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domingo, 3 de abril de 2022

ITABUNA CENTENÁRIA UM POEMA: As duas Ilhas-Castro Alves



As Duas Ilhas

Castro Alves

 

(Sobre uma página de poesia de Victor Hugo com o mesmo título)

 

Quando à noite – às horas mortas –

O silêncio e a solidão

 - Sob o dossel do infinito –

Dormem do mar n’amplidão,

Vê-se, por cima dos mares,

Rasgando o teto dos ares,

Dois gigantescos perfis...

Olhando por sobre as vagas,

Atentos, longínquas plagas

Ao clarear dos fuzis.

 

Quem os vê, olha espantado

E a sós murmura: “O que é?

Ai! Que atalaias gigantes,

São essas além de pé!...”

Adamastor de granito

Coa testa roça o infinito

E a barba molha no mar;

E de pedra a cabeleira

Sacodindo a onda ligeira

Faz de medo recuar...

 

São – dois marcos miliários,

Que Deus nas ondas plantou,

Dois rochedos, onde o mundo

Dois Prometeus amarrou!...

- Acolá... (Não tenhas medo...)

É Santa Helena – o rochedo

Desse Titã, que foi rei!...

- Ali... (Não feches os olhos!...)

- Ali... aqueles abrolhos

São a ilha de Jersey!...

 

São eles – os dois gigantes

No século de pigmeus.

São eles que a majestade

Arrancam das mãos de Deus.

- Este concentra na fronte

Mais astros – que o horizonte,

Mais luz – do que o sol lançou!...

- Aquele – na destra alçada

Traz segura sua espada

- Cometa, que ao céu roubou!...

 

E olham os velhos rochedos

O Sena, que dorme além...

E a França, que entre a caligem

Dorme em sudário também...

E o mar pergunta espantado:

“Foi deveras desterrado

Buonaparte – meu irmão?...

Diz o céu astros chorando:

“E Hugo?...” E o mundo pasmando

Diz: “Hugo... Napoleão!...”

 

Como vasta reticência

Se estende o silêncio após...

És muito pequena, ó França,

Pra conter estes heróis...

Sim! que estes vultos augustos

Para o leito de Procustos

Muito grandes Deus traçou...

Basta os reis tremam de medo

Se a sombra de algum rochedo

Sobre eles se projetou!...

 

Dizem que quando alta noite,

Dorme a terra – e vela Deus,

As duas ilhas conversam

Sem temor perante os céus.

- Jersey curva sobre os mares

À Santa Helena os pensares

Segreda ao velho Hugo...

- E Santa Helena no entanto

No Salgueiro enxuga o pranto

E conta o que ele falou...

 

E olhando o presente infame

Clamam: “Da turba vulgar

Nós – infinitos de pedra –

Nós havemos-los vingar!...”

E do mar sobre as escumas,

E do céu por sobre as brumas,

Um ao outro dando a mão...

Encaram a imensidade

Bradando “Posteridade!...”

Deus ri-se e diz: “Inda Não!...”

 

Castro Alves (Antônio Frederico), nasceu em Muritiba, BA, em 14 de março de 1847, e faleceu em Salvador, BA, em 6 de julho de 1871. É o patrono da cadeira n. 7, por escolha do fundador Valentim Magalhães.

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