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sábado, 15 de janeiro de 2022

SEXTINA DOS BEM-AMADOS – Cyro de Mattos



Sextina dos Bem-Amados

Cyro de Mattos 

Ilustração de Edsoleda Santos

 

Porque faz da canção constante flor

Não abre mão dos suaves encantos

Seus, porque renasce no corpo que arde

Sem ligar pra noite que cai lá fora

Promete que a vida é mais bonita

Quando traz sua marca até o fim.

 

Verdejante, rosada, branca flor,

Querida antes de tudo nos encantos,

Nesse jogo que resiste no que arde

Distante do nada a esperar lá fora

Os bem-amados na mais bonita

Causa do ser noutro ser contra o fim.

 

Brilhantes olhos dançam nessa flor,

Fragrâncias, ternuras, cantos, encantos

Que somente ela constrói enquanto arde

E puxa a fria noite lá de fora

Pra conhecer em sua voz bonita

A vida triunfando sobre o fim.

 

Eu em você, você em mim, eis a flor

Por entre beijos, suspiros, encantos

Ou como queiram dois corpos num só que arde

Debaixo da noite clara lá fora

Mas que é cega pra coisa tão bonita

Sempre a mostrar que tristeza tem fim.

 

Vento de amanhecer sopra nessa flor

Vestida de alaridos e de encantos

E que no corpo tanto prazer arde

Embora a noite deseje lá fora

Roubar sua nítida cor bonita

Que sabe a mel nas terras do sem fim.

 

Sem dúvida tais modos dessa flor

Surpreendente transcendem nos encantos,

No cheiro cheiroso do tempo que arde,

Na trama da corola mais bonita,

No transe que apaga a noite lá fora

E assim despreza o que muda após o fim.

 

Embaraçada flor depois do fim,

Nos encantos desfeita, já não arde

Na haste da noite que passa lá fora.

 

* A sextina é um poema que apresenta um dos sistemas estróficos mais difíceis e raros. Foi usada por alguns dos grandes poetas, como Dante, Petrarca, Camões e Jorge de |Lima.  Compõe-se de seis sextetos e um terceto final, a coda. Utilizando versos decassilábicos, tem as palavras (ou as rimas) finais repetidas em todas as estrofes, num esquema pré-determinado. O terceto final, ou coda, tem, em cada verso, no meio e no fim, marcando as sílabas tônicas, as palavras (ou rimas) utilizadas no poema todo, na posição em que se apresentaram na primeira estrofe.

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Cyro de Mattos
, poeta, ficcionista, cronista, ensaísta e autor de literatura infantojuvenil. Publica quinzenalmente uma crônica na revista digital RUBEM.

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