Santa Casa de Misericórdia de Itabuna
Cyro de Mattos
A Santa Casa de Misericórdia de
Itabuna nasceu quando a cidade ainda tropeçava nas pernas, estava prestes a
completar seu sexto ano de emancipação política, com a finalidade de atender às
precárias e muitas necessidades da população no setor da saúde, em especial
para prestar atendimento às pessoas carentes. Veio acompanhada da expectante
esperança para proteger a vida na experiência do cuidar.
Naqueles idos de 1900, a cidade
estava em plena expansão econômica e social decorrente de sua pujante economia
com bases na lavra cacaueira, que começava a se impor como uma auspiciosa fonte
de divisas para a Bahia. Itabuna, que no
início havia sido um burgo de penetração, na época da conquista da terra, com o
seu povo vocacionado para o trabalho necessitava de uma casa hospitalar digna.
As precárias condições de saneamento favoreciam a eclosão de epidemias e a
manutenção de endemias, que ensejavam altas taxas de doenças e mortalidade nos
dias e anos.
Em boa e abençoada hora, na noite
de 4 de julho de 1916, na residência do
Monsenhor Moysés Gonçalves do Couto, reuniram-se trinta senhores da comunidade
com o objetivo de fundar a Santa Casa de Misericórdia, que a princípio se
incumbiria de criar um hospital e um cemitério, paralelamente à sua atuação se
prestaria em atender às obras de caridade.
Segundo pesquisadores locais, em
28 de janeiro de 1917, tomam posse nessa humanitária instituição os que foram
eleitos para o seu corpo associativo, tendo como seu primeiro provedor o
Monsenhor Moysés Gonçalves do Couto. Fixada a data de 07/09/1922 como a de seu
marco inicial, nesta foi inaugurado o Hospital Santa Cruz, hoje Calixto Midlej
Filho; logo após veio o Cemitério Campo Santo, em 07/09/1925, e, em 29/06/1953,
era a vez do Hospital Manoel Novaes acontecer e se incorporar ao seu
patrimônio. Em 1993 criou-se o Plano Próprio de Saúde, como forma de agregação
de receita, e em 2009 o Hospital São Lucas.
Ao longo de sua saga de natureza
humaníssima, a Santa Casa de Misericórdia tem sido um espaço valoroso para o
exercício da Medicina, em suas diversas manifestações de sacerdócio e
sacrifício. Tornou-se com a passagem das
estações um centro de atuação médica exemplar, inovadora, com profissionais e
equipes competentes fez-se referência maior no ofício de salvar e curar a vida,
nessa atividade em que homens e mulheres de branco não se intimidam em lutar
contra a morte.
Médicos ilustres exerceram sua
vocação no Hospital Santa Cruz e contribuíram para o desenvolvimento das
ciências médicas na comunidade e Região. E, entre eles, figuram na Galeria da
Experiência do Cuidar o legendário Alício Peltier de Queirós, José da Silva
Pinto, Sílvio Porto, José Orlando Mattos, Amilton Gomes, João Otávio, Raimundo
Freire, Pedro Bezerra, Moacir Oliveira, Júlio Brito, Antônio Menezes, Pedro
Bezerra e Ana Paula Shr Barreto. Alguns deles foram alçados ao patamar de
Provedor da Santa Casa de Misericórdia.
Os serviços prestados por essa
instituição de valor inestimável são reconhecidos com prêmios e distinções por
excelência, em nível estadual e nacional. Sua marca de importância ímpar
consolida-se cada vez mais por meio de padrões nacionais de qualidade, com foco
no ensino, inovação, pesquisa e sustentabilidade. Seus ideais são cristãos, sua
ética prima pela transparência, responsabilidade social, ambiental e cultural.
A galeria de profissionais competentes que vem atuando nos seus diversos
setores, médicos, enfermeiros, técnicos, funcionários e outros servidores
formam um corpo consistente em cuja alma aflora a força da Medicina para
sustentar a vida.
Capítulo de rico significado na
história de Itabuna, a Santa Casa de Misericórdia motivou-me a escrever um
poema, que está incluído em nosso livro Cancioneiro do Cacau, uma
epopeia da saga grapiúna, evocativa de seus mistérios e da caminhada do homem
na selva hostil e impenetrável, rumo à construção de uma civilização com
caracteres próprios, desde os tempos primitivos na infância da selva aos da
vassoura de bruxa. Transcrevo abaixo o
poema:
Santa Casa de Misericórdia
Cyro de Mattos
Era preciso um leito
que abrigasse a agonia.
Para aliviar, curar
era preciso um leito.
Monsenhor Moysés Couto
sem hesitar dizia.
A esperança plantou-se
lá no alto da colina.
Canto de um dia novo
soube a cidadezinha.
Santa Casa que aclara,
Santa Casa das dores.
No leito esse duelo
da noite contra o dia.
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Poema Santa
Casa de Misericórdia, de
Cyro de
Mattos, fixado em monumento,
como
homenagem ao Monsenhor Moysés
Couto.
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CYRO DE MATTOS é
ficcionista, poeta, cronista, ensaísta e autor de literatura infantojuvenil.
Membro efetivo da Academia de Letras da Bahia. Doutor Honoris Causa da UESC
(Bahia). Possui prêmios importantes. Publicado no exterior.
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