23 de outubro de 2020
Pe. David Francisquini*
Enquanto o Supremo Tribunal Federal revoga a prisão de uma enfermeira acusada de realizar centenas de abortos clandestinos, condena o Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz [foto] que impediu, via judicial, um só aborto.
A enfermeira encontra-se livre por força de liminar
concedida pelo relator do caso no STF, Marco Aurélio Melo, por ter um filho
portador de transtorno de espectro autista, dependente de seus cuidados. Para o
ministro, a prisão que já durava nove meses excedeu o prazo razoável, pois foi
presa em flagrante no ano passado, num hotel, em Belo Horizonte, quando se
preparava para praticar ali mais um aborto clandestino.
Em sua sentença, o ministro Barroso afirmou que a
criminalização do aborto viola os direitos fundamentais das mulheres pobres, já
que elas não podem ter acesso às clínicas de luxo… Por sua vez, a ministra Rosa
Weber alegou que sendo a sociedade machista, não valoriza e nem reconhece os
direitos reprodutivos da mulher… Alexandre de Moraes sentenciou que a soltura
da enfermeira para cuidar de um filho menor ressalta que o distanciamento dos
fatos a impedirá de atitudes criminosas. (Jornal online: Conexão política,
Publicado por Marcos Rocha. Acesso em 17-10-20).
Já o referido caso do Padre Lodi, por ter impedido a
realização de um aborto, foi condenado a pagar uma indenização de quase R$ 400
mil por ‘danos morais’ causados aos pais que desejariam abortar o filho. Antes,
no Supremo Tribunal de Justiça, a ministra Nancy Andrighi, que se declara
católica, na sua sentença afirma que o sacerdote teria abusado de seus direitos
ao pedir liminar para que a realização do aborto não fosse levada a cabo.
Enquanto nos é negada a liberdade de ir e vir a propósito da epidemia, de trabalhar, de frequentar a igreja, de impedir que cada qual procure resolver o seu problema de saúde, a magistrada — para condenar o padre — discorre sobre a liberdade que a pessoa tem para proceder um aborto a fim de evitar traumas.
Tal ‘liberdade’, aliás muito particular de se fazer aborto, vem sendo imposta pela agenda esquerdista de todos os naipes ao fornecer os instrumentos legais para o judiciário, sob pretextos diversos, como no caso em pauta, de evitar traumas para a mãe. Contudo, um ponto importante é omitido nessa trama, pois o aborto pode ocasionar traumas ainda maiores como desequilíbrios psíquicos, loucuras, depressões, podendo chegar até mesmo ao suicídio pelo problema de consciência causado, pois está inscrito no coração da mãe a proibição de matar o próprio filho.
O carinho e o afeto maternos são proibidos de ter a sua
livre expansão no coração de uma jovem mãe que pede proteção, evitando usar de
crueldade. Abusar dessa liberdade é um ato cruel. A Ministra sentenciou que o
padre “buscou ao menos por via estatal a imposição de seus conceitos e
valores a terceiros, retirando deles a mesma liberdade de ação que
vigorosamente defende para si”.
Afirmou ainda que o sacerdote violou a liberdade do casal
para fazer prevalecer a sua “posição particular”, tendo pois agredido a honra
da família ao denominar a atitude tomada por eles de “assassinato”, além de ter
agido de forma temerária ao impor a eles “sentimento inócuo”. A criança a ser
abortada, segundo os médicos, não teria condições de sobreviver após o
nascimento. O que de fato sucedeu.
Salta aos olhos que a nossa legislação não está sendo feita
para favorecer a vida, mas para implantar a cultura da morte. A propósito,
levanto algumas questões. Qual a relação entre a interrupção do curso normal de
uma criança que virá à luz do mundo com o poder das trevas e o obscurantismo?
Já estaríamos na época das trevas? Haveria ainda uma relação entre aborto e
drogas, homicídios, amor livre, libertinagem, eutanásia, liberdade dos
traficantes?
Esta sentença que caiu sobre o Padre Luiz Lodi é um fato
inédito no Brasil, por isso não deixa de ser para os defensores do aborto uma
ocasião a ser comemorada. Do ponto de vista judicial, tal medida tem um papel
preponderante de inibir a voz da Igreja em questões morais e religiosas, pois
ninguém se atreverá a impedir o avanço da agenda pró-aborto, mesmo via
judicial, como fez esse zeloso sacerdote.
Pelo que eu saiba, nunca ocorrera na América Latina
repercussão tão grave no edifício multissecular do Mandamento da Lei de Deus,
ancorado na lei natural, que proíbe matar, principalmente em se tratando de um
inocente e indefeso no ventre materno.
Talvez nem todo leitor saiba da existência de entidades que
ajudam mulheres entrarem na justiça para receber danos morais reais ou
pretensos. Uma delas é o “Fundo Vivas”, que presta auxílio financeiro, por meio
de doações a essas mulheres e que tem também como objetivo arrecadar dinheiro
para auxiliá-las em situações similares.
Seus dirigentes partem do princípio de que não se pode defender o nascituro, mas sim os que livremente procederam a geração de uma criança, isso acima de qualquer princípio moral e ético. Os responsáveis pelo filho em gestação têm o direito de matá-lo, pois um nascimento indesejado iria atrapalhar suas vidas despreocupadas e indiferentes a Deus. Imaginam eles que a liberdade consiste apenas em gozar a vida e ser feliz.
Para eles, o papel do Estado moderno é fazer leis pelas
quais cada indivíduo possa afirmar que ‘na minha vida quem manda sou eu’, e ai
de quem discordar, poderá de ser punido! A isso eu dou o nome de ditadura do
hedonismo, pois a liberdade é para se fazer o bem, e não o que cada um quiser.
Há advogados que afirmam que a interrupção da gravidez é um direito da gestante
e opção do casal, do qual se pode fazer uso, sem persecução penal posterior e
até mesmo sem a interferência de terceiros.
Fatos como esse, poderão abrir precedentes para qualquer
pessoa que queira se utilizar de meios legais para o planejamento e a execução
do crime de assassinato da vida intrauterina, pois terão a garantia da
impunidade. Isso representa de fato um enorme rompimento na história do
cumprimento às Leis de Deus, pois é o homem querendo se sobrepor a Deus!
Com certeza atrairá sobre si e sobre nossa nação terríveis
castigos. Vozes como a do Padre Luiz Lodi precisam ser ouvidas e apoiadas. Não
é permitido que o mal e o erro triunfem sobre a verdade e a virtude! Aqui
poderemos parafrasear David dizendo a Saul que não quis estender a sua mão
contra ele, pois queria conservar a sua mão sem mancha, sem nenhuma iniquidade,
para não pecar contra o ungido do Senhor, mesmo quando Saul o procurava para
matar.
Os abortistas não sossegam, não dão tréguas contra a vida do
inocente: dos ímpios sairá a impiedade; as mãos dos abortistas estão carregadas
de sangue contra as crianças inocentes, clamando a Deus por vingança.
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*Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria – Cardoso
Moreira (RJ).
https://www.abim.inf.br/o-mal-nao-prevalecera/
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