Entre 1920
e 1930 o município havia crescido muito. O seu povo trabalhava a passos
acelerados. O comércio se firmava como um dos mais importantes da região e a
produção cacaueira se aproximava de duzentos mil sacos.
Uma
enchente muito grande do Cachoeira ameaçou invadir a cidade, tendo causado
sérios estragos nos armazéns dos compradores de cacau, na Rua da Jaqueira, o
que muita gente tomou como castigo contra os especuladores.
Nesse
períodos a política itabunenses esteve muito agitada. As lutas entre Gileno
Amado e Henrique Alves assumiram, muitas vezes, proporções alarmantes. As
paixões cresceram muito, a tensão entre os partidos se extremou demasiadamente.
Houve
choques de jagunçada, mortes de lado a lado. Boatos de toda espécie. Intrigalhada
a mais terrível. Nomes como o de Antônio Pereira figuravam nos cartazes da
valentia. Carlos Cotó, Manuel dos Brejos, Eduviges Cauassu, comandavam os
acontecimentos por detrás das pontas das ruas e nos distritos distantes. A Rua
da Palha tomou fama. Macuco e Ferradas não ficavam atrás. Se Henrique Alves era
forte em Ferradas, Gileno Amado fortíssimo em Macuco. Palestina, ponto mais
extremado, agasalhava a reserva dos cabras valentes, que ali estacionavam de
prontidão, com Quintino Marques na zona divisora, entre a terra do cacau e o
sertão de Conquista.
Entre
esses anos passaram pela intendência de Itabuna, José Kruschewsky, Laudelino
Lorens, em substituição a Gileno Amado, Henrique Alves dos Reis e Benjamim de
Andrade, que saiu com a revolução de 1930.
Dois
episódios dominaram a opinião pública no período agitado desses dez anos. O
ataque ao Tiro de Guerra, repelido pelos atiradores comandados pelo Sargento
“Massaroca”, um preto valente do Exército Nacional, e o cancelamento da agência
do Banco do Brasil, recém-criada, com a devolução do material já transportado e do seu gerente,
que ali se encontrava para a instalação da respectiva agência, façanha de um
político.
A grita
foi geral e infrutífera. O chefe político, deputado federal, possuía força e
voltou o material da agência, cancelando a sua fixação. Tudo isso porque,
naquela época, o representante do Banco do Brasil, no comércio local, tinha
interesse de manter o dinheiro do Banco em sua mão, com o qual comprava cacau e
especulava na região, tanto valia, naqueles anos, a força dos poderosos,
possuidores dos meios econômicos e políticos, contra os direitos da coletividade.
Até mesmo
a influência de Francisco Fontes da Silva Lima, tradicional defensor dos
interesses comerciais de Itabuna, de coisa alguma serviu. E olhe lá que
Francisco Fontes, “seu Fontes” como ainda é conhecido, pesava na balança, era
respeitado e considerado desde quando, em 1908 ele e outros companheiros haviam
constituído uma sociedade para defender o comércio, contra os impostos de
consumo do Estado e dos abusos de um coletor.
Não se
falava mais da influência de Firmino Alves. O velho chefe itabunenses estava
como que aposentado. Ficara até pobre. Já cumprira a sua missão. Descobriu e
povoou o município e o perdeu para outros donos, outros chefes.
Assim é
tudo na vida; provisoriamente de um proprietário, depois de outro,
sucessivamente, correndo gerações. No particular, Tourinho tinha razão, quando
criticava a ambição de alguns lavradores. Costumava perguntar a Oscar Marinho e
a Zezinho Kruschewsky para que tanta luta, tanta usura? Amanhã morreriam e as
fazendas iriam pertencer a outros, até a um estranho. E citava o exemplo de um
sírio ladrão como só ele que ficara milionário, emprestava dinheiro a juros de
judeu, acionava, executava, tomava as fazendas, comprava todas as joias que
podia. Vivia com a mulher e filhos, somente para a família, dentro da fortaleza
de seu egoísmo, da sua ambição desmedida. De uma hora para a outra morreu. E
anos depois a viúva, ainda aproveitável, se casou com um moço mais jovem,
simpático e risonho. E foi aquela desgraça. Jogou na roleta o dinheiro
acumulado pelo sírio sovina e, depois, abandonou a mulher, pobre e doente, atrás
de uma mulher vagabunda.
(TERRAS DE ITABUNA Capítulo XXI)
Carlos Pereira Filho
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