25 de novembro de 2020
- Plinio Maria Solimeo
As editoras costumavam lançar pelo menos um título por mês, dada a
apetência de leitura que o público tinha. Com o surgimento da TV, e sobretudo
da internet, passou a prevalecer a “civilização da imagem”, e a capacidade de
abstração do homem foi se reduzindo a ponto de hoje não despertar interesse
senão aquilo que se dirige diretamente à fantasia. Daí a dificuldade que se tem
em nossos dias da leitura de um livro de caráter doutrinário ou histórico.
Entretanto, Santo Antônio Maria Claret [fotos acima e abaixo], o
grande missionário espanhol do fim do século XIX, fundador dos claretianos,
ressaltava o papel preponderante da leitura para a evangelização, pois ela
alimenta a alma do mesmo modo que a comida nutre o corpo faminto. Mas assim
como a comida deteriorada prejudica a saúde do corpo, a leitura de maus livros
corrompe a alma.
Periódicos ímpios, folhetos heréticos e demais escritos perniciosos
corrompem as crenças, pervertem os costumes, extraviam o entendimento e
corrompem o coração. E do coração corrompido saem todos os males, como diz
Nosso Senhor Jesus Cristo (Mt 15, 19), até se chegar a negar a primeira
verdade, que é Deus, origem de todo o verdadeiro: “Disse o depravado em seu
coração: ‘não há Deus’” (Sl 2, 16).
Santo Antônio Claret passou grande parte de sua vida como missionário. E
para que seus sermões tivessem efeito duradouro sobre os fiéis, procurava todos
os meios que a sua fértil imaginação lhe sugeria. Um deles, ensinado pela
experiência, que considerava o melhor e mais poderoso, era a imprensa, se bem
seja igualmente a arma mais letal quando dela se abusa, acrescentou ele. Por
isso, dedicou-se com afinco à publicação de bons livros e mesmo de folhetos de
fundo religioso como auxiliares de sua pregação.
Em sua autobiografia diz: “Quando ia missionando, cuidava de
todos os aspectos da missão; e, segundo via e ouvia, escrevia um livrinho ou um
folheto. Assim, se na população observava que havia o costume de entoar
cânticos desonestos, publicava um folheto com um cântico espiritual ou moral”. Pelo
que desde o início de seu apostolado publicou folhetos que continham meios para
se combater a blasfêmia.
Na ocasião em que começou a pregar, constituía coisa escabrosa a
quantidade e a gravidade de blasfêmias que se ouviam em todas partes. Parecia a
ele que todos os demônios do inferno se haviam espalhado pela Terra a fim de
fazer os homens blasfemarem. Igualmente, a impureza havia rompido os seus
diques, e por isso resolveu escrever dois folhetos com instruções para
combatê-la.
Segundo ele, para todos os males, é remédio muito poderoso a devoção a
Maria Santíssima, assim no início dos folhetos escreveu a oração:
“Ó Virgem e Mãe de Deus, eu me entrego por filho vosso e, em honra e
glória de vossa pureza, vos ofereço minha alma e corpo, potências e sentidos, e
vos suplico que me alcanceis a graça de não cometer nenhum pecado [neste dia].
Amém. Mãe, aqui tendes vosso filho! Em vós, Mãe dulcíssima, pus toda minha
confiança, e jamais serei confundido. Amém”.
Percebendo os bons resultados que esta publicação produzia nas almas, resolveu escrever outras, segundo as necessidades que observava na sociedade, e distribuía esses folhetos com profusão não só aos adultos, mas aos meninos e meninas que se aproximavam dele. Afirma um seu biógrafo que na Catalunha essa oração tornou-se tão popular como a Salve Rainha.
Tal foi a repercussão da ação deste ardoroso missionário, de sua
pregação e de seus escritos que um periódico de Madri registrou no tempo
dele: “A Catalunha se comove ouvindo a divina palavra da boca de um
homem de 36 anos, e este homem é Antônio Claret. […] O Padre Claret não tem um
momento de descanso. Seus sermões duram geralmente hora e meia. O
confessionário lhe ocupa boa parte do dia, de maneira que rouba ao sono o tempo
que consagra em escrever livros piedosos para uso do povo. […] Louvor, pois, a
esse eclesiástico benemérito que soube adquirir uma justa celebridade, que como
São Vicente Ferrer aparta os povos do lodo dos vícios, e os instrui na ciência
da vida. Grande é a sua missão regeneradora”.
O êxito obtido em todas as camadas da sociedade foi tão grande que o
próprio missionário chegou a afirmar: “Graças sejam dadas a Deus, todos
os livrinhos têm produzido bons resultados; mas dos que produziram mais
conversões foi O Caminho Reto, e o Catecismo
Explicado”.
Principalmente o primeiro teve muita procura, não só entre a gente do
povo mas igualmente das mais altas autoridades do país, observou ele. Da
leitura desses livros saíram muitas conversões, e mesmo na Corte, não passava
dia em que não se apresentassem almas determinadas a mudar de vida por sua
leitura. Todos o buscavam, e não descansavam até obtê-lo.
Tal desejo o obrigou a fazer uma impressão de luxo [foto ao lado] para as pessoas mais categorizadas. Com efeito, o procuraram a rainha, o rei, a infanta, damas do palácio, fidalgos e toda a nobreza. Pode-se dizer que na classe alta não houve casa ou palácio onde um ou mais exemplares da edição de luxo de O Caminho Reto não tivesse penetrado, e nas demais classes, da edição popular.
Apenas um exemplo do bem que as leituras contidas em estampas religiosas
ou nos folhetos operava. Narra ele que numa cidade, quatro réus aguardavam as
respectivas execuções, e não queriam se confessar. Santo Antônio deu então a
cada qual uma estampa religiosa, com considerações espirituais no verso.
Lendo-as, eles refletiram e se confessaram, receberam o Santíssimo Viático, e
tiveram morte edificante.
Considerando o grande bem que faziam seus livros e folhetos, Santo
Antônio Maria Claret, para torná-los mais acessíveis, em 1848 fundou em
Barcelona uma Imprensa Religiosa, colocando-a sob a proteção de Maria
Santíssima de Montserrat, como padroeira que é da Catalunha, e do glorioso São
Miguel.
Com a impressora fundou a Livraria Religiosa para difundir sua
literatura espiritual, fazendo com que eclesiásticos e seculares se provessem
de bons livros, os melhores de que se sabe, ao mais ínfimo preço, de modo que
nenhuma impressora da Espanha fornece livros tão baratos como os da Livraria
Religiosa.
Afirma o santo: “Em todos os livros publicados não se buscou o
lucro, mas a maior glória de Deus e o bem das almas. Nunca cobrei um centavo
como propriedade intelectual do que mandei imprimir; ao contrário, doei
milhares e milhares de exemplares, e continuo doando e, com a ajuda de Deus,
doarei até a morte, pois considero ser a melhor esmola que se pode fazer”.
Hoje fala-se muito nos pobres, mas se faz pouco por eles. Há muita
demagogia sobre seu bem-estar material. Até entre eclesiásticos de todos os
níveis fala-se muito pouco ou quase nada do bem-estar espiritual deles.
Esquecem-se que, como diz o grande Santo Antônio Maria Claret que dedicou a
vida a dar aos desprovidos dos bens materiais a “maior esmola que se
pode dar”, ou seja, a instrução e assistência religiosa para lhes abrir as
portas da bem-aventurança eterna.
https://www.abim.inf.br/a-melhor-das-esmolas/
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