26º Domingo do Tempo Comum – 26/12/2021
Anúncio do Evangelho (Mc 9,38-43.45.47-48)
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo
Marcos.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, João disse a Jesus: “Mestre, vimos um
homem expulsar demônios em teu nome. Mas nós o proibimos, porque ele não nos
segue”.
Jesus disse: “Não o proibais, pois ninguém faz milagres em
meu nome para depois falar mal de mim. Quem não é contra nós é a nosso
favor.
Em verdade eu vos digo: quem vos der a beber um copo de
água, porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa.
E, se alguém escandalizar um destes pequeninos que creem,
melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao
pescoço.
Se tua mão te leva a pecar, corta-a! É melhor entrar na Vida
sem uma das mãos, do que, tendo as duas, ir para o inferno, para o fogo que
nunca se apaga.
Se teu pé te leva a pecar, corta-o! É melhor entrar na
Vida sem um dos pés, do que, tendo os dois, ser jogado no inferno.
Se teu olho te leva a pecar, arranca-o! É melhor entrar no
Reino de Deus com um olho só, do que, tendo os dois, ser jogado no
inferno, ‘onde o verme deles não morre, e o fogo não se apaga’”.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Pe. Roger
Araújo:
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Há mais espiritualidade no
nosso corpo...
“Se tua mão, teu pé, teu olho... te levam a pecar,
arranca-os”
Com sua presença e ternura, Jesus, no Evangelho deste 26º
Domingo do Tempo Comum, quebra as atitudes preconceituosas que delimitam
friamente os espaços e alimentam proibições que impedem a manifestação da vida.
Para Ele, toda pessoa que favorece a vida, em qualquer situação, é uma
“aliada”, está “a nosso favor”. Ou seja, do Reino não se exclui ninguém; todos
estão convidados. Todo aquele que sinceramente busca o bem e se compromete com
a vida está a favor do Reino.
Jesus reprime a postura sectária, preconceituosa e
excludente de seus discípulos, e adota uma atitude aberta e inclusiva, onde o
mais importante é libertar o ser humano de tudo o que lhe oprime.
O estreitamento de mentalidade do discípulo João colide com
a abertura do coração de Jesus.
Para o Mestre, o que conta é o bem que se
faz. Jamais uma simples pertença grupal, uma simples afinidade ou mesmo
proximidades culturais e cultuais, podem substituir o bem que se deve praticar.
Conta o bem que só pode ser feito em nome de Deus; só Ele é a fonte
única do bem. Deus só está presente onde se pratica o bem. O bem que
se faz não é, em hipótese alguma, contradição a Deus. A força do bem é
a condição única para alargar o horizonte e superar toda atitude preconceituosa
estreita.
E o bem se torna valor absoluto, definindo a
condição do verdadeiro discipulado.
Ser discípulo de Jesus, portanto, é compreender a
vida como altar de ofertas para o bem.
O Mestre da Galileia revela o simples e, aparentemente, tão
insignificante ato de oferta de um copo d’água como remédio que cura a rigidez
do preconceito e vence a incapacidade de perceber a ternura
acolhedora em cada gesto oblativo e sua importância na construção da vida e na
recriação da dignidade humana.
Vale um copo d’água que se dá. Vale pela importância sempre
primeira do outro, não importa quem quer que seja, fazendo valer o princípio
norteador do coração amoroso de Deus.
Jesus rompe toda tentação sectária em seus seguidores. Ele
não constituiu seu grupo para controlar sua salvação messiânica. Ele não é
rabino de uma escola fechada, mas Profeta de uma salvação aberta a todos. Jesus
não é monopólio de ninguém. Todo aquele que está a favor do ser humano está com
Jesus. Todo aquele que trabalha pela justiça, pela paz, pela liberdade... está
em profunda sintonia com Ele. Há uma infinidade de pessoas de boa vontade que
trabalham por uma humanidade mais digna, mais justa e livre. Nelas está atuando
o Espírito de Jesus. Devemos senti-los como amigos e aliados, nunca como
adversários.
O(a) seguidor(a) de Jesus deve ser sempre fermento de
unidade e nunca causa de discórdia e exclusão.
Jesus, como bom Mestre, aproveita da ocasião para denunciar
o veneno que mata toda possibilidade para a vivência do bem, do amor, da
verdade: é a presença do “escândalo”, tanto no nível pessoal quanto
comunitário. De fato, como no tempo de Jesus, também vivemos em uma sociedade
de escândalos, que utiliza e destrói os pequenos. Há escândalos de gastos
militares, de mentiras políticas generalizadas, de riqueza ostentosa fruto da
exploração dos mais frágeis, de corrupção e violência, de poder despótico...
Assim, o evangelho deste domingo situa o grande pecado que
consiste em “escandalizar” os pequenos (utilizar, fazer cair,
perverter, abusar) no plano social, religioso, econômico, sexual... Trata-se do
domínio de vidas e consciências. Nesse contexto Jesus introduz a referência
simbólica da mão, do pé e do olho que escandaliza
ou destrói os outros, acrescentando que o seu seguidor é capaz de “cortar” a
mão ou o pé ou de arrancar o olho, a fim de conservar-se “inteiro” para o Reino
(não destruir os outros).
É preciso, portanto, redescobrir a espiritualidade do
corpo e de todos os seus membros e órgãos, para sermos presenças
compassivas, construtivas e amorosas.
A resposta de Jesus é clara: “Corta tua mão, corta teu
pé, arranca teu olho..., renuncia-te a ser o centro para que o outro possa
viver e crescer!”.
O corpo é mediação de comunhão, de encontro..., e
todos os seus membros devem ser “cristificados”, ou seja, devem inspirar-se na
corporalidade de Jesus.
O ser humano é aqui pés, mãos e olhos, em visão
ternária que se revela muito significativa. É evidente que o texto poderia ter
acrescentado outros exemplos de membros vitais: língua, ouvidos... Mas, os três
aqui citados condensam a totalidade humana no plano do fazer, decidir, desejar
e são exemplo de um modo de proceder “cristificado” para toda a comunidade
cristã.
Em primeiro lugar, “conhecemos Jesus pelos pés”; como
peregrino, Ele sempre rompeu distâncias e fronteiras, fazendo-se próximo de
todos para curar, animar, elevar, colocar o outro de pé.
Jesus revela que cada passo deve ser uma oração e
cada caminhar é um rosário de contas que marcam os caminhos da vida com a fé do
caminhante.
Na última Ceia, quando Jesus se coloca aos pés dos
seus discípulos, não se trata apenas de um gesto de humildade, mas sobretudo,
de um gesto de cura e de amor. Porque não se pode amar alguém e olhá-lo de cima.
E também não se trata de olhá-lo de baixo para cima, sendo-lhe submisso.
É preciso colocar-se a seus pés para ajudá-lo a
reerguer-se.
Igualmente decisivas sãos as mãos; elas adquirem
uma infinidade de formas (mãos estendidas, enérgicas, punho fechado,
mãos abertas...). Quando estendemos os braços e tocamos o outro espontaneamente
descobrimos a compaixão e a riqueza que existe em todos
nós.
Jesus não ama à distância; Jesus demonstra seu amor
abraçando, abençoando, tocando...
Tocar ou nos sentir tocados é, em
determinadas circunstâncias, a linguagem mais inteligível do amor.
A religiosidade popular está repleta de atitudes que
testemunham o fato de que, para quem tem o coração à flor da pele, “orar e
tocar” são uma só e mesma coisa.
Orar tocando é como reeditar as palavras de S.
João:
“Aquele que nossas mãos tocaram, disso
damos testemunho” (1Jo. 1,1).
Por fim, o olhar é o recurso não verbal mais
expressivo e sincero que possuímos: com um simples olhar podemos transmitir
desde o ódio até uma declaração de amor ou de amizade.
Os olhos são o “reflexo da alma”; muitas coisas que estão
acontecendo no nosso interior vão se expressar na maneira como olhamos.
“Cristificar” o olhar é entrar no fluxo do olhar compassivo
de Jesus; com seu olhar intenso e penetrante Ele conseguia despertar a
dimensão mais nobre e original em cada pessoa. Seus olhares falavam por
sí sós, pois transmitiam sentimentos, desejos e afetos, sem necessidade de usar
nenhuma palavra.
A revelação bíblica nos diz que Deus vem ao nosso encontro
pelo mais cotidiano, mais banal e próximo dos portais: os cinco sentidos, os
membros e os órgãos de nosso corpo. Eles são grandes entradas e saídas da nossa
humanidade vivida. É preciso aprender a reconhecê-los como “lugares
teológicos”, isto é, como território privilegiado não apenas da manifestação de
Deus, mas como possibilidade de relação com Ele.
A vida é o imenso laboratório para a atenção, a
sensibilidade e o espanto que nos permite reconhecer em cada instante os passos do
próprio Deus em nossa direção, suas mãos providentes e cuidadosas que
nos sustentam, seu olhar compassivo que nos acolhe. O corpo que somos
é uma gramática de Deus: nele aprendemos a andar como Deus, a tocar como Deus,
a olhar como Deus...
Texto bíblico: Mc 9,38-48
Na oração: este é um momento para examinar minhas mãos,
meus pés e meus olhos: eles são mediação para o encontro ou para o
escândalo na relação com os outros?
- Que tenho de arrancar-me, que devo “perder” para não
escandalizar, ou seja, para que os outros possam viver?
- Que deve a Igreja arrancar de si mesma para não servir de
escândalo aos pequenos?
- E nossa sociedade em geral, nossa política e economia
neo-liberal... quê terá de arrancar e cortar para que os pobres possam viver
com mais dignidade?
Pe. Adroaldo Palaoro sj
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