Eu estava à procura
De um diamante,
Mas o que encontrei
Foi ainda mais
Surpreendente
Uma das
questões recorrentes na minha vida é a capacidade da ciência para esclarecer
acontecimentos inexplicáveis. Muitos de meus amigos próximos têm uma admiração
profunda pelo misticismo, com o qual não me identifico. Minha mulher, Ellen, e
eu discutimos sobre tudo, desde OVNIs até cura espiritual. Na minha opinião,
tudo isso é fantasia, mas para ela são possibilidades fascinantes.
Filho de
médico, sempre admirei a ciência e seu método rigoroso. Portanto, de modo
geral, não acredito em algo que não possa ser medido e repetido de forma
precisa. Ellen, no entanto, crê que há no universo muitos acontecimentos que
ninguém pode explicar de forma exata - nem agora, nem nunca.
Mas um
incidente singular transformou nossa discussão normalmente afável em algo mais
sério. Naquela época, morávamos em Nova York. Num domingo de manhã, a mãe de
Ellen, Elizabete, telefonou de Yakima, no estado de Washington , onde morava.
Depois de um animado “Oi, mãe”, minha mulher ficou em silêncio, só ouvindo.
Pela expressão preocupada em seu rosto, pude perceber que a mãe estava
aborrecida.
Ele cobriu
o fone com a mão e disse:
- Ela
perdeu o diamante, a pedra do anel de noivado. Foi visitar uma colega, e ele
desapareceu em algum ponto do caminho.
E falou ao
telefone:
- Ah, mãe,
sinto muito! Eu sei como o anel é importante para você.
Sem
pensar, eu disse:
- Diga a
ela que não se preocupe. O diamante não está perdido, está no carro, embaixo do
banco dianteiro.
Ellen olhou
para mim, os olhos arregalados, incrédula, mas transmitiu o recado assim mesmo.
A mãe foi procurar o diamante e logo depois ligou de novo, dizendo que não
tinha conseguido encontrá-lo em nenhum lugar do carro.
- Bem,
está lá - eu disse.
Depois de
desligar o telefone, Ellen perguntou:
- O que
aconteceu com você?
A verdade
é que eu não tinha certeza. apenas encolhi os ombros e respondi:
- Somente
achei que soubesse. Talvez o universo estivesse falando comigo.
- Logo com
você!
E sorriu
de um jeito que me fez desejar ter ficado com a boca fechada.
VAMOS
AVANÇAR uns dois anos. Vivíamos ocupados, atarefados com a responsabilidade de
criar um filho. Eu raramente pensava no diamante perdido de Elizabeth. De
tempos em tempos, porém, um dos genros a visitava em Yakima. O episódio do
diamante - e minha intuição de que ele estava no carro - passara a fazer parte
do folclore da família. Todos o procuravam, mas ninguém conseguia encontrá-lo.
Então, num
verão, planejamos passar uns dias na casa dos pais de Ellen. Gostávamos muito
de ir para lá. O pai tinha sido um empresário de sucesso e agora, aposentado,
tornara-se um aficionado do radioamadorismo. A mãe era uma das pessoas mais
racionais e cultas que já conheci. Achava divertido estar com eles. Além disso,
partilhavam da minha impaciência com o lado intuitivo e irracional da
experiência humana que tanto fascinava a filha deles. Às vezes nos uníamos
contra ela nas conversas à mesa do jantar.
Mas Ellen
não é superficial em seus pontos de vista e era capaz de encerrar as discussões
nos acusando de “pensar de forma linear e ficar presos a uma visão de mundo
rígida e cientificista”.
Na
primeira noite de nossa estada, o jantar estava delicioso, a conversa animada e
amistosa. Eu pressentia, no entanto, que Ellen esperava que eu tocasse no
assunto do diamante. Então, enquanto ela e nosso filho ajudavam a tirar a mesa,
eu disse para Elizabeth:
- Se você
me der uma lanterna, vou tentar achar seu diamante.
Três
cabeças se voltaram para mim como se eu tivesse falado numa língua
incompreensível. Somente Ellen não pareceu surpresa. Luke disse:
- Não vai
conseguir, pai.
É verdade,
pensei. Não vou conseguir. Mas a sorte estava lançada. O máximo que poderia me
acontecer era passar por um pequeno vexame. Mas seria bom deixar esse assunto
de lado para poder reafirmar minha visão racional do mundo sem a enfraquecer
com uma bobagem que eu mesmo criara.
Tentando
me tirar daquela situação delicada, meu sogro disse:
- Aquela
velha perua já fez tantas viagens ao depósito de lixo nesses dois anos que, se
um dia o diamante esteve lá, com certeza não está mais.
A própria
Elizabeth me olhou como se eu estivesse de brincadeira. Apesar disso, foi até a
cozinha e voltou com a lanterna. Desci ao porão e passei pela porta que leva à
garagem. O branco fosco do carro brilhava com a luz fluorescente vinda do
teto. Abri a porta do motorista e ajoelhei-me junto ao banco. O pai de Ellen,
de pé na porta da garagem, olhava-me com ar divertido. Empurrei a alavanca que
controla a posição do assento e o deslizei para trás a fim de ver o lugar onde
eu imaginava que o diamante estivesse. Não estava lá.
Exasperado,
falei em voz alta:
- Vamos lá, diamante! – E simultaneamente
levantei a almofada do banco, expondo um suporte metálico em forma de L. Envolvido
por um punhado de poeira, lá estava o diamante de Elizabeth. Olhei para ele,
incrédulo. O fato de a linda pedra brilhante estar mesmo onde eu indicara me
deixou nervoso.
Peguei o
diamante com cuidado, coloquei-o na palma da mão direita e fechei os dedos. Meu
sogro desapareceu pela porta e eu o segui até a cozinha.
Elizabeth
estava na pia, arrumando a louça do jantar. Estendi a mão fechada. Ela me olhou
intrigada e eu abri os dedos devagar.
Elizabeth
não esboçou qualquer reação. Tive a impressão de que estava tão certa de que eu
não encontraria o diamante que não conseguia vê-lo. Ela começava a voltar ao
trabalho, quando tornou a se virar para mim e gritou.
Houve uma
grande comoção na casa, enquanto Elizabeth mostrava a todos repetidamente seu tesouro
recuperado. Ficou tão entusiasmada que achei que eu iria herdar a pedra ali
mesmo. Sentou-se no sofá da sala, segurando o diamante nas mãos, com uma
expressão de assombro no rosto.
- Isso
quase me faz acreditar no que considero impossível - disse ela. - Você não tem ideia
do que significa para mim reaver o diamante.
Mais
tarde, reunimo-nos na cozinha, acalmando os ânimos após a surpresa da noite. Comecei
a explicar a todos que eu poderia facilmente ter deduzido o local onde era mais
provável que o diamante estivesse. Afinal eu tinha andado de carro com
Elizabeth muitas vezes, sabia como ela segurava no volante e fazia um movimento
brusco com o punho quando ligava a seta. Eu podia imaginar a mão batendo na
maçaneta da porta, a pedra voando do anel. tudo isso estava dentro da esfera da
possibilidade.
Quando
terminei a explicação, vi os quatros rostos sorrindo para mim, os olhares
mostrando absoluto descrédito.
- Por que
você não aceita que não sabe? - perguntou Ellen.
Somente seu pai teve a gentileza de
dizer:
- Bem,
pode ter acontecido dessa maneira. Com certeza ele é um bom observador.
Mas estava
claro que a maioria dos votos era para o prodígio do inexplicável.
Posteriormente,
Elizabeth informou à seguradora que o anel havia sido encontrado e devolveu o
dinheiro que recebera como indenização quando a pedra se perdera. O presidente da empresa de seguros enviou-lhe
uma carta dizendo que ela havia restaurado sua crença na humanidade, porque era
a primeira vez que alguém devolvia o dinheiro em um caso semelhante.
Minha
maior lembrança daquela noite extraordinária foi o sorriso de Ellen. Ela
parecia certa de que fatos desse tipo - tão distantes de minha compreensão ou
das lições da ciência - eram plenamente possíveis. Conscientizei-me de que nunca mais a venceria
nas discussões sobre a validade exclusiva dos métodos científicos, e considerei
isso um preço alto a pagar por ter encontrado a preciosa pedra de Elizabeth.
Ainda assim, a alegria que irradiava de seu rosto, sentada à minha frente
admirando a pedra que brilhava em sua mão, foi compensação suficiente.
Não sei
que lição tirar desse episódio, a não ser que talvez vivamos em um lugar muito
mais surpreendente e misterioso do que imaginamos. Ter encontrado o diamante de
Elizabeth foi importante não só para ela e para a seguradora, mas também para
mim. Não sei bem por que, mas sinto-me melhor em relação à vida por causa deste
episódio. Agora eu sei - por experiência própria - quem alguns fatos só se
explicam pela fé.
Não é
possível saber tudo que gostaríamos a respeito das pessoas que amamos, de nós
mesmos, do Criador. Enfim, encontrar o diamante reservou em meu Coração e em
minha mente um lugar para o assombro diante da vida, e isso eu não trocaria por
nada nesse mundo. É uma experiência quem valorizo muito.
* * *
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