Sextina dos Bem-Amados
Cyro de Mattos
Ilustração de Edsoleda Santos
Porque faz da canção constante flor
Não abre mão dos suaves encantos
Seus, porque renasce no corpo que arde
Sem ligar pra noite que cai lá fora
Promete que a vida é mais bonita
Quando traz sua marca até o fim.
Verdejante, rosada, branca flor,
Querida antes de tudo nos encantos,
Nesse jogo que resiste no que arde
Distante do nada a esperar lá fora
Os bem-amados na mais bonita
Causa do ser noutro ser contra o fim.
Brilhantes olhos dançam nessa flor,
Fragrâncias, ternuras, cantos, encantos
Que somente ela constrói enquanto arde
E puxa a fria noite lá de fora
Pra conhecer em sua voz bonita
A vida triunfando sobre o fim.
Eu em você, você em mim, eis a flor
Por entre beijos, suspiros, encantos
Ou como queiram dois corpos num só que arde
Debaixo da noite clara lá fora
Mas que é cega pra coisa tão bonita
Sempre a mostrar que tristeza tem fim.
Vento de amanhecer sopra nessa flor
Vestida de alaridos e de encantos
E que no corpo tanto prazer arde
Embora a noite deseje lá fora
Roubar sua nítida cor bonita
Que sabe a mel nas terras do sem fim.
Sem dúvida tais modos dessa flor
Surpreendente transcendem nos encantos,
No cheiro cheiroso do tempo que arde,
Na trama da corola mais bonita,
No transe que apaga a noite lá fora
E assim despreza o que muda após o fim.
Embaraçada flor depois do fim,
Nos encantos desfeita, já não arde
Na haste da noite que passa lá fora.
* A sextina é um poema que
apresenta um dos sistemas estróficos mais difíceis e raros. Foi usada por
alguns dos grandes poetas, como Dante, Petrarca, Camões e Jorge de |Lima. Compõe-se de seis sextetos e um terceto final,
a coda. Utilizando versos decassilábicos, tem as palavras (ou as rimas) finais
repetidas em todas as estrofes, num esquema pré-determinado. O terceto final, ou
coda, tem, em cada verso, no meio e no fim, marcando as sílabas tônicas, as
palavras (ou rimas) utilizadas no poema todo, na posição em que se apresentaram
na primeira estrofe.
Cyro de Mattos, poeta, ficcionista, cronista, ensaísta e autor de literatura infantojuvenil. Publica quinzenalmente uma crônica na revista digital RUBEM.
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