2º Domingo do Tempo Comum
Imaculado Coração da Virgem Maria – Sábado, 21/06/2020
Evangelho (Lc 2,41-51)
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo
Lucas.
— Glória a vós, Senhor.
Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, para a festa
da Páscoa. Quando ele completou doze anos, subiram para a festa, como de
costume. Passados os dias da Páscoa, começaram a viagem de volta, mas o
menino Jesus ficou em Jerusalém, sem que seus pais o notassem. Pensando
que ele estivesse na caravana, caminharam um dia inteiro. Depois começaram a
procurá-lo entre os parentes e conhecidos. Não o tendo encontrado,
voltaram para Jerusalém à sua procura. Três dias depois, o encontraram no
Templo. Estava sentado no meio dos mestres, escutando e fazendo perguntas.
Todos os que ouviam o menino estavam maravilhados com sua
inteligência e suas respostas. Ao vê-lo, seus pais ficaram muito admirados
e sua mãe lhe disse: “Meu filho, por que agiste assim conosco? Olha que teu pai
e eu estávamos, angustiados, à tua procura”. Jesus respondeu: “Por que me
procuráveis? Não sabíeis que devo estar na casa de meu Pai?” Eles, porém,
não compreenderam as palavras que lhes dissera. Jesus desceu então com seus
pais para Nazaré, e era-lhes obediente. Sua mãe, porém, conservava no coração
todas estas coisas.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
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Ligue o vídeo abaixo e acompanha a reflexão do Padre Roger
Araújo:
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“Não tenhais medo!”(Mt 10,31)
O ser humano amadurece no confronto entre desejo e medo. Não
há medo sem um desejo escondido e não há desejo que
não traga consigo um medo. O desejo e o medo estão
profundamente ligados.
É constitutivo, na natureza humana, a tendência natural de
tentar ultrapassar o imediato, de arriscar novos
horizontes, de enfrentar perigos, de buscar, de criar, de se aventurar; mas, em
seu interior, está também presente a tendência oposta, ou seja, poupar-se e
acautelar-se, a necessidade inata de evitar o perigo, de se afastar dos
obstáculos, de se acomodar no passado, no conhecido, no que dá segurança...
Há, em todos nós, um desejo de plenitude e o medo
do fracasso. No nosso processo de crescimento humano, o medo não
superado e o desejo bloqueado vão gerar frustrações; de outro lado,
o medo superado e o desejo desbloqueado vão permitir que
sejamos mais ousados e criativos.
O evangelho deste domingo nos revela que Jesus é um profundo
conhecedor do coração humano; ele sabe de quê somos feitos e o que se passa no
mais profundo de cada um de nós. Ele conhece profundamente as inseguranças e os
medos que nos habitam.
Por isso, do seu humano coração, marcado com as fibras da
coragem, brota este apelo: “Não tenhais medo!” Esta expressão está
situada no contexto do envio dos discípulos em missão. Jesus acaba de dizer a
seus seguidores que eles serão perseguidos e encarcerados.
Se Jesus nos convida a não ter medo, não é porque nos
prometa um caminho de rosas. Não se trata de confiar em que não nos acontecerá
nada desagradável, ou, se algo mal nos acontece, alguém nos livrará do perigo.
Trata-se de uma segurança que permanece intacta em meio às dificuldades,
sabendo que os contratempos não podem atrofiar nosso ser essencial. Deus não é
a garantia de que tudo irá bem, mas a segurança de que Ele estará aí presente,
em qualquer situação que estivermos envolvidos.
O apelo de Jesus também pode ser aplicado a todas as
situações de medo paralisante que podemos encontrar na vida. Por detrás de
numerosos comportamentos destrutivos – o consumo compulsivo, a
dependência, o ódio, o racismo, a intolerância, a indiferença, a suspeita, a
violência, a competição, a exclusão, a prepotência, o abuso de poder ...
- se oculta o medo. O medo continua enchendo
nosso planeta de vítimas anônimas, impedindo que a humanização e a harmonia,
nossa vocação última, se expressem.
No atual momento, toda a humanidade está atravessada por um
terrível medo: a contaminação pelo convid-19. Mas, os grandes medos não
aparecem com freqüência; são os pequenos medos, que surgem dos encontros
diários com a realidade, que roubam da pessoa sua vitalidade e dinamismo.
O medo inibe o pensamento, impede a concentração e é, portanto, muito
responsável por se fazer as coisas de modo medíocre, sem valor, abaixo das
possibilidades e contra as próprias expectativas.
O medo não é um ato moral nem uma omissão. Sem ser
convidado, ele cresce no coração humano. Em tal atmosfera de medo, a imaginação
e todas as energias criativas se atrofiam.
O medo é um câncer que ameaça a fé, o amor e a
esperança de pessoas e instituições; ele corrói as fibras humanas, asfixia
talentos, esvazia a vida e mata a criatividade. O medo encolhe o ser
humano, inibe a decisão e bloqueia os movimentos em direção ao “mais”. Sua
intensidade pode anular a capacidade de reação das pessoas ou das instituições;
ele impede o discernimento e a busca da solução mais inteligente para os
problemas; longe de resolvê-los, pode agravá-los a médio e longo prazo.
Enfim, o medo obscurece o sentido e a direção da
vida, tira o brilho tão próprio do amor e seca as fontes da esperança; ele nos
acovarda e nos enterra na acomodação mesquinha.
No evangelho, que acabamos de escutar, Jesus faz referência
ao medo que pode vir de fora, provocado por aqueles que se fecham e
resistem frente à novidade do anúncio do Reino. Mas, também podemos considerar
o apelo de Jesus – “Não tenhais medo!” – em chave de interioridade; esta
expressão se refere a um acontecimento interior, pois o medo é o inimigo de
nosso eu original.
Quando o inimigo é uma força externa, nem sempre há motivos
para alimentar o medo. Mas quando os inimigos se encontram no nosso próprio
interior (traumas, recalques, frustrações, fracassos...), provocando medos
paralisantes, é preciso ter a coragem para desvelá-los, conhecer a raiz de onde
brotam, entrar em diálogo e reconciliar-nos com tudo aquilo que foi rejeitado e
que continua envenenando nossa vida.
Podemos ser presa fácil de um medo que foi
introjetado pelas experiências de insegurança e frustração do passado, e que
impede deslanchar todas as nossas potencialidades humanas. Tal medo nos
aniquila, pois mina toda possibilidade de alimentar a fé-confiança em nós
mesmos, nos outros, e sobretudo n’Aquele que nunca provoca medo, com ameaças de
inferno, julgamentos...
No fundo, o medo é a ignorância com respeito a nós mesmos;
vivemos a cultura da superficialidade e esquecemos o caminho que dá acesso ao
nosso coração. Se conhecêssemos nosso verdadeiro ser, não ha-veria lugar para o
medo, que nos mantém confinados na prisão de nossa interioridade doentia. Se
experimentássemos, por nós mesmos, a realidade que nos fundamenta, estaríamos
sempre tranquilos e em paz.
Uma sadia interioridade supõe mobilizar o coração para a
imprevisível revelação de um Deus Outro, que faz de nosso ser sua morada.
Isso implica adentrar-nos com os pés descalços, despojando-nos de nosso
afã de domínio, de controle, “deixando Deus ser Deus”: amor,
mistério, surpresa, desconcerto, noite...
Todos nós já tivemos a oportunidade de perceber as
consequências funestas quando levamos uma vida dispersa, agitada, ansiosa,
evasiva, inquieta...; e, ao contrário, o que sentimos e saboreamos quando
entramos no espaço interior, mesmo que seja por poucos instantes: a paz do
coração, a serenidade prazerosa, a percepção do sussurro amável, a brisa que
nos envolve quando permanecemos submergidos na certeza de saber que somos
amados, sem dependência e nem fragmentação.
Alguns testemunhos confirmam e dão crédito a esta
experiência interior: “Fizeste-nos para ti, e inquieto está nosso
coração até que descanse em ti” (S. Agostinho). “Nada te perturbe,
nada te espante, quem a Deus tem, nada lhe falta, só Deus basta” (S.
Teresa de Jesus)
Sem a superação cotidiana desse medo, nossa missão estará
comprometida; perderá sua força inovadora, garantida pela novidade do Projeto
de Deus. O compromisso com o Reino requer de todos uma forte dose de coragem e
uma alma ágil, animada e vivificada pelo sabor da aventura e da novidade.
Nada de medo nesta terra sobre a qual Jesus pisou
e nos corações que Ele visita diariamente.
O velho medo não vigora onde os olhos se abrem
para a suprema realidade do mundo como criação de Deus, e da vida como um
presente d’Ele.
Vencido o medo, nós nos tornaremos autênticos(as),
criativos(as) e audazes seguidores(as) de Jesus.
“Quem for medroso e tímido
volte para trás” (Jz. 7,3).
Texto bíblico: Mt. 10,26-33
* Jesus conhece a necessidade de intervir no mais escondido
de cada um dos seus discípulos; ali estão alojados
os mais diferentes medos, que minam a força e a coragem do
seguimento.
* Dar nomes aos medos pessoais: são reais?
Imaginários?
* Quê desejos alimentam e sustentam sua vida?
Pe. Adroaldo Palaoro sj
* * *
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