Dísticos
Cyro de Mattos *
O bandolim
Tocou tanto para a lua no jardim
que ficou com as cordas de prata
A Garça
Em cima da pedra,
a noiva pernalta
Infância
O mundo é uma criança
com palhaço e lambança
O Grilo
Todo o peso terrestre
nesse cricri constante
O Beija-flor
Beijar e amar
essa a vida do ar
A Isca
Quando vem à tona
como se arrisca
Adivinha
No avião faz proezas
e é o rei da criação?
A Poesia
Sentimento e pensamento
nos fios sem fim do sonho
O Cais
Água batendo
pedra em saudade
O Rio
Morrendo de sede
Cachoeira o seu nome
O Canário
Pinga cantiga no paraíso
começando de novo.
A Canção
Doce como a chuva
venha comigo se molhar
A Casa
As flores no vaso
a mesa só ternura
A Harpa
Cativante nos céus
enquanto as nuvens sonham
O Pinto
Minúsculo amanhecer
no pio no trisco
Os Janeiros
A cidade de brinquedo
um tempo de frutas
As Formigas
De folhinha em folhinha
o amor pela natureza
O Campeador
No meu burrico
venço a solidão
A Hiena
Gargalhada anuncia
o espectro da fome
O Cão
O meu cão em hino
músculos me festejam
A Avó
Saudade assim
fixa o ouro na memória
O Coqueiro
Abano do vento
folhas pestanejam
*Cyro de Mattos é ficcionista, poeta e ensaísta
* * *
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