1º Domingo do Advento – 29/11/2020
Anúncio do Evangelho (Mc 13,33-37)
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de
Jesus Cristo + segundo Marcos.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, disse Jesus aos
seus discípulos: “Cuidado! Ficai atentos, porque não sabeis quando chegará
o momento. É como um homem que, ao partir para o estrangeiro, deixou sua
casa sob a responsabilidade de seus empregados, distribuindo a cada um sua
tarefa. E mandou o porteiro ficar vigiando.
Vigiai, portanto, porque não
sabeis quando o dono da casa vem: à tarde, à meia-noite, de madrugada ou ao
amanhecer. Para que não suceda que, vindo de repente, ele vos encontre
dormindo. O que vos digo, digo a todos: Vigiai!”.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
https://liturgia.cancaonova.com/pb/
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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Pe.
Roger Araújo:
https://www.youtube.com/watch?v=C-Q-KKLxEJw&feature=emb_logo
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ADVENTO: "sentir o tempo"
“Ficai atentos, porque não
sabeis quando chegará o momento” (Mc 13,33)
Com o Advento,
iniciamos mais um novo “tempo litúrgico”. Qual o sentido dos tempos litúrgicos?
Podemos representá-los
graficamente, visualizando um círculo onde começamos com o Advento, percorremos
os “tempos” da vida de Jesus, com suas celebrações mais importantes, e o “tempo
comum”, que culmina com a festa de Cristo Rei.
Acaso
não é assim o grande círculo da vida? Tempos para gestar a vida, para trazê-la à luz,
para alimentá-la e cuidá-la, “tempos comuns” para descobrir a inspiração do
viver cotidiano, buscando o sentido de tudo o que fazemos e o que acontece ao
nosso redor; às vezes, estes tempos são áridos e cinzentos, outras vezes,
iluminantes e coloridos; tempos com a marca da solidão e da perda e tempos de
primavera em que a vida brota de novo... Podemos dizer que nós, como num
espelho, nos vemos no tempo litúrgico, para compreender e inspirar nossa vida a
partir de “Jesus” e da “comunidade cristã”.
Vivemos hoje tempos
conturbados, tensos...; partilhamos um momento de grande inquietação social, de
aridez espiritual, de drama sanitário, de distúrbios existenciais, de profundos
dilemas morais...
No
entanto, resistimos! Em meio às sombras, perplexidades, contradições,
provocações e promessas, que constituem o atual momento histórico, queremos
expressar a fé no futuro da
nossa vida.
Ainda
que soframos ventos contrários e as nuvens se adensem no horizonte, sabemos e
confessamos com o profeta Jeremias, e pela graça do Espírito, que “há esperança de um futuro” (31,17).
Para
cada momento histórico sempre foi válido o alerta de Guimarães Rosa: “Viver é muito perigoso”. A
liturgia deste primeiro domingo de Advento se atreve a proclamar de novo sua esperança, como uma
grande trombeta, que não chama para a morte, mas para a vida.
A esperança é um
princípio vital, expresso na sábia constatação de que “enquanto há vida, há esperança”. Mesmo
diante de desafios quase intransponíveis, consideramos possível ser de outro
modo, inventamos e reinventamos opções, criamos novas saídas... e, sem cessar,
sonhamos com o “mais” e
o “melhor”. A esperança cristã destrói
os “germes de
resignação” da sociedade moderna e combate a “atrofia espiritual” dos
satisfeitos. Por isso, a esperança cristã tem os pés plantados no “hoje” da
nossa história, inspirando o esforço de transformação deste mundo marcado por
muitos sinais de morte.
É
ela que introduz na sociedade a sede de justiça e o compromisso de humanização.
Aquele
que vive com esperança se
sente impulsionado a fazer o
que espera.
Nesse
sentido, o futuro esperado
se converte em projeto de ação e compromisso.
Ao
adentrarmos, mais uma vez, no tempo do Advento, sentimos ressoar, no mais íntimo, a voz
do Mestre da Galiléia, que nos convida a estar vigilantes e atentos, a viver
despertos...
E temos muitas frentes
abertas: superar o medo que nos paralisa, renovar a esperança no sentido da
vida, avançar com a comunidade para uma nova Igreja em saída, ser as mãos de
Jesus no mundo para curar, consolar, repartir o pão... Tempo para despertar e
cuidar da “casa” que foi confiada à nossa responsabilidade.
A “vigilância”, de
que fala o evangelho, é o outro nome para a atitude de “atenção”.
Para
Simone Weil “a atenção é
uma prece”, pois ela nos mobiliza para uma aliança com o “hoje” da
vida; se não formos prudentes e generosos para manter os olhos bem abertos
sobre o presente, perderemos a possibilidade do encontro com o surpreendente.
Viver tem a marca da simplicidade, que precisamos redescobrir, despojando-nos
de todas as cataratas existenciais que bloqueiam a visão, para deixar-nos
conduzir pelo fluir contemplativo. Estamos muitas vezes alienados da vida,
separados dela por uma muralha de discursos, de ideias vazias, de esperanças
confusas... Com o olhar contemplativo, podemos perfurar esse muro e
deixar-nos impactar pelo novo que se revela do outro lado.
Somos
seres “desejantes”. O
instigante tempo do Advento ativa em nós os desejos mais nobres e oblativos, nos fazem
ultrapassar a barreira do imediato e entrar no movimento que nos impulsiona a
ir além, a entrar em sintonia com Aquele que vem e, ao mesmo tempo, já está
presente. Desejar o encontro com “Aquele que vem” nos sensibiliza a perceber
presente “Aquele que é”.
Por
isso, o evangelho de hoje nos apresenta uma imagem sugestiva, que reúne no
desejo duas atitudes importantes: o tempo da espera e o permanecer em vigília, ambas
vivido no “estar despertos”.
A espera e a vigília
da vinda plena do Senhor não nos afastam da realidade presente. Pelo contrário,
faz-nos encarnar mais lucidamente nela. Nesse novo tempo litúrgico, a
comunidade cristã permanece à escuta dos passos de Deus, em nosso
mundo, em nossa vida. Porque o novo, não vem de fora, mas o sentimos e o
tocamos por dentro.
Aquele que espera o
encontro com o Senhor começa a ler a história como história redentora; descobre
os momentos de inovação; é capaz de ver as libertações sendo gestadas no
silêncio; conecta com as promessas ainda abertas e pendentes: a nova aliança, o
novo povo, o novo êxodo, o Messias...
A
atitude de vigília nos faz descobrir os sinais da chegada do Reino no tempo: não nos
contentamos com o tempo vazio, “normótico” e sempre igual a si mesmo;
descobrimos o tempo de salvação no qual há revelação e realização do novo, da
justiça e da graça.
Os
“esperantes” cristãos precisam aprender a “ressignificar” o tempo, pois o tempo
de Deus e do Reino é o tempo da decisão em favor da vida (kairós). O reino tem
seu tempo e seu ritmo. Não é questão de pressas, não é questão de datas e
lugares, não é questão de cálculos. Tentar acelerar sua vinda seria como
esticar o talo da planta para que cresça mais rápido. O importante é ter a
paciência de quem sabe que a semente do Reino está semeada em nossa história e
ninguém poderá deter seu desenvolvimento.
Nesta
tremenda e instigante história, da qual fazemos parte, precisamos nos situar
bem. Não só com a cabeça, pois aí já temos as coisas mais ou menos claras, mas
com nossa sensibilidade, com compaixão, com nossos modos de falar e de olhar,
com aquilo que deixamos que toque e afete às nossas vidas. Trata-se da
sabedoria de “sentir o
tempo”.
Diante do tempo
dramático que vivemos, nossa tentação é querer saltá-lo, fugindo de suas
exigências.
Advento vem ser,
então, um tempo para
voltarmos para o interior em meio à agitação, olhar para dentro e deixar-nos
perguntar: presto atenção à história que todos vivemos, às suas dores e à sua
beleza? Reconheço seus poderes (augustos, herodes, quirinos) e a vida
vulnerável de Deus iluminando-se nela, apesar de tudo?
Somos iniciados a
“sentir o tempo” de um modo novo, a fazer-nos amigos dele, a nomear e
acompanhar o tempo que nos toca viver, a habitar com intensidade todas as
etapas de nossa existência. Cada momento esconde sua pérola, e é muito
emocionante poder chegar a descobri-la. Precisamos recuperar a força do “hoje”
de Deus fazendo “memória” dos grandes personagens do passado: Isaías,
Jeremias, Elias, João Batista, Isabel, Maria de Nazaré, José... Eles continuam
falando, continuam desvelando sinais de vida plena na história presente. Só uma
sensibilidade marcada pelo tempo do Advento é capaz de entrar em sintonia com
as surpresas de Deus; e a história é o rumor dos Seus passos.
Texto bíblico: Mc
13,33-37
Na oração: Caminhamos
para Deus quanto mais nos adentramos no profundo de nós mesmos e da
realidade. O maior enraizamento no tempo que nos toca viver desperta maior
sensibilidade para sermos surpreendidos pelo novo que brota nos lugares menos
esperados; é precisamente ali onde a vida renasce e amadurece.
- Como você se situa
diante deste “tempo pandêmico”? Desespero? Medo? Desejo de saltá-lo?...
- Qual é o “novo” que
você vislumbra no meio deste tempo? Você percebe algum sentido nele? Para onde
ele aponta? É revelador de algo diferente?...
Pe. Adroaldo Palaoro sj
https://centroloyola.org.br/revista/outras-palavras/espiritualidade/2199-advento-sentir-o-tempo
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