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segunda-feira, 8 de junho de 2020

ANOS AGITADOS – Carlos Pereira Filho


   
      Entre 1920 e 1930 o município havia crescido muito. O seu povo trabalhava a passos acelerados. O comércio se firmava como um dos mais importantes da região e a produção cacaueira se aproximava de duzentos mil sacos.

            Uma enchente muito grande do Cachoeira ameaçou invadir a cidade, tendo causado sérios estragos nos armazéns dos compradores de cacau, na Rua da Jaqueira, o que muita gente tomou como castigo contra os especuladores.

            Nesse períodos a política itabunenses esteve muito agitada. As lutas entre Gileno Amado e Henrique Alves assumiram, muitas vezes, proporções alarmantes. As paixões cresceram muito, a tensão entre os partidos se extremou demasiadamente.

            Houve choques de jagunçada, mortes de lado a lado. Boatos de toda espécie. Intrigalhada a mais terrível. Nomes como o de Antônio Pereira figuravam nos cartazes da valentia. Carlos Cotó, Manuel dos Brejos, Eduviges Cauassu, comandavam os acontecimentos por detrás das pontas das ruas e nos distritos distantes. A Rua da Palha tomou fama. Macuco e Ferradas não ficavam atrás. Se Henrique Alves era forte em Ferradas, Gileno Amado fortíssimo em Macuco. Palestina, ponto mais extremado, agasalhava a reserva dos cabras valentes, que ali estacionavam de prontidão, com Quintino Marques na zona divisora, entre a terra do cacau e o sertão de Conquista.

            Entre esses anos passaram pela intendência de Itabuna, José Kruschewsky, Laudelino Lorens, em substituição a Gileno Amado, Henrique Alves dos Reis e Benjamim de Andrade, que saiu com a revolução de 1930.

            Dois episódios dominaram a opinião pública no período agitado desses dez anos. O ataque ao Tiro de Guerra, repelido pelos atiradores comandados pelo Sargento “Massaroca”, um preto valente do Exército Nacional, e o cancelamento da agência do Banco do Brasil, recém-criada, com a devolução  do material já transportado e do seu gerente, que ali se encontrava para a instalação da respectiva agência, façanha de um político.

            A grita foi geral e infrutífera. O chefe político, deputado federal, possuía força e voltou o material da agência, cancelando a sua fixação. Tudo isso porque, naquela época, o representante do Banco do Brasil, no comércio local, tinha interesse de manter o dinheiro do Banco em sua mão, com o qual comprava cacau e especulava na região, tanto valia, naqueles anos, a força dos poderosos, possuidores dos meios econômicos e políticos, contra os direitos da coletividade.

            Até mesmo a influência de Francisco Fontes da Silva Lima, tradicional defensor dos interesses comerciais de Itabuna, de coisa alguma serviu. E olhe lá que Francisco Fontes, “seu Fontes” como ainda é conhecido, pesava na balança, era respeitado e considerado desde quando, em 1908 ele e outros companheiros haviam constituído uma sociedade para defender o comércio, contra os impostos de consumo do Estado e dos abusos de um coletor.

            Não se falava mais da influência de Firmino Alves. O velho chefe itabunenses estava como que aposentado. Ficara até pobre. Já cumprira a sua missão. Descobriu e povoou o município e o perdeu para outros donos, outros chefes.

            Assim é tudo na vida; provisoriamente de um proprietário, depois de outro, sucessivamente, correndo gerações. No particular, Tourinho tinha razão, quando criticava a ambição de alguns lavradores. Costumava perguntar a Oscar Marinho e a Zezinho Kruschewsky para que tanta luta, tanta usura? Amanhã morreriam e as fazendas iriam pertencer a outros, até a um estranho. E citava o exemplo de um sírio ladrão como só ele que ficara milionário, emprestava dinheiro a juros de judeu, acionava, executava, tomava as fazendas, comprava todas as joias que podia. Vivia com a mulher e filhos, somente para a família, dentro da fortaleza de seu egoísmo, da sua ambição desmedida. De uma hora para a outra morreu. E anos depois a viúva, ainda aproveitável, se casou com um moço mais jovem, simpático e risonho. E foi aquela desgraça. Jogou na roleta o dinheiro acumulado pelo sírio sovina e, depois, abandonou a mulher, pobre e doente, atrás de uma mulher vagabunda.

 (TERRAS DE ITABUNA Capítulo XXI)
Carlos Pereira Filho
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