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segunda-feira, 10 de junho de 2024

Santa Casa de Misericórdia de Itabuna

Cyro de Mattos






 

A Santa Casa de Misericórdia de Itabuna nasceu quando a cidade ainda tropeçava nas pernas, estava prestes a completar seu sexto ano de emancipação política, com a finalidade de atender às precárias e muitas necessidades da população no setor da saúde, em especial para prestar atendimento às pessoas carentes. Veio acompanhada da expectante esperança para proteger a vida na experiência do cuidar.

 

Naqueles idos de 1900, a cidade estava em plena expansão econômica e social decorrente de sua pujante economia com bases na lavra cacaueira, que começava a se impor como uma auspiciosa fonte de divisas para a Bahia.  Itabuna, que no início havia sido um burgo de penetração, na época da conquista da terra, com o seu povo vocacionado para o trabalho necessitava de uma casa hospitalar digna. As precárias condições de saneamento favoreciam a eclosão de epidemias e a manutenção de endemias, que ensejavam altas taxas de doenças e mortalidade nos dias e anos.

 

Em boa e abençoada hora, na noite de 4 de julho de 1916, na residência do Monsenhor Moysés Gonçalves do Couto, reuniram-se trinta senhores da comunidade com o objetivo de fundar a Santa Casa de Misericórdia, que a princípio se incumbiria de criar um hospital e um cemitério, paralelamente à sua atuação se prestaria em atender às obras de caridade.

 

Segundo pesquisadores locais, em 28 de janeiro de 1917, tomam posse nessa humanitária instituição os que foram eleitos para o seu corpo associativo, tendo como seu primeiro provedor o Monsenhor Moysés Gonçalves do Couto. Fixada a data de 07/09/1922 como a de seu marco inicial, nesta foi inaugurado o Hospital Santa Cruz, hoje Calixto Midlej Filho; logo após veio o Cemitério Campo Santo, em 07/09/1925, e, em 29/06/1953, era a vez do Hospital Manoel Novaes acontecer e se incorporar ao seu patrimônio. Em 1993 criou-se o Plano Próprio de Saúde, como forma de agregação de receita, e em 2009 o Hospital São Lucas.

 

Ao longo de sua saga de natureza humaníssima, a Santa Casa de Misericórdia tem sido um espaço valoroso para o exercício da Medicina, em suas diversas manifestações de sacerdócio e sacrifício.  Tornou-se com a passagem das estações um centro de atuação médica exemplar, inovadora, com profissionais e equipes competentes fez-se referência maior no ofício de salvar e curar a vida, nessa atividade em que homens e mulheres de branco não se intimidam em lutar contra a morte.

 

Médicos ilustres exerceram sua vocação no Hospital Santa Cruz e contribuíram para o desenvolvimento das ciências médicas na comunidade e Região. E, entre eles, figuram na Galeria da Experiência do Cuidar o legendário Alício Peltier de Queirós, José da Silva Pinto, Sílvio Porto, José Orlando Mattos, Amilton Gomes, João Otávio, Raimundo Freire, Pedro Bezerra, Moacir Oliveira, Júlio Brito, Antônio Menezes, Pedro Bezerra e Ana Paula Shr Barreto. Alguns deles foram alçados ao patamar de Provedor da Santa Casa de Misericórdia.

 

Os serviços prestados por essa instituição de valor inestimável são reconhecidos com prêmios e distinções por excelência, em nível estadual e nacional. Sua marca de importância ímpar consolida-se cada vez mais por meio de padrões nacionais de qualidade, com foco no ensino, inovação, pesquisa e sustentabilidade. Seus ideais são cristãos, sua ética prima pela transparência, responsabilidade social, ambiental e cultural. A galeria de profissionais competentes que vem atuando nos seus diversos setores, médicos, enfermeiros, técnicos, funcionários e outros servidores formam um corpo consistente em cuja alma aflora a força da Medicina para sustentar a vida.

 

Capítulo de rico significado na história de Itabuna, a Santa Casa de Misericórdia motivou-me a escrever um poema, que está incluído em nosso livro Cancioneiro do Cacau, uma epopeia da saga grapiúna, evocativa de seus mistérios e da caminhada do homem na selva hostil e impenetrável, rumo à construção de uma civilização com caracteres próprios, desde os tempos primitivos na infância da selva aos da vassoura de bruxa.  Transcrevo abaixo o poema:



 Santa Casa de Misericórdia

Cyro de Mattos

Era preciso um leito

que abrigasse a agonia.

Para aliviar, curar

era preciso um leito.

Monsenhor Moysés Couto

sem hesitar dizia.

A esperança plantou-se

lá no alto da colina.

Canto de um dia novo

soube a cidadezinha.

Santa Casa que aclara,

Santa Casa das dores.

No leito esse duelo

da noite contra o dia.

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Poema Santa Casa de Misericórdia, de

Cyro de Mattos, fixado em monumento,

como homenagem ao Monsenhor Moysés

 Couto.


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CYRO DE MATTOS  é ficcionista, poeta, cronista, ensaísta e autor de literatura infantojuvenil. Membro efetivo da Academia de Letras da Bahia. Doutor Honoris Causa da UESC (Bahia).  Possui prêmios importantes. Publicado no exterior.


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