Negrinha Benedita
Cyro de Mattos
Por causa
dum frasco
de cheiro
apanhou
de chibata.
Os outros
assombrados
não puderam
fazer nada.
Sem andar
dias ficava.
Quando sarou,
falou ao vento
que ia embora.
Pelo mato
foi voando,
escapou
da cachorrada.
Teve sede,
teve fome,
levou espinho
pela cara.
Para trás
não olhava.
Com uma
espada afiada
que lhe deu
uma mão oculta
um dia viu
no quilombo
que ali era
a sua morada.
Aconteceu
que depois
a cabeça
da sinhá
amanheceu
decepada.
Ninguém viu
como se deu
na escuridão
daquela noite
a revanche
assim marcada.
Por causa
dum frasco
de cheiro
que ela pegou
pra ser cheirada.
Cyro de Mattos é escritor e poeta. Doutor Honoris Causa pela
Universidade Estadual de Santa Cruz. Membro efetivo da Academia de Letras da
Bahia, Academia de Letras de Ilhéus e Academia de Letras de Itabuna. Comendador
da Ordem do Mérito do Governo da Bahia.
* * *
Nenhum comentário:
Postar um comentário