na manjedoura, é ponto de partida
para novos caminhos.
O ícone bíblico do relato dos Magos ilustra o
risco do fechamento em nós mesmos, de enredar-nos nas armadilhas da nossa
própria inteligência, ou de petrificar-nos em nossas sacralidades doutrinárias
e legais. Isso se manifesta como rigidez para a mudança, a intensa necessidade
de manter a própria imagem, a resistência em aceitar coisas novas que rompam
nosso frágil equilíbrio ou os limites da nossa vontade...
A experiência da Epifania supõe uma capacidade de encontro e
de escuta de Alguém que chama, uma atenção especial para distinguir vozes
diferentes da própria voz, uma sensibilidade para escutar os gritos de nosso
mundo e para receber a palavra da comunidade cristã.
O Deus, escondido na fragilidade humana, não é encontrado
naqueles que vivem encastelados em seu poder ou fechados em sua segurança
religiosa. Ele se revela àqueles que, guiados por pequenas luzes, buscam
incansavelmente uma esperança para o ser humano, na ternura e na pobreza da
vida.
A viagem dos Magos se torna, assim, o símbolo da
vida cristã, entendida como seguimento, como discipulado, como busca.
A viagem exige desapego, coragem, movimento, esperança. Quem
está prêso à terra pelo peso das coisas, pelos apegos, pelos egoísmos, não é
capaz de se tornar peregrino. Não pode peregrinar aquele
que não se dispõe sinceramente a ultrapassar as fronteiras e os esquemas
pré-concebidos que muitas vezes lhe fecham e lhe dão segurança. Isto não o
deixa livre para encontrar o Deus da Vida que se manifesta.
Quem está convencido de possuir tudo, inclusive o monopólio
da verdade, não tem a gana da busca
contínua; é semelhante aos sacerdotes de Jerusalém, frios
exegetas de uma Palavra que não os atrai nem converte. Quem está bem instalado
na cidade não precisa ir a Belém; ao contrário, Belém se
reduz a um insignificante vilarejo de província.
Quando aprende a aceitar e amar a sua própria viagem,
novamente a estrela surgirá à sua frente, indicando o sentido de sua existência
e mantendo acesa a chama da busca inspiradora.
Os “magos” somos todos. Esta é a festa do Deus que
atrai a todos em seu amor. Quando parece que tudo está definitivamente fechado
vem os Magos para abrir as portas da vida. Quando parece que o céu está escuro,
brilha uma estrela para aqueles que querem continuar caminhando.
O Menino Jesus, Messias de Deus, não está fechado no templo
e na estrutura religiosa, mas é coração aberto em Belém para todos os que dele
se aproximam. Não é rei que impõe seu direito, mas criança necessitada, nos
braços de sua mãe. Não é sacerdote que controla a sacralidade divina a partir
do tabernáculo do tempo, mas menino ameaçado que se faz imigrante, assumindo
assim a história de todos os excluídos.
Nós somos “magos” para anunciar a todos que há
estrelas que apontam para a Gruta onde um Menino é acolhido, na rota da vida,
que continua sempre aberta. Devemos mobilizar a todos para criar um mundo onde
nenhum menino-Deus morra abandonado.
Somos “magos” quando experimentamos e anunciamos que a
vida é um dom, que o ouro do mundo é um presente para todos os homens
e mulheres, que os bens da terra estão a serviço da vida, que toda riqueza é
para ser compartilhada para o bem de todos.
Somos “magos” quando temos de dizer a todos, com nosso
exemplo, que a vida é prazer e glória, é incenso de admiração e de ternura, de
intimidade orante e de proximidade. É preciso proclamar que não buscamos a
glória do poder, a vitória da imposição, o incenso da mentira, mas buscamos e
compartilhamos o incenso do amor que pode ser celebrado na intimidade
da família, nas relações pessoais e sociais, no compromisso solidário. Diremos
que sempre haverá um perfume ao nosso lado, ao lado de todos os homens e
mulheres que poderão festejar, sonhar...
Somos “magos” quando revelamos que a vida é feita
também de mirra. Somos todos “mirróforos(as)”, portadores do perfume,
para levar o agradável odor em meio aos ambientes fétidos de ódio, intolerância
e violência. A mirra é o perfume de amor, mas também é o bálsamo da morte. A
mirra é como uma flor preciosa que pode nos acompanhar na vida, no crescimento
de cada dia, na comunhão com os outros, na tristeza e na esperança de cada
despedida.
Que cada morte seja tempo de amor, esperança de amor e não
fruto da violência.
Enfim, a Epifania nos destrava e nos coloca a caminho, seguindo
as “pegadas” dos Magos, fazendo opções, usando desvios, lançando-nos
pessoalmente a ações concretas..., movidos pela experiência de encontro com a
Vida, no despojamento de uma Gruta.
Texto bíblico: Mt 2,1-12
Na oração: Às vezes tenho de me deter na vida, como os
magos, para pensar e sempre me perguntar: onde estou? Em quê momento da vida me
encontro? A quê estrela sigo? Meu caminho tem coração?... É a arte do
discernimento.
A Graça também me precede, me acompanha sempre e libera meus
melhores recursos e minha inteligência para abrir-me ao novo, a abertura que
permite reconhecer o “Mistério” e deixar-me inspirar por Ele.
Pedacinhos coloridos de cada vida que passa pela minha
e que vou costurando na alma.
Nem sempre bonitos, nem sempre felizes,
mas me acrescentam e me fazem ser quem eu sou.
Em cada encontro, em cada contato, vou ficando maior...
Em cada retalho, uma vida, uma lição, um carinho,
uma saudade... que me tornam mais pessoa,
mais humana, mais completa.
E penso que é assim mesmo que a vida se faz:
de pedaços de outras gentes
que vão se tornando parte da gente também.
E a melhor parte é que nunca estaremos prontos,
finalizados...
haverá sempre um retalho novo para adicionar à alma.
Portanto, obrigada a você
que faz parte da minha vida
e que me permite engrandecer minha história
com os retalhos deixados em mim.
Que eu também possa deixar pedacinhos de mim
pelos caminhos e que eles possam ser parte da sua história.
E que assim, de retalho em retalho,
possamos nos tornar, um dia,
um imenso bordado de 'nós'."
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Cora Coralina (1889-1985) foi uma poetisa e contista
brasileira. Publicou seu primeiro livro quando tinha 76 anos e tornou-se uma
das vozes femininas mais relevantes da literatura nacional.
Há uma lenda que,
sem fazer parte da Revelação, nos ensina o que Deus espera de nós.
Dizem que houve um
quarto Rei Mago, que também viu a estrela brilhar em Belém e decidiu segui-la.
Como presente, pensou em oferecer ao Menino um baú cheio de pérolas
preciosas.
No entanto, em seu
caminho, ele encontrou várias pessoas que estavam pedindo sua ajuda.
Esse Rei Mago os
assistiu com alegria e diligência, e deixou a cada um deles uma pérola.
Mas isso estava
atrasando sua chegada e esvaziando seu baú.
Ele encontrou
muitos pobres, doentes, aprisionados e miseráveis, e não podia deixá-los sem
supervisão.
Ficou com eles pelo
tempo necessário para aliviar suas dores e depois partiu, sendo novamente
interrompido por outro desamparado.
Aconteceu que
quando finalmente chegou a Belém, os outros magos não estavam mais lá e o
Menino fugira com seus pais para o Egito, porque o rei Herodes queria
matá-lo.
O Rei Mago
continuou procurando-o sem a estrela que o guiara antes.
Ele procurou e
procurou e procurou ...
Dizem que ele
passou mais de trinta anos viajando pela terra, procurando a Criança e ajudando
os necessitados.
Até que um dia
chegou a Jerusalém, justamente quando a multidão enfurecida exigia a morte de
um homem pobre. Olhando-o, ele reconheceu algo familiar em seus olhos. Entre
dor, sangue e sofrimento, pode ver em seus olhos o brilho daquela
estrela.
O miserável que
estava sendo executado era a criança que ele havia procurado por tanto tempo.
A tristeza encheu
seu coração, já velho e cansado pelo tempo. Embora ainda guardasse uma pérola
na bolsa, era tarde demais para oferecê-la à criança que agora, transformada em homem, pendia de uma cruz.
Ele havia falhado
em sua missão. E sem mais para onde ir, ficou em Jerusalém para esperar a morte
chegar.
Apenas três dias se
passaram quando uma luz ainda mais brilhante do que mil estrelas encheram seu
quarto. Foi o Ressuscitado que veio ao seu encontro!
O Rei Mago, caindo
de joelhos diante dele, pegou a pérola que ficou e estendeu-a a Jesus, que a
segurou e carinhosamente disse:
"Você não
falhou. Pelo contrário, você me encontrou por toda a sua vida. Eu estava nu e
você me vestiu. Eu estava com fome e você me deu comida. Eu estava com sede e você
me deu uma bebida. Eu fui preso e você me visitou. Bem, eu estava em todas as
pessoas pobres que você assistiu no seu caminho. Muito obrigado por tantos
presentes de amor! Agora você estará comigo para sempre, porque o Céu é a sua
recompensa".
A história não
requer explicação ...
Somos o quarto Mago
e damos continuidade ao seu trabalho todas as vezes que ajudamos alguém ao
longo dessa caminhada chamada Vida.