Aniversário
Cyro de Mattos
Querida filha
Josefina. Sempre ouvi dizer dos mais velhos que filhos a gente cria para o
mundo. É verdade. Também é verdade que os pais querem que os filhos sempre
fiquem perto deles. Para os pais, o filho nunca cresce, sempre é aquela criança
que a mãe tantas vezes acalentou para dormir um sono suave. Aquela mesma que
balbuciava, mal dizia mamã e pá-pá. Anos depois traquinava, corria por todos os
cantos da casa. O pai também substituía a mãe dedicada quando estava cansada
durante a noite em que o filho acordava e demorava a pegar no sono. Chorava.
Sei que esses momentos você passou com meus dois netos Pedro Henrique e Luís
Fernando. A vida é um modo contínuo, seu curso de rio tem como destino o mar do
inexorável.
Sabemos que os três filhos que Deus me consentiu e sua mãe me deu
não moram comigo na cidade onde nasci e resido. André é fazendeiro, nunca vi
gostar tanto do campo, reside na sua propriedade rural no município de Coaraci.
Você Josefina, que coloquei o nome de sua avó, como homenagem e carinho por
minha mãe, reside em Conquista. O marido Anderson, genro que me dá gosto e
orgulho, levou você para essa terra sertaneja do frio, assim você ficou um
tanto longe de mim e de sua mãe Mariza. Ainda bem que daqui até aí onde você
mora nem fica tão longe. Além disso, seu irmão, meu caçula Adriano, também está
morando em Conquista. Isso é bom, a irmandade continua movimentando os laços
afetivos com encontros constantes.
Hoje você faz mais um ano de vida, intensa, afetiva e responsável
no seio da família. Não estou fisicamente aí participando desse momento especial.
Com 84 anos de idade o corpo reclama, mas seus irmãos André e Adriano, a
sobrinha Marizinha, as cunhadas Jamile e Daiane estão aí com você. Eu estou com
o coração. Quando a parentada do lado de seus pais se juntar à parentada do
maridão, mais os amigos e as amigas, imagino a cantoria entusiasmada que todos
vão fazer na hora do “Parabéns a você.”
Antes dessa
cantoria se fazer, na junção afetiva de corações alegres, quero que sua mãe
Mariza leia agora aquela poesia que eu escrevi para você quando comemorava dez
anos de existência numa infância saudável.
Vejam aí.
Menina Josefina
Enquanto as nuvens passam
Na manhã de sol forte,
Com Miriam, Mara e Marina
Brinca de chicotinho queimado
E mexe com a cintura fina.
Quando está dentro de casa,
Um só minuto não sossega,
Canta alto e mexe em tudo
Na manhã muito traquina.
Na bicicleta azulzinha
Lá se foi dobrando a esquina,
Solta o guidão na ladeira
Como uma vez viu no circo,
Tira fino de quem passa perto,
Pede passagem e buzina.
Se estou cansado e triste,
Somente ela me ensina
Que a vida pula corda
E na cabra-cega diverte
Quando se tem a menina
Que se chama Josefina.
Vida longa, minha filha, com saúde e paz.
Bênçãos e beijos. Seu painho.
------------
Cyro de Mattos é contista, poeta, romancista, ensaísta, cronista e autor de livros para crianças. Membro efetivo da Academia de Letras da Bahia. Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual de Santa Cruz.
* * *
Nenhum comentário:
Postar um comentário