Tão velhinho! Pobre velho!
Vivia ali entre pastores, na alta serra gelada, espalhando bênçãos e esperanças.
Não chores, filha! Deixa que as neves se derretam para que o teu noivo possa transpor o monte. Não desespere, pastor. Então, porque te morre um borrego, bradas assim contra o teu Deus? Não te lembras de Job? Não tens ainda tanta ovelha fecunda trincando a erva dos outeiros, bebendo a água das fontes?
Por que choras, mulher?
Levanta os olhos para o céu, ele lá está, é anjo entre os anjos do Senhor. Que melhor queres? Aqui seria zagal: tremeria ao frio, fugiria ao lobo e, muita vez, talvez chorasse à míngua vendo o embornal vazio ou tiritasse assentado à beira da cinza morta. Deixa-o lá! Falava à noiva triste, ao pegureiro bravio, à mãe chorosa, o velho pároco serrano.
Tão velhinho! Pobre velho!
Nem mais fugiam as pombas quando o viam entrar vagarosamente na velha igreja, iam- lhe à frente as pombas, arrulhando com familiaridade.
A sua missa era longa. Tão velhinho!
Já lhe custava pronunciar, e para ler então! Baixava a cabecinha branca e trêmula sobre as amarelecidas folhas do missal como se as beijasse. Às vezes, porém, ficava extasiado: os olhos longamente postos no crucificado e, quando os descia, estavam rasos de água.
Grande santo!
E morreu...
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Coelho Neto (Henrique Maximiano C. N.), fundador da Cadeira 2 da ABL. Recebeu os Acadêmicos Osório Duque-Estrada, Mário de Alencar e Paulo Barreto. romancista, crítico e teatrólogo, nasceu em Caxias, MA, em 21 de fevereiro de 1864, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 28 de novembro de 1934.
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