À Dinamene
Luís de Camões
Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na Terra sempre triste.
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.
E, se vires que pode merecer-te
Alguma coisa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,
Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te
Quão cedo de meus olhos te levou.
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Luís Vaz de Camões – o príncipe dos poetas portugueses e um
dos maiores do mundo, nasceu em 1524 e faleceu, aos 56 anos, em 1580. Seu poema
épico Os Lusíadas é justamente considerado uma das obras-primas do espírito
humano e por isso o colocam ao lado de Homero e Vergílio. Disse o filósofo
alemão Schlegel que Camões, sozinho, vale por uma literatura. Estudou em
Coimbra. Frequentou a corte de D. João III, onde passou a cortejar a dama do
Paço Dona Catarina de Athaide (a Natércia de seus versos). Esses amores o
levaram à desgraça, à prisão e ao desterro, donde retornou com Os Lusíadas,
aparecidos em julho de 1572. Lutou na África e na Índia. Escreveu também peças
de teatro e poesias líricas, tão célebres quanto o seu poema épico. Seus sonetos
são dos mais notáveis que se escreveram e bastariam eles para o consagrarem
como um dos gênios da humanidade.
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