Elevação a cidade
Comércio,
lavoura, desdobravam-se numa progressão vertiginosa, fazendo convergir para o
município as atividades produtoras da vizinhança pois já naquele tempo, a cidade
itabunense se esboçava como o centro do movimento da região cacaueira.
Uma festa
extraordinária se realizou com a elevação de Itabuna à categoria de cidade. Deixou
de ser Tabocas para ser vila de Itabuna e passava de vila para cidade pela Lei
número 807, de 28 de julho de 1910, graças à iniciativa dos senadores Arlindo
Leone, Batista de Oliveira e da assinatura do Governador João Ferreira de
Araújo Pinho.
Rezam as
crônicas que a sessão do conselho municipal para instalação se efetuou no dia
21 de agosto de 1910, com a presença dos conselheiros Tertuliano Guedes de
Pinho, Antonio Gonçalves Brandão, Adolfo Maron e Américo Primitivo dos Santos. Falaram
muitos oradores, depois que o presidente do conselho leu a lei e deu por instalada
a cidade. Discursaram José Veríssimo da Silva Júnior, Filadelfo Almeida, Artur
Nilo de Santana e dr. João Batista Soares Lopes.
Mais de uma
dezena de senhoras assistiu ao ato solene da instalação. Na rua, o povo
vibrava, bebia e gritava, tendo um cidadão, de apelido “Cambucá”, cantando o
Hino Nacional e dançando quadrilha à frente das filarmônicas. As filarmônicas
tocaram seus dobrados e andaram em tréguas, em homenagem à grande data
municipal.
Os jornais “Correio
de Itabuna”, “A Brasa”, “O Itabuna”
comemoraram o feito com artigos de fundo.
“A Brasa”, de
Genolino Amado, aproveitou a oportunidade para dizer que “aquela obra não era
dos trânsfugas, dos traidores, dos hereges, dos ingratos. Aquela obra pertencia
aos homens esclarecidos, que pensavam no bem público, na grandeza da terra, na
independência de Itabuna”.
O pior
sucedeu lá para os lados das “Bananeiras”, rio acima. Um protegido da situação
provocou um barulho e matou um empregado do Coronel Henrique Félix. Matou-o
estupidamente com um tiro na cabeça e deu um viva a Itabuna.
Dentro da
vida acidentada, de intranquilidade pública, da falta de meios de comunicações,
dentro de todas essas dificuldades, o município desenvolveu-se, levado, ajudado
pelos seus trabalhadores, que eram os proprietários das suas terras plantadas
de cacau.
Não há na
história do Estado o exemplo de um povo mais afeiçoado ao progresso. Para o itabunense
não existia o perigo das doenças, dos homicídios, dos assaltos, das feras, das
serpentes. Para ele só havia um objetivo: o trabalho criador da riqueza, as
matas que derrubava e plantava cacau, os terrenos que coivarava e semeava o
cereal, a execução, enfim, de um plano elaborado, riscado na consciência de
cada cidadão que transformava a floresta infernal do cacau no paraíso das suas
ambições. Assim é que o itabunense fez a riqueza da sua terra, a grandeza do
seu município, lutando, desbravando, resistindo e insistindo até a vitória final.
Quantos deles não morreram nessa imensa empreitada, quantos deles não
sucumbiram nessa tarefa ciclópica de criar e organizar um dos mais importantes
núcleos de produção e de renda do País?
Firmino Alves
estava pensando justamente no heroísmo da sua terra e do seu povo, quando
recebeu de Ilhéus uma carta de Rodolfo de Melo Vieira, na qual avisava que
havia chegado uma leva de sergipanos, e que, no dia seguinte a embarcaria para
Itabuna. Rodolfo de Melo Vieira, comerciante conceituado no município
ilheuense, era o agente consignatário de Firmino Alves na importação que fazia
de sergipanos. Acabou de ler a carta e sorriu. Diante de si passavam muitos
cavaleiros, montados em bons e tratados cavalos esquipando rio abaixo e rio
acima, em comemoração àquele dia festivo.
Olhou e sorriu. Entre os cavaleiros estavam Ramiro,
João e Antonio, sergipanos que tinham chegado com os sacos às costas em 1904,
para Tabocas. Para entrarem nas matas ele os havia suprido de carne, farinha,
feijão, um machado, e um facão.
Estavam agora
afazendados, possuíam cavalos, corriam para baixo e para cima, com pose de
coronéis fazendeiros, diferentes daquelas pálidas criaturas que saltaram dos
barcos, amarelos e enjoados, com olhares humildes e interrogativos, em busca de
trabalho e de pão, numa terra desconhecida.
(TERRAS DE ITABUNA Capítulo XII)
Carlos Pereira Filho
* * *
Nenhum comentário:
Postar um comentário