Pe. David Francisquini*
Tantas — e não menos contraditórias — são as afirmações
veiculadas pela grande mídia, assim como as medidas levadas a efeito por muitas
autoridades públicas, que parecem esconder algo do grande público que, já quase
exausto, não vem suportando mais o confinamento a que foi submetido, em razão
das próprias divergências sobre a sua eficácia ou não.
Diante do alarmismo em torno do vírus chinês e da
multiplicação de lokdowns, constata-se que os números relativos à
pobreza têm aumentado de maneira acentuada, dada a desestabilização na economia
das nações. Abyssus abyssum invocat, isto é, um abismo atrai outro abismo,
proclama um Salmo. Não se pode fazer o mal para que dele provenha um bem.
No caso dos confinamentos não há nada de mensurável e de
científico sobre a sua eficácia. O mesmo não se pode afirmar sobre a evidência
de a pessoa não ter o que comer, pois o levará à ruína e à morte por inanição,
a menos que haja um projeto, um propósito de fazer o mundo atual se resvalar
para o abismo com a desgraça alheia.
Há pior, sobretudo para os responsáveis do rebanho do
Senhor, como um sacerdote. Além de fechar as igrejas, de os fiéis não poderem
assistir missas e frequentar os sacramentos, pois os defensores do confinamento
afirmam que o papel da Igreja em sua missão salvífica não é essencial. O que se
depreende que Deus fica em plano inferior nos aspectos humanos.
Até mesmo o impedimento do sacerdote de assistir aos
enfermos nos hospitais… A isto podem ser aplicadas as sábias palavras do Divino
Mestre que ensinou: “Eu digo a vós, meus amigos: Não tenhais medo dos que
matam o corpo e depois nada mais podem fazer. Mas eu mostrarei a quem vós
deveis temer: temam Àquele que, depois de matar o corpo, tem poder para lançar
no inferno” (Lc 12 1-8).
Quanto à assistência religiosa, a saúde do corpo depende,
muitas vezes, da saúde da alma, da administração dos sacramentos, da oração,
das boas obras que ajudarão o bem do corpo. Separar a saúde do corpo da alma se
transforma numa questão gravíssima que terá consequências desastrosas na vida
civil. Santo Antônio de Lisboa em seus sermões sobre doenças e epidemias afirma
terem elas sua origem no pecado e nas desordens morais.
Medidas drásticas nas atuais circunstâncias se justificariam
apenas no caso de lançar mão de medidas estratégicas para enfrentar calamidades
extremas como, por exemplo, da necessidade de descanso dos funcionários da
saúde, a fim de se reorganizarem e recobrarem forças para mais bem continuar o
trabalho. Mesmo isto seria temerário e exige muita cautela.
A imposição de confinamento às pessoas sem previsão do fim
da pandemia, privando-as de ganharem o pão de cada dia, criará uma situação de
pobreza tal que afetará até mesmo a vida religiosa em níveis surpreendentes,
catastróficos até, sem encontrar o perseguido benefício de algum dado
comprobatório de vidas salvas, de crescimento na fé, da moralização nos
costumes em razão de tais decisões.
Referi acima a um projeto de fazer o mundo se resvalar para
o abismo. Com efeito, diante das medidas tomadas aqui, lá e acolá a propósito
da epidemia só podemos concluir, com certeza, no aumento do desemprego, da
pobreza e da fome ante a visão do desmantelamento das economias, trazendo o
espectro de uma catástrofe global sem precedentes na história, um miserabilismo
orquestrado.
No cenário brasileiro, temos já uma situação bastante
preocupante. Recentemente, um decreto em vigor no município de Araraquara gerou
resultados que nos dão ideia do tipo de calamidade que nos aguarda. Enquanto
isto, noticiam-se as intenções de vários governadores, nomeadamente dos Estados
da Bahia, Santa Catarina e Paraná, a exemplo do governo de Brasília, que
avançam com firme propósito de decretar o confinamento.
Enquanto isso, torna-se público que bilhões em verbas da
União foram transferidos aos governos estaduais para tratar as vítimas do
coronavírus, mas foram desviados para outras finalidades. A despeito disto,
esses governantes reclamam por mais recursos do governo central, além de acusar
politicamente o Presidente pela omissão e por todas as coisas ruins que têm
sucedido no País.
Afinal, uma população inteira — emocionalmente descontrolada
— apavorada mesmo diante da peste chinesa, ademais faminta, em consequência do
“estratégico” confinamento, não terá a faculdade de refletir, e estará pronta a
acolher a sugestão para acusar qualquer pessoa, a respeito do que quer que
seja, e estará disposta a se submeter a qualquer coisa, por um pedaço de pão,
ainda que bolorento.
Para fazer o mal, nunca faltam os oportunistas de plantão
que não hesitam em jogar o Brasil na mais profunda miséria, no rastro da
Venezuela e, mais recentemente, da Argentina, e sobre a desgraça imposta à
população colher algum ramo de louro para se autoproclamarem salvadores da
pátria… A História está recheada de personagens deste naipe. Este parece ser o
jogo sórdido daqueles que apostam no ‘quanto maior a tragédia, melhor para
nós’.
Mas eles, por sua índole revolucionária, tropeçarão em seus
próprios calcanhares em decorrência de seu orgulho, ensimesmados no desafio a
Deus, edificando para eles um mundo vergonhoso, sobre o qual sonham em
estabelecer um paraíso às avessas, como um desesperado grito de revolta
de non serviam (não servirei).
Triste conduta daqueles que buscam celebridade em prejuízo
de seus semelhantes! Isso se chama hipocrisia. Estejamos certos, o Senhor virá
conhecer a obra dos filhos dos homens e seus empedernidos propósitos. Que Nossa
Senhora Aparecida, Mãe, Advogada, Rainha, Imaculada e Auxiliadora dos Cristãos,
salve o Brasil dessas iniquidades!
____________
Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria – Cardoso
Moreira (RJ).
https://www.abim.inf.br/ai-de-vos-hipocritas/
Nenhum comentário:
Postar um comentário