Anúncio do Evangelho (Lc 1,1-4;4,14-21)
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo
Lucas.
— Glória a vós, Senhor.
Muitas pessoas já tentaram escrever a história dos
acontecimentos que se realizaram entre nós, como nos foram transmitidos
por aqueles que, desde o princípio, foram testemunhas oculares e ministros da
palavra.
Assim sendo, após fazer um estudo cuidadoso de tudo o que
aconteceu desde o princípio, também eu decidi escrever de modo ordenado para
ti, excelentíssimo Teófilo. Deste modo, poderás verificar a solidez dos
ensinamentos que recebeste.
Naquele tempo, Jesus voltou para a Galileia, com a
força do Espírito, e sua fama espalhou-se por toda a redondeza.
Ele ensinava nas suas sinagogas e todos o elogiavam.
E veio à cidade de Nazaré, onde se tinha criado. Conforme
seu costume, entrou na sinagoga, no sábado, e levantou-se para fazer a leitura.
Deram-lhe o livro do profeta Isaías. Abrindo o livro, Jesus
achou a passagem em que está escrito: “O Espírito do Senhor está sobre
mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa-nova aos pobres;
enviou-me para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da
vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do
Senhor”.
Depois fechou o livro, entregou-o ao ajudante e sentou-se.
Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele.
Então começou a dizer-lhes: “Hoje se cumpriu esta passagem
da Escritura que acabastes de ouvir”.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
http://liturgia.cancaonova.com/pb/liturgia/3o-domingo-tempo-comum-4/?sDia=23&sMes=01&sAno=2022
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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Padre
Donizete Ferreira, Sacerdote da Comunidade Canção Nova.
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Ser presença de
"boa notícia" que liberta
“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção...” (Lc 4,18)
O relato do evangelho deste domingo faz referência ao início
da vida pública de Jesus, quando retorna à Galiléia, depois da confirmação de
ser o Messias e da experiência de discernimento no deserto.
Jesus se apresenta em Nazaré, onde seus compatriotas
aguardam seu “discurso programático”, e Ele causa espanto ao dizer que veio
falar-lhes em nome dos pobres e excluídos; e faz isso tomando como próprias as
palavras do profeta Isaías.
Movido pelo Espírito, Jesus começa a falar uma linguagem
provocativa, original e inconfundível: Ele revela seu compromisso em favor de
uma vida nova e libre entre os últimos, onde a vida encontra-se ferida.
Diferentemente dos mestres da Lei e dos escribas, cujo
ensinamento estava centrado em “decorar” e conservar a Lei, o ensinamento de
Jesus parte da realidade humana de sofrimento,
exclusão, preconceito...
Aqui estamos numa sinagoga em dia de sábado: lugar e dia de
comunhão, de encontro, de festa... No entanto, na mesma sinagoga Jesus convida
a ter um olhar mais amplo para a realidade da exclusão.
Surpreendentemente, o texto não fala em organizar uma nova
religião, de impor a carga de uma nova lei ou de implantar um culto mais digno,
mas de comunicar libertação, esperança, luz e graça aos mais pobres e excluídos
da terra.
Jesus se apresenta como o “ungido” pelo Espírito (Cristo)
porque declara cumpridas, em sua vida e em sua pessoa, as promessas da antiga
profecia que se revelavam como libertação dos oprimidos, encarcerados e
estrangeiros. Ele aparece como o Ungido por excelência; o Pai lhe comunicou seu
Espírito para que manifestasse seu dom e sua presença no mundo, anunciando a
“boa notícia” aos pobres e necessitados, aos famintos de pão ou carentes de
outros bens importantes.
Jesus não oferece doutrinas estéreis, não vem complicar a
vida com novas exigências, nem está preocupado em apresentar uma religião
diferente, mas revela uma presença original no mundo, comprometida
com a vida. Nesse sentido, para Ele, evangelizar passou a significar oferecer
vida, abrir caminhos de esperança, reconstruir as relações rompidas... Esta é a
afirmação geral, o ponto de partida da missão pública de Jesus.
O Espírito de Deus está em Jesus enviando-o aos pobres,
orientando toda sua vida para os mais necessitados, oprimidos e humilhados.
Também nessa direção devem se comprometer seus seguidores(as).
Esta é a orientação que Deus quer deixar transparecer na
história humana. Os últimos serão os primeiros em conhecer essa vida mais
digna, livre e ditosa, que o mesmo Deus quer já, desde “agora”, para todos os
seus filhos e filhas.
Após a leitura do texto do profeta Isaías, na sinagoga em
Nazaré, a palavra de Jesus move a todos a se situar no presente: “Hoje
se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir”. Em
Lucas, se trata de um “hoje” continuado, sempre atual, com a única
condição de que nos deixemos introduzir nele. É um “hoje” que bem poderia ser traduzido
por “aqui e agora”, o tempo presente que vai além do tempo cronológico; é o
presente atemporal no qual tudo está bem, onde tudo é benção, graça, liberdade
e Vida. Um Presente que não é ambíguo, mas que, abraçando todas as dimensões de
nossa existência, rica e pobre, se desvela a nós como Plenitude.
A cena do evangelho de hoje termina com uma promessa de vida
que tem lugar “hoje”. Da boca de Jesus brota uma palavra de vida, acompanhada
de uma certeza que a faz eterna, ou seja, válida para todo momento, em um
presente sempre atual: o “hoje” em Lucas significa “todo momento”, qualquer
instante em que, ouvinte ou leitores, se abrem à Palavra inspirada de Jesus.
Cada um desses “hoje” remete o leitor a seu próprio
presente. Por isso, não perdem nunca sua atualidade, sempre que o leitor ou
ouvinte acolha o dom desse “tempo novo”.
E o mais maravilhoso é quando o “hoje de Deus” coincide
com o “hoje nosso”. Deus é nosso “hoje”, nós somos o “hoje” de
Deus; é no nosso “hoje” que Deus nos fala e realiza maravilhas.
Desse modo, o evangelista Lucas está nos dizendo: essa Palavra é
válida também para nós, hoje, com a con-dição de que nos deixemos conduzir por
ela. Para todos nós há também uma promessa de vida, que não pode ser bloqueada
por nenhum tipo de escravidão e que não se acaba na fronteira da morte.
Antes de mais nada, a expressão “hoje” nos mostra Jesus como
um homem que vive em um presente consciente e descansado, sábio e pleno. Deus
não é graça ou castigo, boa notícia ou ameaça. Segundo Jesus, Deus é amor e só
amor, compaixão e bondade, gratuita e incondicional. Esses atributos divinos se
visibilizam no “hoje” de nossa existência.
Deus não só nos liberta, Deus é a libertação. Somos nós que
devemos tomar consciência de que somos livres e podemos viver em liberdade sem
que ninguém no-la impeça. Também devemos ajudar os outros a descobrir a
possibilidade de serem livres. Como Jesus, não devemos deixar que nada nem
ninguém nos oprima. Nem Deus, nem os homens em seu nome, podem nos exigir algum
tipo de vassalagem.
A liberdade deve ser o estado natural do
ser humano. Por isso, a “boa notícia” de Jesus é dirigida a todos aqueles que
padecem qualquer tipo de submissão. A enumeração feita por Isaías não deixa
lugar a dúvidas: a libertação chega para todos os oprimidos e de todas as
opressões.
É preciso recordar sempre: Jesus está longe de um mero
assistencialismo... Ao tornar pública sua missão, Jesus inaugura uma nova ordem
integral, a única que permite falar de uma libertação real. É importante cair
na conta de que muitas vezes quando se fala de “opção preferencial pelos
pobres”, na realidade se trata claramente de uma mentalidade assistencial,
muito distante do discurso e prática de Jesus no início de sua vida
pública. “Evangelizar é libertar através da palavra” (Nolan). Uma
palavra que não entra na história, que não se pronuncia, que se mantém em cima
do muro, que não mobiliza, não sacode, não provoca solidariedade, não
transforma as estruturas geradoras de escravidões... não é herdeira da “palavra
bendita” de Jesus.
Jesus é tão “entranhavelmente” humano que nos
desconcerta a ponto de parecer estranho, extravagante e, para muitos,
escandaloso. Mas, precisamente dessa maneira Ele nos revela, não só sua
profunda humanidade, senão o grau de “desumanização” a que podemos submeter
os outros, sem darmos conta disso.
Portanto, o sentido de nossa existência cristã não está
em “divinizar-nos”, mas em “humanizar-nos” (descermos até o
fundo de nossa condição humana). Porque o “ponto de encontro” entre
Deus e os seres humanos não foi só o “divino”, senão o “divino
humanizado”.
Texto bíblico: Lc 1,1-4; 4,14-21
Na oração: “Hoje se cumpre” a Escritura em cada
um de nós. O mesmo Espírito que atuou em Jesus, está atuando em nós. O ego
nos separa; o Espírito nos identifica e nos unifica.
- Na oração, procure conectar com essa “divina energia” que está em você, e a espiritualidade será o mais espontâneo e natural de sua vida.
- As palavras de Isaías abrem um novo “sentido” para
a vida de Jesus; também para todos nós, seus seguidores.
Elas se cumprem em você, no “hoje” de sua existência? Você
se sente também “enviado” a ser presença da Boa Notícia para os pobres, para as
vítimas das estruturas sociais injustas? Sua vida é “boa-notícia” para todos?
Pe. Adroaldo Palaoro sj
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