A Rosa com Agruras e Ariston Caldas
Cyro de Mattos
Nome completo, Ariston Ribeiro Caldas,
nascido em 15 de dezembro de 1926, na fazenda Boa Sorte, no
município de Alagoinhas. Aos oito anos veio com a família para Uruçuca, antiga
Água Preta, terra do contista Jorge Medauar e do poeta Florisvaldo Mattos.
Tempos depois mudou para Itabuna, onde passou grande parte de sua vida e teve
suas melhores emoções.
Ariston
Caldas foi cronista, poeta e contista. Jornalista com passagem na imprensa de
Salvador. Confessava que desejava escrever romances, mas não tinha fôlego para
empreender a aventura de representar a vida em níveis mais amplos. Publicou A
hora sem astros, Olhos d’água, Mar distante, Balada que vai e vem, A rosa
daquela esquina e Dissipação. Sua Obra Reunida (2014) tem o selo da editora
Mondrongo, Em 2014, depois de um recolhimento de trinta e quatro anos, voltou a
publicar literatura, dessa vez com Linhas intercaladas, volume de cinquenta
contos, da editora Via Litterarum, com prefácio do compositor Fernando Caldas,
sobrinho do poeta.
Suas
histórias alcançam interesse pelo que têm de gente comum vivendo no interior e
do cenário que não mais se encontra nos
tempos atuais de globalização, da tecnologia e da imagem visual. Em nosso
entendimento, o poeta está acima do contista, que não usou bem a estilização do
discurso na arte de contar história, oscilando entre vícios e virtudes. Sua
poética instintiva, de inquietação e sentimento do que imagina e vê, não
recorre aos elementos formais com exagerada preocupação da técnica, nem é
influenciada pelas vanguardas. Também não se esforça para ressaltar a
sonoridade e o embelezamento do verso, dando a perceber o desinteresse pela
mensagem lírica do conteúdo. Não tende
para a estética parnasiana, que muito pouco acrescentou à poesia em termos de
mensagem como vínculo de gravidade de nossa condição humana, limitando-se mais
à perfeição formal como o primeiro plano do poema.
Certa vez confessou que ser poeta é abraçar
a vida no plano integral dos sentimentos, que emergem da viagem perigosa do
existir. Sabê-la, com os momentos fortes, como o amor, o ódio, a dor, a mágoa,
o tédio, as desilusões, a saudade, a esperança, a tristeza e a fé, é o prisma
pelo qual o poeta universal se direciona no seu discurso. Acreditava que o poeta é portador de todas as
sensações do mundo. Frisava: “Todos os enfermos repousam em sua alma, sente
todas as ingratidões, ama ao extremo e sofre como ninguém jamais sofreu. Tem
esperança imorredoura, o que não é simplesmente uma esperança, mas o
pressentimento do significado absoluto da vida universal.”
Nessa
poesia desvinculada de estéticas definidas, que configuram a conduta de
gerações, usou o verso livre e o tradicional com as unidades rítmicas apoiadas na
métrica e na rima. Utilizou os dois padrões mencionados, conforme o momento
para conversar com a vida na sua passagem fugaz, se esconder no caminho que não
tem volta, no sentimento forte do amor, no trágico que não se desvenda e é dissolvido
na indiferença.
Escreveu neste
sentido o poema “Convicção”, até hoje perfeito, criação feliz que aborda o
instante extremo definido como enigma, que, inexplicável, apresenta-se com as
vestes da vida e da morte. Vejam o poema
abaixo transcrito.
Convicção
A vida é assim mesmo, meu amigo:
A gente nasce e morre num instante,
Esta é a recompensa, este é o castigo,
Que nos espera pouco ou mais distante.
Nem nos vale o beijo quente da amante
Nem a bênção mesquinha do mendigo;
Até o santo amor, agonizante,
Terá seu fim no fundo do jazigo.
Nós somos tudo, meu
amigo, enquanto
Nos olhos vivos nos ocorre o pranto
Ou nos lábios um sorriso de alento.
Apenas o consolo que nos resta
É de sabermos que
depois da festa,
Mergulhamos de vez no esquecimento.
Poeta de compulsões anímicas, que se nutria com o eu de
confissões, conversas com o velho rio, a amada que ficou “no poema recriado
pela colegial de olhos miúdos, numa tarde de sete de setembro”, mistura a
agonia com estrelas e oceanos. Teve no estro como
companhia a rosa com agruras, o sentido da vida
dirigido à intimidade “com um
sabor amargo de partida”.
Homem
simples, voz mansa, o coração fraterno.
Quando rapaz, gostava de jogar futebol, atuando como goleiro em partidas
aguerridas no saudoso Campo da Desportiva.
Faleceu em 20 de fevereiro de 2007, em
Salvador.
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Cyro de Mattos é ficcionista, poeta, cronista, ensaísta e
autor de literatura infantojuvenil. Membro efetivo da Academia de Letras da
Bahia. Doutor Honoris Causa da UESC (Bahia).
Possui prêmios importantes. Publicado no exterior.
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