Total de visualizações de página

domingo, 23 de maio de 2021

NEGRINHA BENEDITA – Cyro de Mattos



Negrinha Benedita

Cyro de Mattos

 

Por causa

dum frasco

de cheiro

apanhou

de chibata.

Os outros

assombrados

não puderam

fazer nada.

 

Sem andar

dias ficava.

Quando sarou,

falou ao vento

que ia embora.

Pelo mato

foi voando,

escapou

da cachorrada.

Teve sede,

teve fome,

levou espinho

pela cara.

 

Para trás

não olhava.

Com uma

espada afiada

que lhe deu

uma mão oculta

um dia viu

no quilombo

que ali era

a sua morada.

 

Aconteceu

que depois

a cabeça

da sinhá

amanheceu

decepada.

Ninguém viu

como se deu

na escuridão

daquela noite

a revanche

assim marcada.

Por causa

dum frasco

de cheiro

que ela pegou

pra ser cheirada.

 

Cyro de Mattos é escritor e poeta. Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual de Santa Cruz. Membro efetivo da Academia de Letras da Bahia, Academia de Letras de Ilhéus e Academia de Letras de Itabuna. Comendador da Ordem do Mérito do Governo da Bahia.

* * *

Nenhum comentário:

Postar um comentário