Drummond Permanente
Cyro de Mattos
Em meu ouvido um pássaro
nos instantes de tudo canta
teu diálogo com o mundo
como oferendas do amor.
Quantas vezes solitário
não mundo solidário me tens?
Por entre gestos cotidianos
dos eventos nesta rosa emergem
teus acentos feitos de espantos.
Ora canto do homem do povo,
ora aquele quadro na parede,
sinais, expressões do tempo,
fome de situações patéticas.
Vejam isto, dizendo que tropeço
numa pedra no meio do caminho.
Ó de Itabira, se bem procuro,
afinal termino encontrando
não a explicação (relativa)
da vida, apenas a beleza,
sem explicação, da poesia.
Submeto-me nesse dilema
que me fere com os passos
do vento na hora do enigma
deixando que eu vá inquieto.
Nas contradições e dúvidas
entre o efêmero à margem
sei da vida que não é vã,
tua lírica em nós perdura
no verbo com engenho e arte
esse cheiro de cada manhã.
Cyro de Mattos - Escritor e poeta. Autor de mais de 50
livros pessoais, de diversos gêneros. Editado também no exterior. Premiado no
Brasil, Portugal, Itália e México.
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