Entre os acontecimentos infaustos que assinalaram o ano de 2020, no breve tempo em que se encerravam as narrações das suas desventuras, uma notícia terrivelmente infeliz atingiu-nos a todas as criaturas: a Argentina, através do seu Senado, legalizava o aborto até a décima quarta semana de gestação.
A alegria que invadiu o país na madrugada, em que multidão muito volumosa gritava enlouquecida pelas ruas de Buenos Aires – registrada pelas câmeras fotográficas das redes sociais –, sem máscaras nem distância preventiva, numa infernal correria ao prazer, apoiava o crime de morte em detrimento da grandeza da vida.
Aos berros de exaltação do infanticídio sucedeu-se um grande silêncio, e uma nuvem representando a barbárie coletiva desceu sobre o grande país, que a partir de agora se compromete a matar os embriões e fetos humanos até a décima quarta semana.
Neste ritmo em que o conforto da mulher exige a eliminação do filho que não deseja, mas permitiu gerar, quando existem muitos recursos morais e legais que impedem a fecundação, em não distante tempo, pessoas insensíveis legalizarão a eutanásia, matando os pais que deles venham a depender ou simplesmente pessoas idosas, cujas existências pesem na economia ou futilidades da sociedade. Aliás, já tem havido algumas tentativas a esse respeito, que estão aguardando o momento selvagem para o homicídio.
Esquecem-se estes que assim pensam que à juventude sucede a
velhice, por mais disfarces estéticos e recursos para a longevidade...
O ato desafiador produzido pelos argentinos assinala a decadência moral deste período cultural e espiritual da humanidade, em que a vida, especialmente a humana, perdeu o significado, voltando aos antiquíssimos padrões da ferocidade e da violência. Os vários milênios de cultura, ética e civilização desaparecem, sucedidos pela brutalidade e paixões ferozes de governantes bárbaros.
Sob todo e qualquer aspecto, é lamentável esse passo, dito legal, na Constituição do país vizinho. No entanto, repetindo Martin Luther King Jr.: “O pior não é o atrevimento dos maus, porém o silêncio dos bons”.
É exatamente o que está acontecendo em relação ao aborto
legal e perversamente sempre imoral.
Têm sido poucas as reações de indivíduos e grupamentos religiosos, que tecnicamente respeitam a vida. Sua Santidade, o Papa Francisco, que defende as árvores da Amazônia, está silencioso ante o crime hediondo, desconsiderando o Mandamento “não matarás”, e principalmente aquele que não se pode defender.
Ao vivermos numa sociedade na qual se matam crianças por nascer, apenas por prazer, devemos sentir um grande constrangimento.
Matar é crime nefasto, e tudo devemos realizar para que o amor e suas leis substituam a sua hediondez.
Divaldo Franco – Professor, médium e conferencista espírita
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