A perda de dona Cleo
O falecimento da
professora Cleonice Berardinelli, aos 106 anos de idade, foi uma perda muito
sentida pela Academia Brasileira de Letras. Sobretudo porque ela representava
uma atenção toda especial com a língua portuguesa, que prezava acima de tudo.
Dona Cleo, como era
conhecida, lecionou na Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de
Janeiro e na Universidade de São Paulo. Nessas duas instituições notabilizou-se
pelo domínio extraordinário da vida e da obra do escritor e poeta Fernando
Pessoa. Lembro bem de um trabalho do acadêmico José Paulo Cavalcanti sobre
Pessoa, examinado e muito elogiado por Dona Cleo. Certamente isso ajudou muito
quando ele se candidatou à Casa de Machado de Assis.
Considerada uma das
maiores especialistas do mundo em literatura portuguesa, Dona Cleo lecionou por
mais de 50 aos na Faculdade Nacional de Filosofia, sendo autora de obras
magistrais como 'Antologia de Teatro de Gil Vicente'(1971), 'Fernando Pessoa,
Obras em Prosa' (1975 e 'Sonetos de Camões', de 1980, todas muito bem
sucedidas.
Ela sucedeu na ABL
outra grande figura da língua portuguesa , que foi o escritor mineiro Antônio
Olinto, um dos diretores do tradicional 'Jornal de Letras'. Deve-se registrar
que ela foi homenageada no cinema com o documentário 'O vento lá fora', em que
apareceu ao lado da Cantora Maria Betânia, lendo sobre a obra de Fernando
Pessoa.
Dona Cleo, no Rio,
fez todos os cursos teóricos e se diplomou sob a orientação do maestro Oscar
Lorenzo Fernandez, que foi seu professor de piano. Já aos 98 anos de idade ela
recebeu o Prêmio Faz Diferença de 'O Globo' na categoria prosa. Como se pode
perceber, a doutora Cleonice Berardinelli foi uma figura de múltiplas
qualidades, daí a admiração por ela granjeada. Trabalhou com grandes mestres da
nossa literatura, como Fidelino de Figueiredo, em São Paulo, e depois Thiers
Martins Moreira, no Rio de Janeiro. Em todos esses mestres deixou impressões
indeléveis. A cultura brasileira ficou muito a dever a ela.
Tribuna do Sertão, 07/02/2023
https://www.academia.org.br/artigos/perda-de-dona-cleo
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Arnaldo Niskier - Sétimo ocupante da Cadeira nº 18 da ABL,
eleito em 22 de março de 1984, na sucessão de Peregrino Júnior e recebido em 17
de setembro de 1984 pela acadêmica Rachel de Queiroz. Recebeu os acadêmicos
Murilo Melo Filho, Carlos Heitor Cony e Paulo Coelho. Presidiu a Academia
Brasileira de Letras em 1998 e 1999.
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