A Morte
Então,
Almitra falou, dizendo: “Gostaríamos de interrogar-te a respeito da Morte”.
E ele
disse:
“Quereis
conhecer o segredo da morte.
Mas como
podereis descobri-lo se não o procurardes no coração da vida?
A coruja,
cujos olhos, feitos para a noite, são velados ao dia, não pode descortinar o
mistério da luz.
Se quereis
realmente contemplar o espírito da morte, abri amplamente as portas do vosso
coração ao corpo da vida.
Pois a
vida e a morte são uma e a mesma coisa, como o rio e o mar são uma e a mesma
coisa.
Na
profundidade de vossas esperanças e aspirações dorme vosso silencioso
conhecimento do além.
E como
sementes sonhando sob a neve, assim vosso coração sonha com a primavera.
Confiai
nos sonhos, pois neles se ocultam as portas da eternidade.
Vosso
temor da morte é semelhante ao temor do camponês quando se encontra diante do
rei, e este entende-lhe a mão em sinal de consideração.
O camponês
não se regozija, apesar do seu temor, de receber as insígnias do rei?
Contudo,
não está ele mais atento ao seu temor do que à distinção recebida?
Pois, que
é morrer senão expor-se, desnudo, aos ventos e dissolver-se no sol?
E que é
cessar de respirar senão libertar o hálito de suas marés agitadas, a fim de que
se levante e se expanda e procure a Deus livremente?
É somente
quando beberdes do rio do silêncio que podereis realmente cantar.
É somente
quando atingirdes o cume da montanha que começareis a subir.
É quando a
terra reivindicar vossos membros que podereis verdadeiramente dançar.”
(O PROFETA)
Gibran Khalil Gibran
Gibran Khalil Gibran - Poeta libanês, viveu na
França e nos EUA. Também foi um aclamado pintor. Seus textos apresentam a
beleza da alma humana e da Natureza, num estilo belo, místico, conseguindo com
simplicidade explicar os segredos da vida, da alegria, da justiça, do amor, da
verdade.
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O ERRANTE, UM LIVRO E IRONIA E AMARGURA
O livro
começa assim: “Encontrei-o nas encruzilhadas, um homem que tinha apenas uma
capa e um bordão, e um véu de dor sobre a face. Cumprimentamo-nos um ao outro,
e eu lhe disse: “Venha à minha casa e seja meu hóspede”. E ele veio... E
contou-nos muitas histórias naquela noite, e também no dia seguinte...”
O livro
relata estas histórias, que refletem a experiência (e a amargura) dos dias. E
também a poeira – e a paciência – das estradas.
Muitas
dessas histórias são realmente fábulas, nas quais os animais manifestam todas
as loucuras do homem, como a história do rato e do gato, ou das rãs, ou da
hiena e o crocodilo.
Mas, em
outras histórias, os heróis são mesmo homens, que têm pouco das qualidades e
muito dos defeitos que distinguem o gênero humano.
Contrariamente
a outros livros de Gibran, este não é uma mensagem de compaixão e de
compreensão, mas uma explosão de amargura e de ironia para com a estupidez e
pequenez dos homens. E sua leitura é um excelente antídoto para o que há de
bondade, às vezes imerecida, nos outros livros, e contribui para dar à mensagem
global de Gibran um benéfico caráter de realismo e equilíbrio. Uma leitura para
mentes maduras.
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