Cyro de Mattos
Nasceu na cidade de Valença, Bahia, em 22 de agosto de 1911.
Muito jovem, recém formado em direito veio residir em Itabuna, onde se dedicou
ao jornalismo, à advocacia e à política. Aqui dirigiu durante onze anos o
jornal diário “A Época”, que tinha no seu corpo de redatores os jornalistas
Hélio Pólvora e Manoel Leal. Em 1947, eleito para a Assembleia Legislativa do
Estado transferiu-se com a família para Salvador onde exerceu como deputado
três legislaturas. De 1958 a 1959, assumiu a presidência da Assembleia
Legislativa Estadual. Foi nomeado para o tribunal de Contas do Estado no qual
se tornou conselheiro.
É autor do livro de poesias Inquietudes. Sua poesia de bom
nível seria mais reconhecida se publicada em jornais de circulação nacional.
Aparecia nos jornais de Itabuna e Ilhéus. E assim, impressa nas ilhas
literárias do interior, ficou esquecida. Ele era o pai da consagrada contista e
romancista Sônia Coutinho e do sociólogo Carlos Nelson Coutinho, uma das
maiores autoridades sobre a dialética marxista através do prisma de Georg
Lukacs. Filhos de Itabuna, ambos passaram aqui a sua infância, antes de o pai
com a família fixar residência em Salvador.
Nathan Coutinho
foi incluído na antologia Poesia Moderna da Região do Cacau, organizada pelo
poeta Telmo Padilha, com dois poemas. Um deles transcrevo agora.
O Soneto de Agosto
Na sombria mudez de teus dias cinzentos
há soluços de inverno e angústias de sol posto.
És veneno e ilusão... E nos teus céus nevoentos
há o motivo maior de todo o meu desgosto.
Mês das horas mortais e dos minutos lentos,
mês de melancolia e de penumbra... Agosto!
Tu vens ressuscitar a dor dos meus tormentos,
pondo-me crepes na alma e lágrimas no rosto.
No lívido palor dos teus dias de calma
com o noturno da chuva a minha dor confortas
e ouço a alma de Chopin a chorar na tua alma...
Quando vens, mansamente, no Nada me convidas:
porque és o mês do tédio, o mês das folhas mortas
- ó mês sentimental das ânsias incontidas!
“O Soneto de Agosto”
apresenta-se no formato fixo do próprio soneto, o conteúdo tem laivos
simbolistas. Sem deslizes na ideia e nos versos, emerge da tristeza e revela as
interioridades do poeta através das unidades rítmicas. Um soneto que tem a cor
das sombras, da melancolia, como pedia a estética simbolista e que dá uma
pequena mostra de quanto Nathan Coutinho era um poeta de qualidades, que sabia
se expressar com inconfundível disponibilidade anímica. Ele é um dos patronos
da Academia de Letras de Itabuna (ALITA).
-------------------
* Cyro de Mattos é poeta e ficcionista. Detentor de prêmios
literários importantes e, entre eles, o Afonso Arinos da Academia Brasileira de
Letras, Associação dos Críticos Literários de São Paulo, Nacional de Poesia
Ribeiro Couto (UBE-RJ), Internacional Maestrale Marengo d’Oro, Itália, duas
vezes, Menção Honrosa do Jabuti, Nacional Pen Clube do Brasil e Nacional Cidade
de Manaus. Publicado em oito idiomas.
* * *
Nenhum comentário:
Postar um comentário