Três Editoras no Sul da Bahia
Cyro de Mattos
Há pouco mais de cinquenta anos, o
romancista Otávio de Faria perguntou na Biblioteca Nacional ao amigo Adonias
Filho o que era que o sul da Bahia produzia além do cacau. Respondeu sem
hesitar o consagrado escritor Adonias Filho que produzia artistas da
palavra. E citou os nomes de Jorge
Amado, Sosígenes Costa, Emo Duarte,
Jorge Medauar e Hélio Pólvora. Acrescentou que mais escritores estavam
chegando, como Telmo Padilha, Florisvaldo Mattos, Marcos Santarrita, Ildásio
Tavares, Sonia Coutinho e este cronista.
A publicação de escritores do sul
baiano naqueles idos que já vão longe acontecia
de fora para dentro. Depois que a Universidade Estadual de Santa Cruz
foi implantada há pouco mais de duas
décadas, a publicação de escritores sulinos do Estado passou
a ser realizada de dentro para fora.
Como usina educativa e cultural, a UESC vem fornecendo o
instrumental teórico necessário, que serve como estímulo e lapidação das
vocações dos escritores no sul do
Estado.
Formado o poderoso corpo literário, fazia necessário a criação da editora
para publicar os livros de tantos autores nascidos ou residentes no sul da
Bahia. Surgiu primeiro a Editus, editora da Universidade Estadual de Santa
Cruz, sediada na rodovia Jorge Amado,
entre Ilhéus e Itabuna. Dirigida hoje pela
doutora Rita Virgínia Argolo, passa por fase difícil em virtude da falta de verba estadual. Presta-se às publicações de natureza universitária, além de prestigiar
a edição de autores regionais,
selecionados pelo seu conselho consultivo.
A impressão de seus livros, sob
o ponto de vista de confecção artística e gráfica, para não se falar do
conteúdo, é de excelente nível. Circulam em ambiência nacional, com a
vantagem de que a Editus integra a Associação Brasileira de Editoras Universitárias, marcando presença em feiras de livros e eventos,
inclusive nas bienais de São Paulo e Rio de Janeiro.
A
segunda de nossas editoras é a Via Litterarum,
sediada em Ibicaraí, já com dezenas de títulos em seu catálogo. Seu diretor é o incansável Agenor Gaspareto, dublê de editor guerreiro e professor universitário.
A caçula é a Mondrongo, regida sob a batuta do poeta e cronista Gustavo Felicíssimo, localizada em Itabuna. Possui
livros premiados em concurso literário cobiçado, de âmbito nacional, como A Dimensão Necessária, de João Filho, Prêmio
de Poesia da Biblioteca Nacional, e Natal de Herodes, Prêmio de Poesia da
Academia Pernambucana de Letras.
Qualquer escritor que seja publicado por uma das três editoras está
em boas mãos.
Até
hoje essas editoras não receberam por sua iniciativa o reconhecimento e o abono merecido de um projeto
das secretarias de educação e da cultura de Itabuna e Ilhéus, como
incentivo à edição de livro do autor regional.
Lamentável. A literatura é útil ao próximo na compreensão do mundo. Fala à imaginação e ao sentimento. É a
expressão mais completa do homem na leitura do mundo. Cometem omissão incompatível com a sua finalidade de órgão público
educativo quando deixam de elaborar
projeto de reconhecimento e incentivo à
editora no sul do Estado. O
patrimônio formado pela literatura é valioso,
serve para apresentar a vinculação da vida no seu processo histórico ao percurso
espiritual de um povo. Nunca é
demais lembrar o que nos disse o genial poeta Castro Alves.
Oh! Bendito o que
semeia
Livros à mão cheia
E manda o povo pensar!
O livro, caindo n'alma
É germe – que faz a palma,
É chuva – que faz o mar!
Livros à mão cheia
E manda o povo pensar!
O livro, caindo n'alma
É germe – que faz a palma,
É chuva – que faz o mar!
*Cyro de Mattos é poeta e escritor. Primeiro Doutor Honoris
Causa da Universidade Estadual de Santa Cruz. Membro do Pen Clube do Brasil,
Academias de Letras da Bahia, Ilhéus e Itabuna. É também editado em Portugal,
Itália, França, Alemanha e Espanha. Seus livros são também editados pela Editus, Via Litterarum e Mondrongo.
* * *
Nenhum comentário:
Postar um comentário