A Religião
E um velho
sacerdote disse: “Fala-nos da Religião.”
E ele disse:
“Tenho eu
falado de outra coisa hoje?
Não é a
religião todas as nossas ações e reflexões?
E tudo que
não é ação nem reflexão, mas aquele espanto e aquela surpresa sempre brotando
na alma, mesmo quando as mãos talham a pedra ou manejam o tear?
Quem pode
separar sua fé de suas ações, ou sua crença de seus afazeres?
Quem pode
espalhar suas horas perante si, dizendo: ‘Esta é para Deus, e essa é para mim;
esta é para minha alma, e essa é para meu corpo’?
Todas vossas
horas são asas que adejam através do espaço, passando de um Eu a outro.
Aquele que
veste sua moralidade como veste seus melhores trajes, melhor seria que andasse
desnudo.
O vento e o
sol não cavarão buracos na sua pele.
E aquele que
traça sua conduta pela ética, encarcera seu pássaro cantor numa gaiola.
A mais livre canção não chega através de
barras e arames.
E aquele
para quem a adoração é uma janela a abrir, mas também a fechar, não visitou
ainda o santuário de sua alma, cujas janelas permanecem abertas de aurora a
aurora.
Vossa vida cotidiana é vosso templo e
vossa religião.
Todas as
vezes que penetrais nela, levai convosco todo o vosso ser.
Levai o
arado, a forja, o macete e a lira,
Todas as
coisas que modelaste por necessidade ou por prazer.
Pois nos
vossos sonhos, não podeis elevar-vos acima de vossas realizações nem cair
abaixo de vossos fracassos.
E levai
convosco todos os homens.
Pois na
vossa adoração, não podeis voar acima de suas esperanças nem aviltar-vos abaixo
de seu desespero.
E se quereis
conhecer a Deus, não procureis transformar-vos em decifradores de enigmas.
Olhai,
antes, à vossa volta e encontrá-Lo-eis a brincar com vossos filhos.
E erguei os
olhos para o espaço e vê-lo-eis caminhando nas nuvens, estendendo Seus braços
no relâmpago e descendo na chuva.
E O vereis
sorrindo nas flores e agitando as mãos nas árvores.”
O PROFETA
Gibran Khalil Gibran
Gibran Khalil Gibran - Poeta libanês, viveu na França
e nos EUA. Também foi um aclamado pintor. Seus textos apresentam a beleza da
alma humana e da Natureza, num estilo belo, místico, conseguindo com
simplicidade explicar os segredos da vida, da alegria, da justiça, do amor, da
verdade.
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A LOUCURA EM CADA UM DE NÓS
O Louco é
mais um livro de Gibran composto exclusivamente de parábolas.
Para Gibran,
o louco é um homem que, um dia, por acidente, perde as sete máscaras que ele
“havia confeccionado e usado em sete vidas”. E assim, torna-se capaz de ver o
sol na sua plenitude (isto é, naturalmente, a verdade) e passa a ser tratado
como louco pelos outros homens, ainda separados da luz pelas suas próprias
máscaras.
As parábolas
do livro são cenas da vida, vistas, contadas e julgadas por um homem sem
máscara.
Assim, chega
o leitor a se perguntar: quem é louco e quem não é louco? E o que é a loucura?
Uma estupidez e uma cegueira, ou uma compreensão mais profunda da vida?
Gibran não é
um psiquiatra, mas um sábio e um poeta que nos conduz ao mundo mais fascinante
de todos: o que existe dentro de nós mesmos.
E é lá que
cada um decide se é um louco ou se não é um louco.
Um livro que
nos desafia e nos encanta, e ora nos humilha, ora nos diviniza.
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