Como todos os meninos, fui também um caçador de heróis. A
leitura das Vidas paralelas de Plutarco, largo manancial de coragem e
ousadia, ordenou parte desse imaginário caçador. Sonhava ideias generosas e
temperava o caráter com Alexandre e Júlio Cesar, Teseu e Rômulo, Demóstenes
e Cícero. Textos paralelos, espelhos de diálogo, esquinas do passado com o
futuro. Não havia nada que não fosse amplo e altissonante naquelas páginas. Não
se perdoavam gestos pequenos ou indignos. As vidas ensinavam, mas eram três: as
duas, que Plutarco redigia, e a do leitor, buscando imprimir, de forma altiva,
para si mesmo, a renovação de uma biografia.
Sou amigo de Plutarco –, não o melhor, nem o único –, dentre
as muitas amizades que se formaram, em torno de seu nome, ao longo de dois mil
anos. Atravesso alguns cenários invisíveis, quase desfeitos. Bato à porta de
fantasmas vivos, mais vivos que meus contemporâneos, com quem ressuscita
algumas vozes, a buscar formas híbridas para a leitura do mundo.
Tais questões emergem do livro Como se tornar um líder,
de Jeffrey Beneker. Ideias que tangenciam a crise da política e representação,
nas democracias de baixa intensidade, como a brasileira, com a perda de
espessura institucional e a decorrente escassez de lideranças.
O mundo antigo tem muito a ensinar. Se todas as épocas
possuem uma visão do sublime, não podemos desconsiderar os elementos seminais
da História do Ocidente. Plutarco é um aliado na recuperação do território, da
cidade, do governo concreto, longe de uma certa abstração federativa que
despreza o lugar onde se vive.
A visão do herói serve para a formação dos meninos, com um
arquétipo incontornável. Adultos, não precisamos de heróis. E os que se arrogam
tal condição ameaçam as instituições republicanas.
Desejo lideranças corais, que não percam o horizonte da
comunidade e do pertencimento. Lideranças que compreendam a formação do
consenso e a liturgia do poder. As Vidas paralelas brilham como um
farol em tempos obscuros. E comprovam, uma vez mais, que sem educação
republicana não haverá saída para o futuro.
Jornal de Letras, Artes e Ideias (Lisboa), 20/05/2020
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Marco Lucchesi - Sétimo ocupante da cadeira nº 15, eleito em
3 de março de 2011, na sucessão de Pe. Fernando Bastos de Ávila, foi recebido
em 20 de maio de 2011 pelo Acadêmico Tarcísio Padilha. Foi eleito Presidente da
ABL para o exercício de 2018.
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